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Estado de Minas LINHA DO ESTRESSE

EM embarca na linha 9250 e ouve de usuários e trabalhadores que rota é a pior da BHTrans

Um dia depois de motorista surtar e largar o ônibus cheio na Avenida Mário Werneck, EM embarca no coletivo


postado em 29/03/2013 00:12 / atualizado em 29/03/2013 08:01


Depois da tempestade, uma quase calmaria. A reportagem do Estado de Minas subiu ontem em um ônibus da linha 9250 (Nova Cintra-Caetano Furquim), um dia depois que o motorista de um dos veículos que fazem o itinerário abandonou o coletivo lotado na Avenida Professor Mário Werneck, no Bairro Estoril, Região Oeste de Belo Horizonte. O homem de 60 anos se desentendeu com uma passageira e foi embora a pé. Em agosto do ano passado, decisão idêntica foi tomada por um colega que percorre o mesmo trajeto, dessa vez após ter sua passagem impedida por uma caminhonete estacionada em local proibido. E a rotina estressante dos condutores pode fazer com que a atitude extrema volte a se repetir.

Em uma atípica manhã de quinta-feira, véspera de feriado, há menos passageiros esperando nos pontos de ônibus e o número de carros nas ruas também diminui. Com as mãos no volante de um dos veículos da linha 9250, José Antônio Amaro, de 52 anos, permite-se cantarolar. As músicas se sucedem no rádio de pilha que ganhou de aniversário e pôs ao lado de seu banco. Cordial, ele cumprimenta passageiros que entram e saem. Com alguns, conversa e até graceja. Porém, logo desfaz a impressão de que tudo vai bem. “Tem passageiro que tem carinho conosco, mas tem gente que pega carona comigo há anos e não dá um bom-dia”, diz Amaro, motorista de ônibus há 31 anos e há sete responsável por guiar um dos veículos que unem os bairros Caetano Furquim, na Região Leste, e Nova Cintra, na Oeste.

Conflitos com passageiros ocorrem diariamente, relatam Amaro e o cobrador Ronaldo Pereira, de 27. Segundo a dupla, os usuários costumam se queixar dos atrasos e do fato de o veículo estar frequentemente lotado. Às vezes, o coletivo sai abarrotado do terminal e, por isso, não atende ao chamado de passageiros nos pontos de embarque. Há menos de um mês, um rapaz mal subiu no carro, na Avenida Getúlio Vargas, no Funcionários, e já anunciou que não pagaria a passagem. “Ele disse que o ônibus estava muito atrasado, que o motorista fica fazendo hora, andando devagar”, lembra Ronaldo. O motorista retrucou: só continuaria a viagem se o outro pagasse o devido. “Falei que ele aprenderia a me respeitar”, conta Amaro. O cobrador teve que intervir quando o passageiro ameaçou partir para cima do colega. A discussão continuou até uma mulher se erguer e decidir bancar a passagem do brigão. “O cara se sentou lá trás e continuou xingando”, acrescenta Ronaldo.

Surto

Amaro se surpreendeu com a atitude do colega que abandonou um ônibus na quarta-feira e deixou 50 passageiros para trás. “Ele é sossegado, mas, para extravasar a raiva, tomou uma decisão prejudicial a ele e aos usuários”, avalia. Porém, o próprio Amaro, de aparência tranquila, já pensou em fazer o mesmo. “Muitas vezes senti vontade de largar o carro, pegar minhas coisas e ir para casa”, relata. Em entrevista ao EM publicada na edição de ontem, motorista identificado apenas como A.P.S. contou ter “surtado” depois de ser chamado de “mentiroso” por uma passageira, que não acreditou quando ele, pedindo para algumas pessoas aguardarem a chegada de veículos menos cheios, disse que dois vinham logo atrás. Amaro também já sofreu esse insulto ao fazer a mesma recomendação. “O usuário tem razão em reclamar, mas somos trabalhadores. A culpa é do sistema, da BHTrans”, diz.

Os 40 ônibus da linha 9250 transportam uma média de 19,3 mil passageiros em dias úteis, segundo dados da BHTrans. Eles perfazem, somados os trechos de ida e volta, um total de 56,6 quilômetros e param em 197 pontos de embarque, um dos itinerários mais longos entre os coletivos da capital. A distância percorrida é uma das razões para o cansaço sentido por motoristas e cobradores. “Sem dúvida, é uma das linhas mais estressantes”, confirma Amaro. Ele e Ronaldo fazem duas ou três viagens por dia, que, segundo eles, devem ser cumpridas em cerca de três horas. “Mas tem vez que a gente só consegue fazer em três horas e 40 minutos, quatro horas. Depende do trânsito”, explica o motorista. A preocupação em não ultrapassar o prazo e os inevitáveis engarrafamentos contribuem para exaltar os ânimos. “É comum a gente andar mais de seis horas quase sem parar, para não atrasar ainda mais”, conta Ronaldo.

Passageiros

Os problemas persistem e os passageiros sofrem com a desditosa 9250. “Essa é a pior linha que existe. Sempre está lotada”, reclamou uma mulher, que não quis se identificar, mas disse que mora no Bairro Buritis, Região Oeste. A diarista Alessandra Mariano, de 29, concorda. “É difícil demais esse ônibus. Chegam a passar dois ou três sem parar no ponto de tão cheios. Fico 40 minutos, uma hora esperando um mais vazio. E chego atrasada ao serviço por causa disso, mas a patroa não acredita”, queixa-se ela, que trabalha em casas no Buritis e no Gutierrez, bairro na mesma região. Embora sofra com os mesmos aborrecimentos, a enfermeira Celeste de Oliveira, de 61, defende os motoristas: “Eles deviam andar menos. Alguns precisam correr para fazer o horário. Quando param no terminal, mal têm tempo para comer ou ir ao banheiro. É por isso que eles se estressam tanto”.

O futuro do motorista A.P.S. continua incerto na Viação Anchieta, em que trabalha. A empresa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o funcionário ainda não se reapresentou para se manifestar sobre o ocorrido. Ele teria dito apenas que procuraria atendimento médico particular.


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