Sorrisos, beijos e abraços em fotos nas redes sociais que logo ganharam espaço na imprensa mostram Daniela Mercury, cantora baiana de 47 anos, assumindo publicamente um relacionamento amoroso com a jornalista Malu Verçosa. Rapidamente elas receberam milhares de manifestações de apoio e votos de um casamento feliz. Mas, bem longe do cotidiano de celebridades como a estrela do axé estão mulheres comuns, Danielas que vivem ao lado de suas namoradas ou companheiras a mesma vontade de expressar seus sentimentos e receber felicitações. Ou ,pelo menos, de viver sem discriminação. Mas, ao contrário, convivem com medo, incerteza e preconceito. E, segundo especialistas, até mesmo temendo levar essa insegurança a público. Tanto que, dos 453 acompanhamentos feitos no ano passado pelo Núcleo de Atendimento e Cidadania a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (NAC-LGBT), da Polícia Civil, apenas 9% são casos envolvendo mulheres.
A estudante V., de 30 anos, queria ter a liberdade de fazer um carinho na namorada, C., professora de 33, quando elas estão na fila do teatro. Às vezes, a carícia nos cabelos é automática, em outras causa apreensão ao casal. Juntas há pouco mais de quatro anos, elas ainda têm medo da exposição. “Tenho vontade de agir mais livremente”, afirma C., que evita redes sociais, para preservar a vida particular. Ela contou à família sua opção aos 24 anos. Foi difícil, disse, mas o tempo passou, ela foi paciente e os pais agora agem com mais naturalidade. C. diz que os parentes até se manifestam em favor das causas LGBT, algo difícil de imaginar em outros tempos. Mas essa realidade fica apenas entre os mais próximos. No trabalho, ninguém sabe que a professora é lésbica, e ela pretende que a situação continue assim.
V. se revelou para a família aos 19 anos, mas diz ainda sofrer com a falta de liberdade. “Você tem que ficar se vigiando o tempo inteiro, o que vai falar, não pode passar a mão no cabelo da outra pessoa, porque olham diferente, parece até uma agressão. Se fosse uma amiga qualquer, ninguém interpretaria de forma negativa. É muito ruim”, disse. No bar, quando as duas saem para tomar uma cerveja juntas, as mãos se encontram debaixo da mesa. “É muito constrangedor. Seria muito bom que as pessoas vissem de uma forma natural.” Mesmo com os desafios, elas pensam em se casar e em criar um filho. “É uma pessoa que nunca imaginei que fosse encontrar, queremos viver o máximo de tempo juntas”, declarou V.
Jailane, servidora pública de 26 anos, e Ana Carolina, professora de 25, enfrentaram família, levantaram a bandeira, se mudaram para um apartamento na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, e, juntas, criam um filho de 9 anos. Mesmo tão novas, sabem o que querem: “Somos uma família, com companheirismo, respeito, amizade e amor, que é fundamental”, disse Jailane. Até chegar a essa maturidade, encontraram percalços. O último deles há menos de um ano, quando em um bar os três juntos receberam a conta do garçom sem que a tivessem pedido. Questionaram e receberam a resposta: “Aqui é um ambiente familiar”. Se indignaram e rebateram: “Não estão reconhecendo uma família?”. Essa foi uma das várias vezes que foram expulsas de estabelecimentos. Em duas, chamaram a polícia. “No meu caso foi complicado assumir, mas foi bom quando decidi. Não poderia ficar me escondendo, existia algo maior, que é o amor”, contou Ana.
Em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, P., advogada de 49 anos, viveu incertezas, como Daniela Mercury. Foi casada por 25 anos, teve quatro filhos, mas não era feliz. Há quatro anos vive com a auxiliar de escritório P.V., de 28. “Você não pode viver negando quem é”, disse. Levar a público o que sentem ainda é difícil, dizem. “Fui agredida fisicamente e verbalmente quando assumi minha opção sexual, até mesmo por pessoas da minha família. Para meus filhos foi muito difícil. Eles ficaram um tempo afastados, mas agora temos uma boa convivência. Até hoje há pessoas que viram a cara quando me veem na rua”, contou. P. e P.V. criam juntas um filho de 2 anos, que chama ambas de mãe. “Temos uma família abençoada”, disse a advogada. “Ser gay, lésbica, bissexual não é vergonha. Precisamos continuar lutando para conseguir o respeito da sociedade”, completou.
Casamento
A técnica de enfermagem Vanderleia, de 34, e a companheira, Rivane, de 40, moram em Montes Claros, no Norte de Minas. Na segunda-feira elas pretendem oficializar a união no cartório da cidade. Rivane assumiu a homossexualidade há apenas três meses, quando o relacionamento começou. Elas tentam não se importar com o que os outros falam, mas sofrem. “Por causa dessa resistência, precisamos ser comedidas nas manifestações de carinho em público”, disse a técnica de enfermagem, que, aos 22 anos se casou com um homem. A relação, porém, durou apenas quatro anos.
