Jornal Estado de Minas

Leilão de cães da PM atrai interessados

No centro da polêmica entre ativistas e PM, cachorros dispensados do serviço militar viram atração no canil da corporação, onde vários interessados foram conhecê-los

Jefferson da Fonseca Coutinho
Anna França viu em Naruto o companheiro ideal para suprir o lugar deixado pela morte do cão Bruce. A menina pretende usar suas economias para arrematar o labrador - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press


 

Enquanto ativistas de várias partes do Brasil se movimentam para impedir o pregão de cães policiais na próxima terça-feira – defendendo soluções como a do Rio de Janeiro, onde animais dispensados do serviço são doados preferencialmente aos militares com que trabalham – o canil da Polícia Militar de Minas Gerais virou atração para famílias inteiras, interessadas nos animaisPara o coronel reformado Eli Morais, de 63, não poderia haver lugar melhor para que a neta Anna Palméria Santilhana de Souza Morais França, de 10, encontrasse um substituto para seu cão Bruce, morto recentemente, vítima de câncer.

O militar, na reserva desde 1995, levou a família ao Bairro Saudade, na Região Leste de Belo Horizonte, para conhecer os cães que vão a leilão“Vamos fazer um lance e esperar que dê certo”, dizDesde o ano passado, Anna junta dinheiro para obter dois cães de boa procedência“A escola ofereceu viagem de passeio por R$ 947 e ela decidiu não ir, para guardar o dinheiro”, revela a mãe, Mirna Flávia de Souza Morais, de 32.

A psicóloga, feliz, assiste às trocas de carinho da filha com o labrador Naruto, de cor chocolate, moleque que só eleMirna, como os ativistas do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA), quer o melhor para os cãesNo entanto, não vê problema algum no leilão“É simbólico e dá transparência ao processo de encaminhamento dos cãesDá oportunidade a toda a sociedade”, consideraSabendo que a concorrência promete ser acirrada, além de Naruto, a família vai batalhar também pelo pastor Odim e pela labrador Alma

“Hoje, o dia todo foi assim

Muitas famílias vieram conhecer os cães para participar do leilão”, comenta o comandante da Companhia de Policiamento com Cães, major Enos MachadoO oficial mostra-se satisfeito com os “visitantes de boa intenção”, que têm condições de oferecer um bom lar para os candidatos a policiais de quatro patas dispensados do serviço militar“Só quem gosta muito vem ver os cães e participa”, diz

DEBATE

A matéria publicada pelo Estado de Minas de ontem sobre o leilão dos animais foi assunto dos mais comentados em blogs especializados e em redes sociaisGraça Leal, do site Adoção BH, arrebata seguidores com a ideia de que ativistas se mobilizem para arrematar os cães e levá-los à “adoção responsável”, caso o leilão não seja impedidoA ativista ressalta a preocupação com os cães levados à reprodução abusiva por parte de “pessoas inescrupulosas”Só em Belo Horizonte são mais de 50 grupos organizados atentos ao leilão de terça-feira.

Sérgio Dourado escreveu: “São animais que prestaram serviços para a polícia e para a sociedade mineira, deveriam ser mais respeitados e não tratados como simples objeto de leilão”Marilene Estanislau recorre a dito popular para comentar: “‘Quanto mais conheço as pessoas, mais admiro os cães’Eu tenho um bulldog inglês e ficaria feliz em adotar um desses aí”

Para Eduardo Cosso, “o cão prestador de serviços à PM é um bem público, e como tal, o procedimento de leilão é um dever preconizado pelo Estado”
No blog Bichos de Companhia, Janine Horta, mesmo contra a venda de animais, considera que o leilão pela PM pode ajudar a selecionar o perfil dos interessadosContudo, como são animais de raça e guarda, teme que possam passar a viver em lotes vagos, depósitos de construção ou oficinas mecânicas, e, com isso, “isolados, sozinhos, sem cuidados e afeto”.


No Rio, animais ficam com PMs

Diferentemente de Minas, no Batalhão de Ações com Cães (BAC) do Rio de Janeiro os animais dispensados são doados prioritariamente aos seus condutoresA unidade especializada ocupa os três primeiros lugares da categoria no Sistema Integrado de Metas e Acompanhamentos de Resultados, em premiação da Secretaria de Estado de Segurança fluminenseAtualmente com 78 cães, o BAC prevê quadro com 160 animais policiais em 2014 – muitos vindos da França

O serviço de cães da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi criado em 1955Ganhou status de batalhão a partir da criação do Comando de Operações Especiais (COE), em 2010“Os cães são uma ferramenta importantíssima para desbaratar muitas quadrilhas”, ressalta o tenente-coronel Marcelo Nogueira, de 45 anosO oficial, com 24 anos de polícia, destaca o trabalho de pesquisa da unidade, com intercâmbio na América Latina e na Europa.

Ainda que sejam patrimônio do estado, no BAC é natural que os cães, depois de aposentados, fiquem com os companheiros de serviçoNo trabalho ao lado dos policiais, além de localizarem drogas e armamentos, os animais atuam também em outras empreitadasEles participam de intervenções táticas e resgate de reféns com o Batalhão de Operações Especiais (Bope), controle de distúrbios ao lado do Batalhão de Choque e busca e salvamento de pessoas perdidas ou soterradas com a unidade aérea móvel.


REPERCUSSÃO
LEITORES COMENTAM NO EM.COM.BR

 
“Fosse assim, deveriam averiguar também quem compra cães em pet shops ou anúncios classificados, pois quem garante que o cão será bem tratado? ‘Abolicionista de cachorro’ é falta do que fazer.”
Wander Eduardo

“Esses animais merecem todo o respeito e atençãoCães não devem ser vendidos, principalmente depois de adultosVão procurar por seus antigos donos pelo resto da vida.”
Carlos Santos

“UaiNão pode, não deve vender cães..Mas os canis vendem cães de todas as raçasQuando preciso de um cão pastor alemão, procuro um canil.”
Marcio Aurélio de Freitas

“Caríssima comandante da PM, cães não são ‘patrimônio’ , e sim vidasDeve-se centrar as atenções apenas naquilo que for melhor para os cãesEncontre uma forma mais humana de arrecadação!”
Suzana Soares

 “Que seja para qualquer tipo de cidadão, independente da profissãoMas que seja para uma pessoa realmente merecedora da amizade do amigo cão, através de criteriosa escolha.”
Marcos Henrique