O MPMG não divulgou a identidade das pessoas presas, mas citou que um dos médicos é conhecido como Doutor CássioUm foi localizado e preso em Passos, no Sul de Minas, e o outro detido no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, no momento em que desembarcou no terminal, retornando de São PauloAs outras quatro pessoas foram presas na capitalInicialmente o MP informou que foram presas 26 pessoas durante a operação, mas efetivamente estão presas 24 – seis em BH e 18 no interior paulista.
A 'Operação Vida', como foi chamada, foi deflagrada em março de 2012 após representação formal da denúncia junto à Coordenadoria Estadual de Combate aos Crimes CibernéticosSegundo o MP, a quadrilha utilizava sites na internet para oferecer o serviço à mulheres que desejavam interromper a gravidezO preço médio cobrado em BH variava entre R$ 3 mil e R$ 6 mil reais
Para identificar todos os integrantes da quadrilha e compreender qual a efetiva participação de cada um, a Justiça autorizou o Ministério Público a fazer interceptações telefônicas dos números indicados nos sites em que o grupo divulgava os serviçosOs dois núcleos da quadrilha, em BH e Diadema, atuavam de forma colaborativa, indicando interessadas um ao outro.
A denúncia foi formalizada ao MP em setembro de 2011, após ser divulgada uma reportagem, em um site noticioso local, sobre uma clínica em área nobre da cidade que cobrava R$ 3 mil para realizar abortosO MP não soube precisar quando a clínica iniciou as atividades, mas sabe-se que ao menos desde 2007 ela oferecia o serviçoDesde o início das investigações a Coordenadoria conseguiu comprovar a realização de 70 abortos em BH.
Segundo o MP, durante as investigações foi evidenciada a participação nesta organização criminosa de agente públicos e policiais civisEles seriam pagos para proporcionar segurança aos integrantes do grupoAs investigações são mantidas para identificar os policiais que acobertavam o esquema.
Crime
No Brasil, o aborto é considerado crime, previsto no Código Penal entre os Crimes Contra a VidaA pena para quem provoca o aborto com o consentimento da gestante varia de 1 a 3 anos de prisãoSe for sem o consentimento da mãe, pode chegar a 10 anos de reclusãoAlém de responderem criminalmente por aborto, os presos nesta operação do MP podem ser indiciados também por formação de quadrilha, com pena de reclusão de 1 a 3 anos de prisão
Na última semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM), pela primeira vez, se manifestou sobre o assuntoO órgão recomendou ao Senado a liberação do aborto até a 12ª semana de gestaçãoA recomendação dos conselheiros é válida em caso de gravidez por emprego não consentido de técnica de reprodução assistida; anencefalia ou feto com graves e incuráveis anomalias, atestado por dois médicos ou por vontade da gestante, dentro das 12 primeiras semanas, quando o médico constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas para a maternidade
No parecer enviado ao Senado, o CMF destacou que não é a favor do aborto, mas da autonomia do médico e da mulherDe acordo com o órgão, o abortamento responde por grande parte da mortalidade materna no paísAlém disso, complicações em decorrência do aborto representam a terceira causa de ocupação dos leitos obstétricosLevantamento realizado no Sistema Único de Saúde (SUS) apontou que, em 2011, foram realizadas 243 mil internações por curetagens após aborto em todo o Brasil.