Todas as mulheres que contaram suas histórias concordam com a atitude da cantora baiana. Acreditam que a revelação vai contribuir para a diminuição da homofobia e dos crimes de preconceito. Mas a professora C. tem uma opinião particular: “Acho que ela também sofreu muito. Ela não virou lésbica da noite para o dia; tem filhos criados, foi casada... Com certeza também enfrentou muitas dificuldades”.
A estudante V., de 30 anos, queria ter a liberdade de fazer um carinho na namorada, C., professora de 33, quando elas estão na fila do teatro. Às vezes, a carícia nos cabelos é automática, em outras causa apreensão ao casal. Juntas há pouco mais de quatro anos, elas ainda têm medo da exposição. “Tenho vontade de agir mais livremente”, afirma C., que evita redes sociais, para preservar a vida particular. Ela contou à família sua opção aos 24 anos. Foi difícil, disse, mas o tempo passou, ela foi paciente e os pais agora agem com mais naturalidade. C. diz que os parentes até se manifestam em favor das causas LGBT, algo difícil de imaginar em outros tempos. Mas essa realidade fica apenas entre os mais próximos. No trabalho, ninguém sabe que a professora é lésbica, e ela pretende que a situação continue assim.
V. se revelou para a família aos 19 anos, mas diz ainda sofrer com a falta de liberdade. “Você tem que ficar se vigiando o tempo inteiro, o que vai falar, não pode passar a mão no cabelo da outra pessoa, porque olham diferente, parece até uma agressão. Se fosse uma amiga qualquer, ninguém interpretaria de forma negativa. É muito ruim”, disse. No bar, quando as duas saem para tomar uma cerveja juntas, as mãos se encontram debaixo da mesa. “É muito constrangedor. Seria muito bom que as pessoas vissem de uma forma natural.” Mesmo com os desafios, elas pensam em se casar e em criar um filho. “É uma pessoa que nunca imaginei que fosse encontrar, queremos viver o máximo de tempo juntas”, declarou V.
Jailane, servidora pública de 26 anos, e Ana Carolina, professora de 25, enfrentaram família, levantaram a bandeira, se mudaram para um apartamento na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, e, juntas, criam um filho de 9 anos. Mesmo tão novas, sabem o que querem: “Somos uma família, com companheirismo, respeito, amizade e amor, que é fundamental”, disse Jailane. Até chegar a essa maturidade, encontraram percalços. O último deles há menos de um ano, quando em um bar os três juntos receberam a conta do garçom sem que a tivessem pedido. Questionaram e receberam a resposta: “Aqui é um ambiente familiar”. Se indignaram e rebateram: “Não estão reconhecendo uma família?”. Essa foi uma das várias vezes que foram expulsas de estabelecimentos. Em duas, chamaram a polícia. “No meu caso foi complicado assumir, mas foi bom quando decidi. Não poderia ficar me escondendo, existia algo maior, que é o amor”, contou Ana.
Em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, P., advogada de 49 anos, viveu incertezas, como Daniela Mercury. Foi casada por 25 anos, teve quatro filhos, mas não era feliz. Há quatro anos vive com a auxiliar de escritório P.V., de 28. “Você não pode viver negando quem é”, disse. Levar a público o que sentem ainda é difícil, dizem. “Fui agredida fisicamente e verbalmente quando assumi minha opção sexual, até mesmo por pessoas da minha família. Para meus filhos foi muito difícil. Eles ficaram um tempo afastados, mas agora temos uma boa convivência. Até hoje há pessoas que viram a cara quando me veem na rua”, contou. P. e P.V. criam juntas um filho de 2 anos, que chama ambas de mãe. “Temos uma família abençoada”, disse a advogada. “Ser gay, lésbica, bissexual não é vergonha. Precisamos continuar lutando para conseguir o respeito da sociedade”, completou.
Casamento
A técnica de enfermagem Vanderleia, de 34, e a companheira, Rivane, de 40, moram em Montes Claros, no Norte de Minas. Na segunda-feira elas pretendem oficializar a união no cartório da cidade. Rivane assumiu a homossexualidade há apenas três meses, quando o relacionamento começou. Elas tentam não se importar com o que os outros falam, mas sofrem. “Por causa dessa resistência, precisamos ser comedidas nas manifestações de carinho em público”, disse a técnica de enfermagem, que, aos 22 anos se casou com um homem. A relação, porém, durou apenas quatro anos.
Todas as mulheres que contaram suas histórias concordam com a atitude da cantora baiana. Acreditam que a revelação vai contribuir para a diminuição da homofobia e dos crimes de preconceito. Mas a professora C. tem uma opinião particular: “Acho que ela também sofreu muito. Ela não virou lésbica da noite para o dia; tem filhos criados, foi casada... Com certeza também enfrentou muitas dificuldades”.