Jornal Estado de Minas

Militantes da causa animal se movimentam contra pregão de cães da PM

Qualquer pessoa poderá arrematar cachorros de raça dispensados da PM

Jaqueline Mendes
- Foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press
O leilão que vai decidir o destino de Odim, Atos, Naruto, Angra, Néon, Aziza, Anny, Alva, Alma e Mark, previsto para terça-feira, dia 16, mobiliza ativistas do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA)Os sete labradores e os três pastores, policiais, saudáveis e bem cuidados, têm entre 2 e 8 anos e fazem parte do agrupamento de 93 animais do canil da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), no Bairro Saudade, Região Leste de Belo HorizonteDefensores dos bichos querem impedir o remate e levá-los à adoção responsável"Nós gostaríamos que eles ficassem com os próprios militaresOs cães se apegamNão podem ser arrematados e ir para a casa de qualquer um, simplesmente", sugere Graça Leal, de 63.


Há 10 anos na militância da causa dos animais, a professora e ativista teme que os cães "caiam nas mãos de criadores" ou de gente covarde, de pouca responsabilidadeReconhece que os bichos são bem tratados pela PM, mas não aceita a ideia de "comercialização"Não acha correto o leilão"Não queremos polêmica com a políciaQueremos apenas o melhor para os cães", defendeGraça, da Comissão Institucional de Saúde Humana na Relação com os Animais, do Conselho Municipal de Saúde, acredita em diálogo pacífico pelo melhor futuro dos cães policiais, já que, casada com coronel, diz saber do carinho e respeito que os policiais têm pelos companheiros de quatro patas.

Alheios à mobilização dos ativistas, os cães esperam os desdobramentos da ação

Em fila, dóceis e obedientes, chamam a atenção pela beleza e pela postura serelepe, cheios de vida – dos 10, apenas dois pastores têm 8 anosAinda assim, maduros, apresentam-se fortes como os mais jovensAs cadelas Anny e Angra, de acordo com avaliações técnicas, deram sinais de que querem se aposentarNão estão 100% dispostas para o trabalho policial – faro, captura, policiamento e demonstraçãoOdim, o belo pastor de 4 anos e olhos infantis, próximo ao cercado, em silêncio, pede para sairSimpático, parece estar à espera de uma criança qualquer para traquinar.

Como Odim, outros cães jovens – Atos, de 3, Naruto, de 2, Néon, de 2, Alva, de 3, e Alma, de 3 – não estão "dispostos" a continuar na PMQuerem baixa do serviço militarCapitão Cássio Antônio dos Santos, de 36, defensor dos animais da corporação, explica que as particularidades dos bichos precisam ser respeitadas: "É como genteTem gente que tem vocação para ser jornalistaTem gente que tem vocação para ser da polícia"
O oficial, com 19 anos de carreira, está há apenas dois meses no canilVindo do trabalho na academia, na formação de militares, capitão Cássio critica a ação dos ativistas no que se refere aos cães da polícia

"É um processo que dá lisura ao encaminhamento dos cãesNão podemos dizer para o policial levar o cão para casaCom o leilão, damos oportunidade para que a sociedade participe", ressalta o capitãoDo outro lado, representante do MMDA fala em fim de exploração e escravidão"Estamos empenhados, juntos às três esferas do poder público, para que os cães sejam encaminhados à adoção e não ao comércio", diz Adriana Cristina Araújo, de 42A servidora pública, "ativista desde criança", sonha com o fim do trabalho forçado de qualquer natureza para os animais.

"Somos abolicionistas, contrários ao uso de animais pela políciaSe esses cães pudessem escolher, certamente estariam em liberdade", dizAdriana reprova o aprisionamento e as obrigações dos cães policiaisEntretanto, "já que o trabalho existe", diz lutar pelo melhor para os bichosSobre os cães mais velhos, em "fim de carreira", a defensora, assim como Graça Leal, sugere que o encaminhamento natural seria a convivência familiar com os policiais companheirosO leilão ganhou nota de repúdio do MMDA, encaminhada aos movimentos nacionais e internacionais.