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Estado de Minas

Celebração da Páscoa em Ouro Preto reuniu 4 mil pessoas sob chuva

Ouro Preto volta a se enfeitar no domingo de Páscoa, para emoção de moradores e turistas. Sob chuva fina, procissão no início da manhã reuniu cerca de 4 mil pessoas


postado em 01/04/2013 06:00 / atualizado em 01/04/2013 07:37

Flávia Ayer

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Nas ladeiras de Ouro Preto, religiosidade, tradição e encantamento se misturam em mais de três séculos de história, num costume que atrai olhares do mundo inteiro. Depois de 40 dias de recolhimento durante a quaresma, a antiga capital de Minas, na Região Central do estado, se enfeitou para comemorar a ressurreição de Jesus Cristo e saudar o domingo de Páscoa. Desde à 7h, o repique dos sinos anunciava uma vida renovada. As toalhas nas sacadas e os tapetes de serragem nas ruas ornamentavam o percurso por onde passou a procissão da Ressurreição, repleta de anjos, personagens bíblicos, fiéis e muitos, muitos turistas.

Diferentemente dos anos anteriores, o ponto de partida foi a Igreja de São Francisco de Assis, e não a Igreja de Nossa Senhora do Conceição, no Bairro Antônio Dias, interditada em fevereiro por risco de desabamento. Guiado pelo Santíssimo Sacramento, o cortejo seguiu até a Basílica Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico, elevada a “casa do papa” em dezembro do ano passado. Em Ouro Preto, a tradição reza que, em anos pares, a procissão sai da Nossa Senhora do Pilar e, nos ímpares, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, da qual a Igreja São Francisco de Assis faz parte.

Ao som da Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores, cerca de quatro mil pessoas, de acordo com a Guarda Municipal, seguiram debaixo de chuva fina ao longo de quase dois quilômetros de procissão. A garoa conferiu clima mais introspectivo à celebração. “A Páscoa é a razão da nossa esperança e o fundamento da fé. Jesus ressuscitou, somos vitoriosos e chamados a viver. É tempo de renovar os bons propósitos da vida, pois somos instrumentos para um mundo melhor”, afirma o padre Marcelo Moreira Santiago, titular da Paróquia do Pilar.

E viver esse momento na procissão de Ouro Preto tem um sentido especial para a aposentada Maria Inácia, de 65 anos. “Traz paz e prosperidade”, diz. O envolvimento da comunidade na festa religiosa impressionou a professora Maria das Graças Matos, de 64, que veio do Rio de Janeiro para participar das celebrações. Eram quase 9h e Maria concluía uma empreitada de mais de 12 horas nos preparativos da procissão, montando tapetes de serragem ao longo de toda a madrugada e debaixo de chuva fina. “Achei fantástica a fé das pessoas e a dedicação delas é inexplicável”, conta.

O agrônomo japonês Takeo Maezawa, de 35, que se mudou em janeiro para São Paulo, definiu com precisão oriental a experiência. “É única, uma manifestação que não existe em nenhum outro lugar”, diz Takeo, sem deixar de registrar nenhum momento. E, a cada passo, uma nova surpresa diante de figuras bíblicas do antigo e novo Testamento. Sem contar os anjos, 137 personagens, desde o Rei Salomão a Barrabás, seguem pela procissão.

Por trás disso tudo, está a ouro-pretana Irene do Sacramento, de 71, que não larga o ofício nem na hora de conceder entrevistas. Entre um alfinete e outro, ela fala da satisfação em montar a procissão. “Só de o pessoal ter a alegria e a oportunidade de participar dessa tradição, fico feliz”, diz a professora aposentada, que há mais de 30 anos coordena as figuras bíblicas. Para 2015, quando a paróquia volta a organizar a procissão, Irene já recebeu mais de 70 inscrições. “Tem muita gente nova querendo participar”, conta, satisfeita.

Anjos na procissão


dadeee carregada de história, os novos filhos de Ouro Preto abraçam a tradição e dão continuidade aos costumes. Desde cedo as crianças aprendem a participar e valorizar a procissão da Ressurreição, no domingo de Páscoa. E, como quem ama cuida, os pequenos garantem a perpetuação do ritual. Aos 9 anos, Thaís Romualdo da Silva já é veterana na procissão e faz questão de vestir de anjo todos os anos, além de ajudar na confecção dos tapetes. “O segredo é colocar a serragem nas formas e organizar cada uma de uma cor diferente”, explica.

A mãe dela, Glória Romualdo da Silva, de 44, conta que o hábito de se vestir de anjo e acompanhar a procissão é uma tradição de família. “Todos lá em casa participam e, desde bebê, a Thaís se veste assim. Quando a roupa fica pequena, a prima mais velha passa para a mais nova”, diz. Nascido em Ouro Preto, Mateus França, de 11, registrava com sua máquina fotográfica todos os detalhes: do São Francisco de Assis feito de serragem aos personagens bíblicos que passavam.

Ano que vem, ele sonha com uma vaga entre os personagens bíblicos. E, se depender da habilidade em identificá-los, o posto já é dele. “É porque fiz catequese e aprendi umas figuras da Bíblia”, explica o garoto, bem envolvido no cotidiano da igreja. “O padre me considera mais da irmandade do que muita gente, mas só vou poder fazer parte quando completar 18 anos”, diz.


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