A primeira morte atribuída à forma mais grave da dengue em Belo Horizonte pode ser um caso de contágio importado, embora a vítima fosse moradora da capital. A mulher, que morreu na quarta-feira, pode ter contraído a doença em Corinto, na Região Central do estado, sua terra natal. A paciente, de 56 anos, havia viajado uma semana antes para a cidade, onde uma irmã e uma cunhada também tiveram a doença. Moradora do Bairro Sagrada Família, na Região Leste da capital, ela passou a terça-feira no posto de saúde
da Avenida Petrolina, à base de soro e paracetamol. Foi liberada no início da noite, antes que saísse o resultado do exame de sangue, e voltou no dia seguinte, sentindo-se mais indisposta, com dores na nuca e nas costas. Com pressão baixa e o resultado do exame que indicava queda de plaquetas, ela foi transferida para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Lá, sofreu três paradas cardíacas e morreu às 20h25 do dia 20. O atestado de óbito, assinado pelo médico Guilherme José G. S. Pimenta, descreve a causa da morte como “choque hemorrágico de dengue – dengue”. A Secretaria de Saúde de BH não contabiliza a morte oficialmente e se limita a informar que o caso está sob investigação.O marido da vítima, que pediu para não ser identificado, disse que o casal esteve em Corinto entre 8 e 10 de março. Ao longo daquela semana, a mulher teve um pouco de febre, mas, como não havia outros sintomas, achou que fosse um resfriado simples e tomou paracetamol.
Na segunda a paciente foi ao posto e passou o dia todo em observação, tomando soro. Fez um “teste do laço” no braço e exame de sangue, que não ficou pronto a tempo. “Eles apertaram o braço dela com um material semelhante àquele usado para tirar pressão e a médica explicou que, se ela estivesse com infecção e hemorragia, apareceriam manchas, o que não aconteceu. Como não saiu o resultado, a pressão estava controlada, ela estava sem febre e o posto fechava às 19h, ela foi liberada”, contou o marido.
“Ela queria viajar para Corinto de novo, até porque amanheceu se sentindo melhor, só reclamava um pouco de moleza e mãos suadas. Mas insisti que ela voltasse ao posto, para pegar o exame. Chegando lá, soubemos que as plaquetas estavam muito baixas e ela voltou para o soro. Nos dois braços, inclusive.”
No fim da tarde, a paciente se queixou de dor na nuca e nas costas. Por causa da falta de ar, recebeu oxigênio. A médica checou a pressão, que estava muito baixa, e chamou uma ambulância do Samu para encaminhá-la ao João XXIII. “Ela era muito forte, tinha boa saúde, só tomava remédio para controlar a pressão alta”, explicou o marido. A mulher entrou acordada na ambulância, mas chegou sedada ao hospital, pouco antes das 17h.
Choque
Segundo o marido da paciente, somente às 20h45 ele pôde entrar. “O médico me disse que ela teve três paradas cardíacas e que na terceira entrou em óbito. Foi um susto enorme e perguntei do que ela tinha morrido. Ele disse claramente: choque hemorrágico de dengue.”
A vítima foi sepultada em Corinto na quinta-feira. O marido, que ainda fala dela no presente, acredita que a divulgação sobre os cuidados com a doença deveria ser mais eficiente. “Vejo falar que dengue mata, mas nem sabia que suor, febre e dor na nuca eram sintomas. Só recebi um passo a passo explicando tudo sobre a doença no posto”, diz ele. “Acho que a sociedade precisa, sim, estar atenta e fazer sua parte, mas o poder público não pode deixar de cuidar da água empoçada pelas ruas, toda vez que chove. Não adianta só deixar nas costas da população”, alerta.
A Secretaria Municipal de Saúde afirma que o caso já vinha sendo monitorado e que uma equipe de vigilância epidemiológica avalia laudos médicos, resultados de exame e histórico dos pacientes com suspeita de dengue. A investigação, segundo a secretaria, não foi concluída.