Apontar para a mercadoria, fazer mímica ao oferecer uma degustação e mostrar a nota de real que corresponde ao valor do produto são estratégias que os comerciantes do Mercado Central, em Belo Horizonte, utilizam para não perder venda para turistas estrangeiros. O inglês ainda está longe de ser idioma fluente nas lojas do tradicional estabelecimento comerical, mas os atendentes já podem contar com a ajuda de uma cartilha – onde constam, por exemplo, informações de países, telefones úteis e guia rápido de conversação – para que se sintam mais seguros na hora de interagir com os clientes de fora. O material chega para complementar a preparação dos trabalhadores para a Copa do Mundo, que também têm a oportunidade de estudar inglês gratuitamente. A primeira turma do nível básico se forma no mês que vem.
Mesmo sem falar uma palavra em inglês, Eduardo Carlos de Campos, de 49 anos, supervisor do Empório Ananda, garante que não deixa de vender. “Só de olhar para o cliente consigo entender o que ele quer.” A loja atrai a atenção dos turistas por oferecer produtos exóticos, como a castanha do baru, conhecida como amendoim do sertão, vinda do cerrado de Goiás. Para atender um casal francês, ele conta que usou mímicas. Outro que se comunica apenas em português, o balconista do Ponto do Queijo Vagner Gonçalves Pereira, de 31, segue à risca a dica da cartilha de sorrir sempre. “Consigo ganhar o cliente pela simpatia. Queijo tem em todo lugar, então o atendimento que vai fazer diferença”, pontua. O atendente também acha importante oferecer degustação, como orienta a diretoria, pois o turista precisa sentir o sabor de Minas. Os produtos mais vendidos para estrangeiros são goiabada, doce de leite e queijo canastra.
A expectativa é de que o movimento nos corredores do Mercado Central aumente 15% na época da Copa do Mundo, por isso o superintendente Luiz Carlos Braga quer ajudar os colaboradores a oferecer bom atendimento aos clientes estrangeiros. “O Mercado Central é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Belo Horizonte, que resume a cultura da cidade, além de ser ponto de encontro. Queremos sugerir ao comerciante como agir, pois ele está vendendo a nossa imagem e atraindo turistas, que não vão ficar só em Copacabana, Avenida Paulista e praias do Nordeste”, observa. Braga destaca que esta é uma oportunidade de lembrar que a cortesia deve estar sempre presente no dia a dia.
“Não quero só receber bem o cliente. Quero que ele leve uma boa impressão do Mercado e volte depois com outros turistas”, ressalta o comerciante Ricardo Campos Vasconcelos, de 44, um dos 60 alunos do curso de inglês oferecido em parceira com a Secretaria de Turismo e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). À frente da Ferradista Líder, que vende para os estrangeiros muito cadeado para mala e adaptador de tomada, ele já consegue oferecer ajuda, dizendo “Can I help you?”, e muitas vezes pede calma com o “speak slowly”. “Se ele não encontra o que procura aqui dentro, tento dar pelo menos um norte.”
Além do cardápio
Antes de começar a estudar inglês, Alexandre Vital, de 35, garçom do Restaurante Casa Cheia, tirou uma cópia do cardápio para traduzi-lo. Ele já sentia a necessidade de se preparar para receber os estrangeiros, pois se comunicava apenas por meio de gestos. Agora está empolgado com o resultado. “Pensava só em entender o cliente, mas já estou conseguindo falar. Para mim, faz muita diferença.” Alexandre revela que sabe dizer o básico de comida e bebida, como arroz, batata, cerveja e suco de laranja. Depois que concluir o curso do Senac no Mercado Central, que vai do básico ao avançado, ele pretende seguir os estudos em uma escola particular.
Conhecimento para o resto da vida
João Paulo Pena de Oliveira
Segurança
“A Copa do Mundo vai durar um mês, mas o conhecimento é para o resto da vida.” Com essa frase, o segurança João Paulo Pena de Oliveira, de 31 anos, resume bem a motivação para estudar inglês. Quatro dias por semana, ao fim do expediente, ele faz aulas no Mercado Central e ainda reserva tempo para estudar em casa, além de treinar na frente do espelho e conversar com a esposa, como se ela fosse turista. Se antes João Paulo não se arriscava a falar com os clientes estrangeiros, agora ele consegue advertir quem está descalço ou fumando, indicar o ambulatório e dar informações sobre linhas de ônibus. “Isso me permite novas possibilidades profissionais e me traz realização pessoal. Antes, achava o inglês um bicho de sete cabeças”, diz.