Jornal Estado de Minas

À sombra da epidemia, BH investiga 1ª morte em decorrência da dengue

Paciente apresentou sintomas no início da semana e faleceu quarta-feira. Atestado indica forma hemorrágica da doença e especialista sustenta que capital já vive quadro epidêmico

Tiago de Holanda Landercy Hemerson
Agentes fazem pulverização na tentativa de conter o avanço do mosquito na capital. No estado, número de óbitos saltou de 23 para 28 em uma semana e notificações já superam a soma dos anos de 2011 e 2012 - Foto:


Em meio ao avanço da dengue, que alarma a população, Belo Horizonte tem o primeiro registro de morte associada à doençaDe acordo com o atestado de óbito de uma mulher que faleceu na quarta-feira na capital, a paciente foi vítima de “choque hemorrágico em consequência da dengue”, segundo declaram familiaresA Secretaria Municipal de Saúde informou que vai investigar o casoA situação é preocupante também no interior do estado, onde o número de casos deste início de ano já supera a soma dos dois anos anteriores e a quantidade de óbitos, de acordo com relatório divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), saltou de 23 para 28 em apenas uma semanaO caso de BH não consta do levantamento, o que elevaria o total de diagnósticos fatais em decorrência da doença para pelo menos 29 em Minas

Diante da situação em Belo Horizonte, já há quem afirme que a cidade vive um quadro de epidemiaAs notificações mais que dobraram, passando de 7.397 para 17.510O índice de casos por 100 mil habitantes subiu de 311,19 para 737,13, alta que caracteriza epidemia, na avaliação do infectologista José Carlos Serufo, professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)“Trata-se de uma epidemia bruta, sem dúvidaExiste uma alta incidência com tendência à elevação, em um curto período de tempo e em uma área geográfica limitada”, explicaSegundo Serufo, alta incidência corresponde a taxa superior a 300 casos por 100 mil habitantes, enquanto a média incidência varia de 100 a 300.

Os dados do estado também revelam aumento descontrolado de casos da doença em várias regiões

Desde a divulgação do relatório anterior, no dia 15, o número de notificações em uma semana passou de 93.184 para 123.694 casos, um aumento de 30.510, com a média impressionante de 4.350 notificações por diaEm menos de três meses deste ano, o total já supera a soma dos casos registrados em 2011 e 2012 (113.277).

Na capital, o primeiro registro de morte provocada pela doença ocorreu no Bairro Sagrada Família, na Região LesteA vítima tinha 58 anos e, de acordo com parentes, começou a apresentar os sintomas da doença no início da semanaNa terça-feira, ela foi levada ao posto de saúde do bairro, na Avenida PetrolinaOs médicos confirmaram os sintomas e medicaram a mulher, que recebeu alta e voltou para casa.

Na quarta-feira, ela continuou a passar mal e retornou ao posto de saúdeDe lá, em razão do agravamento do seu estado, foi encaminhada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), onde morreu à noiteAinda muito abalados pela perda, parentes da paciente não quiseram falar sobre a morte, nem revelaram o nome da vítima, mas informaram que o atestado de óbito confirma o diagnóstico de dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença.

Concentração

No interior, a região mais crítica do estado continua sendo o Triângulo Mineiro, onde ocorreram 13 dos 28 óbitos confirmados pela Secretaria de SaúdeO município com mais mortes é Uberaba (9), segundo colocado em número de notificações (8.888), depois de BHMontes Claros, no Norte de Minas, confirmou três mortes, seguido por Uberlândia (2), Ituiutaba (2) e, com uma morte cada uma, Carangola, Frei Gaspar, Buritizeiro, Ipanema, Teófilo Otoni, Pirapetinga, Pirapora, São Geraldo do Baixio, São João da Ponte, Campos Altos, Muriaé e ContagemO município com maior taxa de notificações por 100 mil habitantes é Veríssimo (14.166), no Triângulo Mineiro, seguido por Ibiaí (7.756) e Lassance (6.748), no Norte, e Delta (6.118) e Centralina (5.832), também no Triângulo.

Arma pode estar no armário de limpeza


Na luta para combater os focos do mosquito transmissor da dengue – que em Belo Horizonte já mobiliza inclusive agentes com equipamentos para pulverização – a Secretaria de Estado de Saúde (SES) começou a testar uma nova e simples arma: a água sanitária, eficaz na eliminação de criatórios do mosquito Aedes aegypti e presente entre os produtos de limpeza da maioria das residências
Um teste de campo com a substância foi feito ontem em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e na segunda-feira a SES vai recomendar o uso em todo o estado.

A água sanitária será distribuída pela SES, que também repassará informações sobre o uso corretoA recomendação é de 2ml de água sanitária por litro de água, concentração considerada suficiente para o combate às larvasA SES alerta que nessa concentração o produto só deve ser utilizado para desinfecção, não sendo apropriado para consumo humano ou de animais.

O processo deve ser repetido uma vez por semana e o produto pode ser usado para a desinfecção de vasos sanitários, ralos externos e tambores de armazenamento de água não usada para consumo humanoAs autoridades sanitárias destacam que o uso do produto não elimina a necessidade de remoção e proteção dos potenciais criatórios.

Mortes em Minas

Uberaba..................9

Montes Claros.................3

Uberlândia .................2

Ituiutaba .................2

Carangola..................1

Frei Gaspar .................1

Buritizeiro.................1

Ipanema.................1

Teófilo Otoni ..................1

Pirapetinga  .................1

Pirapora..................  1

São Geraldo do Baixio.................1

São João da Ponte .................1

Campos Altos ..................1

Contagem ..................1

Muriaé.................1

Belo Horizonte .................1*

*Morte investigada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA)