Emergência- Pacientes precisam aguardar até do lado de fora de hospitais como o Belo Horizonte, sobrecarregados com a explosão da procura - Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS Com 28 mortes confirmadas, pelos menos mais duas sob investigação e mais de 120 mil casos suspeitos de dengue em Minas, governo do estado e Prefeitura de Belo Horizonte pela primeira vez assumem enfrentar um quadro de epidemiaE os secretários estadual e municipal de Saúde admitem que a situação – que já superlota hospitais e outras unidades de saúde, tanto públicos quando privados – ainda não chegou ao seu pior momentoA previsão é de que o número de doentes aumente significativamente até a segunda quinzena de abril, quando deve haver o pico de contágio pelo mosquito transmissorDiante da constatação da situação crítica, a rede de saúde procura se reestruturar e reforçar as equipes médicas para dar conta da demandaUma das principais justificativas para o avanço preocupante da doença é a circulação do sorotipo 4 do vírus, para o qual a população não está imunizadaPorém, apesar de reconhecer que essa circunstância pesou, especialistas como o coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Carlos Starling, consideram que houve falhas na prevenção.
Veja infográfico sobre a doença
O número de notificações no estado até agora (123.694) já corresponde a quase três vezes o total registrado em todo o ano passado (46.681) e pode ser considerado tão grave quanto a situação de 2010, quando houve mais de 268 mil casos suspeitos em MinasDiante do quadro, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) promete investir R$ 4,5 milhões na contratação de profissionais de saúde e agentes de combate a endemiasJá a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que passou a abrir postos nos fins de semana, inaugura hoje um contêiner especializado no tratamento de pessoas com sintomas da dengueA estrutura está funcionando ao lado da Unidade de Pronto-Atendimento Venda NovaNa rede particular, corrida pela contratação de médicos e enfermeiros, além do remanejamento de equipes, em uma tentativa de diminuir a espera dos pacientes em filas de até seis horas.
As autoridades de saúde atribuem a epidemia, principalmente, ao sorotipo 4 da doença, que, depois de 30 anos sem ocorrências, voltou a ser diagnosticado em 2011“A velocidade de transmissão e a agressividade da epidemia estão muito maiores do que nos anos anteriores, quando já havia a circulação dos outros sorotipos
Tínhamos uma previsão de piora, mas não se imaginava um número tão expressivo”, afirma o secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques.
Em Belo Horizonte são 4.215 casos confirmados, sendo um de febre hemorrágica – forma mais grave da doençaOutras 8.644 ocorrências estão sob investigação e o quadro também é tratado como epidêmico“Há cálculos específicos para definir uma epidemia, mas não estamos nos atendo a númerosEstamos agindo de modo a superar esse quadro”, afirma o secretário municipal de Saúde, Marcelo Teixeira
pressão - No Semper e no Socor, equipes médicas não dão conta de atender toda a demanda, nem mesmo depois de reforço - Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS Depois de ver duplicar o número de casos suspeitos de janeiro para fevereiro, o Hospital Mater Dei, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de BH, prevê que no balanço de março haja o triplo de ocorrências em relação ao mês passadoO quadro levou a instituição a adotar uma série de medidas, entre elas o treinamento concentrado na doença, o aumento do número de profissionais em todos os turnos, além da ocupação da área exclusiva de epidemiaOutro cuidado foi a coleta de sangue preferencial no laboratório para pacientes com suspeita de contágioA demanda foi tanta neste mês que equipes médicas, de enfermagem e laboratório tiveram que se deslocar dos ambulatórios para o pronto-socorro para ajudar no atendimento.
No pronto-socorro do Hospital Semper, no Centro, não tem sobrado uma cadeira vazia na sala de espera, onde os pacientes chegam a aguardar até seis horas para conseguir atendimentoDe acordo com a gerente assistencial da instituição, Alessandra Fantaguzzi Praça, com a epidemia o movimento cresceu cerca de 50%, saltando de 400 para 600 pacientes por diaUma verdadeira operação de emergência foi montada no hospital, para dar conta da demanda
“Houve sobrecarga a partir do fim de fevereiroDobramos as equipes médicas nos fins de semana e aumentamos os plantonistas de dia e à noite”, contaMas nem assim a situação está controlada“Os pacientes têm esperado de quatro a seis horas”, reconhece a gerente.
A sobrecarga também é realidade no Hospital Socor, no Barro Preto, Região Centro-SulDe acordo com a chefe de enfermagem, Ana Célia Duarte Pinto, a demanda no pronto-socorro aumentou 30%“Na comparação com o ano passado, os atendimentos a casos da doença subiram 81% nos meses de janeiro e fevereiro”, ressaltaProstrados e recebendo hidratação, metade dos pacientes na sala de observação apresenta sintomas típicos da dengue.
- Foto: “Reforçamos os plantões e apressamos o preenchimento da notificação à secretaria, mas nossa área física é pequena e não conseguimos oferecer estrutura adequada a todos os pacientes”, afirma um dos diretores do Socor, José Henrique Alencar FontesAinda na sala de espera, a estudante Morgana Pinheiro, de 16, teve que aguardar sua vez em péO corpo dolorido a as manchas vermelhas na pele são sinais de alertaApesar do mal-estar, a garota nem se importava com a demora“Fui a um posto de saúde no Jaraguá (Região da Pampulha) e lá disseram que teria que agendar e que só me atenderiam no dia seguinteAqui está cheio, mas vão me atender em duas horas”, resignava-se.
Palavra de especialista
Carlos Starling
Vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
Combate ininterrupto
“A situação em Minas pegou as autoridades de surpresaA circulação do sorotipo 4 do vírus da dengue encontrou muitas pessoas sem imunidade e fez aumentar o número de casos, mas a intensificação de medidas preventivas poderia ter minimizado o problemaO avanço da doença no estado foi muito superior ao que se esperava, mas as ações de combate ao mosquito não deveriam ocorrer somente durante a epidemiaO combate deve acontecer o ano inteiro, em conjunto com medidas preventivas individuais, colocadas em prática pela própria população.”