Enquanto ativistas de várias partes do Brasil se movimentam para impedir o pregão de cães policiais na próxima terça-feira – defendendo soluções como a do Rio de Janeiro, onde animais dispensados do serviço são doados preferencialmente aos militares com que trabalham – o canil da Polícia Militar de Minas Gerais virou atração para famílias inteiras, interessadas nos animais. Para o coronel reformado Eli Morais, de 63, não poderia haver lugar melhor para que a neta Anna Palméria Santilhana de Souza Morais França, de 10, encontrasse um substituto para seu cão Bruce, morto recentemente, vítima de câncer.
O militar, na reserva desde 1995, levou a família ao Bairro Saudade, na Região Leste de Belo Horizonte, para conhecer os cães que vão a leilão. “Vamos fazer um lance e esperar que dê certo”, diz. Desde o ano passado, Anna junta dinheiro para obter dois cães de boa procedência. “A escola ofereceu viagem de passeio por R$ 947 e ela decidiu não ir, para guardar o dinheiro”, revela a mãe, Mirna Flávia de Souza Morais, de 32.
“Hoje, o dia todo foi assim. Muitas famílias vieram conhecer os cães para participar do leilão”, comenta o comandante da Companhia de Policiamento com Cães, major Enos Machado. O oficial mostra-se satisfeito com os “visitantes de boa intenção”, que têm condições de oferecer um bom lar para os candidatos a policiais de quatro patas dispensados do serviço militar. “Só quem gosta muito vem ver os cães e participa”, diz.
DEBATE
A matéria publicada pelo Estado de Minas de ontem sobre o leilão dos animais foi assunto dos mais comentados em blogs especializados e em redes sociais. Graça Leal, do site Adoção BH, arrebata seguidores com a ideia de que ativistas se mobilizem para arrematar os cães e levá-los à “adoção responsável”, caso o leilão não seja impedido. A ativista ressalta a preocupação com os cães levados à reprodução abusiva por parte de “pessoas inescrupulosas”. Só em Belo Horizonte são mais de 50 grupos organizados atentos ao leilão de terça-feira.
Sérgio Dourado escreveu: “São animais que prestaram serviços para a polícia e para a sociedade mineira, deveriam ser mais respeitados e não tratados como simples objeto de leilão”. Marilene Estanislau recorre a dito popular para comentar: “‘Quanto mais conheço as pessoas, mais admiro os cães’. Eu tenho um bulldog inglês e ficaria feliz em adotar um desses aí”.
Para Eduardo Cosso, “o cão prestador de serviços à PM é um bem público, e como tal, o procedimento de leilão é um dever preconizado pelo Estado”. No blog Bichos de Companhia, Janine Horta, mesmo contra a venda de animais, considera que o leilão pela PM pode ajudar a selecionar o perfil dos interessados. Contudo, como são animais de raça e guarda, teme que possam passar a viver em lotes vagos, depósitos de construção ou oficinas mecânicas, e, com isso, “isolados, sozinhos, sem cuidados e afeto”.
No Rio, animais ficam com PMs
Diferentemente de Minas, no Batalhão de Ações com Cães (BAC) do Rio de Janeiro os animais dispensados são doados prioritariamente aos seus condutores. A unidade especializada ocupa os três primeiros lugares da categoria no Sistema Integrado de Metas e Acompanhamentos de Resultados, em premiação da Secretaria de Estado de Segurança fluminense. Atualmente com 78 cães, o BAC prevê quadro com 160 animais policiais em 2014 – muitos vindos da França.
O serviço de cães da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi criado em 1955. Ganhou status de batalhão a partir da criação do Comando de Operações Especiais (COE), em 2010. “Os cães são uma ferramenta importantíssima para desbaratar muitas quadrilhas”, ressalta o tenente-coronel Marcelo Nogueira, de 45 anos. O oficial, com 24 anos de polícia, destaca o trabalho de pesquisa da unidade, com intercâmbio na América Latina e na Europa.
Ainda que sejam patrimônio do estado, no BAC é natural que os cães, depois de aposentados, fiquem com os companheiros de serviço. No trabalho ao lado dos policiais, além de localizarem drogas e armamentos, os animais atuam também em outras empreitadas. Eles participam de intervenções táticas e resgate de reféns com o Batalhão de Operações Especiais (Bope), controle de distúrbios ao lado do Batalhão de Choque e busca e salvamento de pessoas perdidas ou soterradas com a unidade aérea móvel.
REPERCUSSÃO
LEITORES COMENTAM NO EM.COM.BR
“Fosse assim, deveriam averiguar também quem compra cães em pet shops ou anúncios classificados, pois quem garante que o cão será bem tratado? ‘Abolicionista de cachorro’ é falta do que fazer.”
Wander Eduardo
“Esses animais merecem todo o respeito e atenção. Cães não devem ser vendidos, principalmente depois de adultos. Vão procurar por seus antigos donos pelo resto da vida.”
Carlos Santos
“Uai. Não pode, não deve vender cães... Mas os canis vendem cães de todas as raças. Quando preciso de um cão pastor alemão, procuro um canil.”
Marcio Aurélio de Freitas
“Caríssima comandante da PM, cães não são ‘patrimônio’ , e sim vidas. Deve-se centrar as atenções apenas naquilo que for melhor para os cães. Encontre uma forma mais humana de arrecadação!”
Suzana Soares
“Que seja para qualquer tipo de cidadão, independente da profissão. Mas que seja para uma pessoa realmente merecedora da amizade do amigo cão, através de criteriosa escolha.”
Marcos Henrique