Um dos maiores mitos em torno do mosquito é de que todos os insetos da espécie Aedes são transmissores da dengue. De acordo com o pesquisador do setor de malária da Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz-MG), Luciano Andrade, os mosquitos não nascem com o vírus. “Apenas as fêmeas que transmitem o vírus e, em média, um em cada mil mosquitos estão infectados”, diz. Cerca de 70% dos casos da doença no Brasil concentram-se no período de chuvas, entre janeiro e maio, com exceção das regiões Norte e Nordeste, nas quais as chuvas começam mais tardiamente e se estendem até julho. No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, o país tem condições climáticas favoráveis à proliferação do mosquito durante todo o ano. O grande problema é que o Aedes aegypti se adapta facilmente às mudanças climáticas e a fêmea coloca ovos em locais com água e sombra, diferentemente de outras espécies, cuja postura ocorre em único local.
E mais: o ovo do mosquito da dengue pode sobreviver até um ano sem contato com a água e, se for molhado, eclode. Se ele estiver contaminado com o vírus da dengue, a situação se agrava. O inseto contrai o vírus ao picar um ser humano com a doença. Esse vírus leva de 10 a 15 dias para se desenvolver no organismo do mosquito, vai para o estômago dele e depois para as glândulas salivares. Nessa fase, ele já é um transmissor. “Há esse tempo de incubação (de 10 a 15 dias). Se ele picar alguém doente e logo depois picar outra pessoa, ele ainda não vai transmitir a doença naquele momento”, explica o pesquisador. De acordo com Luciano, há ainda a hipótese genética de a fêmea passar o vírus para os filhotes. “Mas não há nada confirmado cientificamente”, destaca.
Segundo o pesquisador da Fiocruz, as principais características do Aedes aegypti são as patas listradas e uma figura nas costas semelhante a uma lira (instrumento musical). Ele tende a ficar perto do ambiente onde tem abrigo, alimento e proteção – água limpa e parada, onde deposita seus ovos. Qualquer reservatório pode ser um local em potencial para a reprodução do Aedes: desde os tradicionais pratinhos de planta, passando pelos vasilhames de água de animais e até uma tampinha de garrafa que esteja acumulando água. A fase ovo dura cerca de duas semanas. Quando nasce, a larva sobrevive por cerca de uma semana até se tornar adulta, na fase mosquito. “Ele costuma ter uma vida útil de cerca de 30 dias na natureza”, acrescenta.
O inseto não voa muito alto. Ainda assim, quem mora em andares superiores de prédios não está livre do problema. “Ele pode voar para longe em corrente de ar, caso haja um vento forte. Mas essa dispersão é muito baixa. O mosquito pode também subir pelo elevador junto com as pessoas”, afirma.