Mateus Parreiras
Lições de matemática e português eram ensinadas quando a voz dos professores foi abafada por estampidos de tiros na porta da escola. “Os meninos começaram a berrar e a correr assustados para todos os lados”, lembra Ana Rosa, secretária de uma instituição de ensino estadual de Patos de Minas, no Alto Paranaíba. A mulher teve de ser corajosa. Correu pelos corredores, entre meninos e meninas de mochilas nas costas, até poder fechar a porta do colégio. “Quando estoura um tiroteio desses na rua, a gente tranca as portas, segura os alunos e torce para ninguém se machucar”, desabafa a secretária, que por motivo de segurança pediu para usar um nome fictício. O clima de tensão e violência não é realidade apenas desse colégio, uma vez que Patos de Minas é o município com mais ocorrências de crimes em que a referência é a escola, por alunos, entre as 29 cidades com mais de 100 mil habitantes do estado. Cruzando as ocorrências da Polícia Militar registradas dentro e nos arredores de instituições das redes particular, municipal, estadual e federal em 2011, com o número de estudantes de cada cidade, segundo dados oficiais do Censo Escolar elaborado pelo Ministério da Educação, o Estado de Minas fez um mapeamento inédito dos municípios onde há mais violência no meio escolar. A PM não informou o número de ocorrências em escolas no último ano.
Em 2011 foram 1.363 ocorrências nas escolas desses 29 municípios, um número 3,9% menor que no ano anterior, quando houve 1.417, mas 53,3% superior aos registros de 2009, que somaram 889 queixas. A PM computou ainda 280 crimes violentos contra estudantes, professores e funcionários, chegando a 20,5% do total. Foram 127 registros de agressões, 72 de lesões corporais, 15 de roubos, três estupros e atentados violentos ao pudor, um assédio sexual, um homicídio e 61 que constaram como “outras infrações contra a pessoa”. Os furtos foram as ocorrências que mais apareceram nas instituições de ensino mineiras, com 393 registros, correspondendo a 29% do volume total de 2011. Em muitos locais os alunos desafiam a autoridade policial por meio de pichações. Como na Escola Estadual Júlia Lopes de Almeida, no Bairro Saudade, Região Leste de BH, onde frases pichadas com spray preto insultam a PM. As telhas que cobrem o muro estão todas quebradas, segundo moradores e estudantes, por causa de gente que pula por aquele local para entrar ou fugir.
PORTAS FECHADAS
Em Patos de Minas, das 86 ocorrências registradas, 15 foram furtos (17%), que naquela cidade praticamente se igualam aos 14 (16%) registros de lesão corporal. De acordo com o tenente Diomásio Júnior Caetano, assessor de comunicação do 15º Batalhão da PM de Patos de Minas, a corporação percebeu esses índices e tomou atitudes. “No caso dos furtos, orientamos as escolas a manter fechadas as portas da secretaria e da diretoria, e a fazer também bicicletários para os alunos”, disse. Com relação às agressões que resultaram em ocorrências por lesão corporal, a tática é prevenir. “Fazemos programas de interação com as comunidades em áreas de risco, buscando mostrar aos meninos e meninas que não é com violência que se resolvem os problemas banais. Temos também um programa de práticas esportivas para esse público, que concentra os agressores mais comuns e as maiores vítimas”, disse.
Já em Juiz de Fora, que detém a segunda maior taxa de ocorrências por estudantes, os furtos se destacam com 72 (33%) registros entre os 216 anotados em 2011. Completam a relação de atos de violência 35 ameaças (16%), 15 danos às instituições (7%), 13 atritos verbais (6%) e 13 lesões corporais (6%). Na cidade, no fim do ano passado, uma briga entre alunos chamou a atenção quando a diretoria de uma escola municipal precisou chamar a polícia para conter um estudante de 11 anos. De acordo com a instituição, o garoto agrediu colegas e funcionários e por isso foi necessário pedir a presença da PM. A mãe do menino, uma faxineira de 43 anos, se disse revoltada com a atitude da escola. “Tem cabimento uma diretora chamar a polícia para uma criança de 11 anos de idade?”, indagou. A diretora rebateu as acusações. “A escola não é depósito de crianças e as famílias têm se omitido de suas responsabilidades com elas (os alunos)”, afirmou.
A PM de Juiz de For a, por meio de sua assessoria de imprensa, discordou dos números apresentados, argumentando que nem todas as ocorrências constantes do levantamento obtido pelo EM ocorreram no ambiente escolar. A instituição informou que dentro dos estabelecimentos houve 195 ocorrências (21 a menos) em 2011, e que o número teria caído para 138 no ano passado.