O homem que se passa por skinhead e postou sua foto na internet tentando enforcar um morador de rua na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi preso na tarde de domingo na cidade de Americana (SP). Antônio Donato Baudson Peret, de 24 anos, foi detido pela Guarda Municipal de Americana (GAMA) com apoio da equipe da Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC) de BH quando desembarcou na rodoviária, chegando de uma viagem à capital paulista. Ele estava em Americana até sábado, mas viajou e os passos dele já eram monitarados pela polícia.
Nesta segunda-feira, ele é transferido de carro para BH pela equipe da delegada Paloma Kairala. Segundo a Polícia Civil, há outros dois presos na capital por ter ligação com Antônio Donato que estão no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão. Marcus Vinícius Garcia Cunha, 26 anos, e João Matheus Vetter de Moura, 20 anos, também foram detidos no domingo.
No domingo, os policiais cercaram um ônibus da empresa Piracicabana, onde sabiam que estava Antônio Donato e cumpriram o mandado de prisão que foi expedido pela Justiça de Minas por apologia ao crime, com os agravantes de racismo e nazismo e formação de quadrilha. As informações da investigação apontaram os passos do skinhead e por isso a polícia cercou o suspeito. Enquanto os passageiros desciam do veículo, policiais entraram para buscar o jovem e capturaram o Antônio Donato algemando na descida do ônibus. De óculos escuros e camisa preta, o rapaz não teve tempo para reação. Com o preso, os policiais encontraram um soco inglês, uma faca e um facão. Veja o vídeo da prisão:
De acordo com a GAMA, funcionários de um hotel em Americana informaram, na noite de quinta-feira, que havia um jovem de comportamento estranho e tendências violentas hospedado no local. Naquele, houve uma confusão no hotel em que o jovem se envolveu. Ele chegou a ser abordado após um início do tumulto pela GAMA, mas foi liberado. Ele trocou de hotel, mas também despertou desconfiança de outros funcionários, o que levou a GAMA a fazer contato com a polícia mineira. Assim, a operação de prisão foi planejada. Segundo a polícia, os quatro presos são suspeito de violência e intolerância contra moradores de rua, usuários de drogas, homossexuais, punks, skatistas, negros e em alguns casos, mulheres.
Antônio Donato estava em Americana visitando a namorada, a quem conheceu via internet, e foi até São Paulo com a jovem na casa de uma avó. A jovem chegou a ir para a delegacia no momento da prisão, mas foi liberada após prestar depoimento: ela não possui nenhuma ficha criminal. O delegado de plantão de Americana, Robson Gonçalves de Oliveira, registrou a prisão, ouviu as partes e entregou a custódia do indiciado aos investigadores do DEICC, que o levaram na noite deste domingo até a Cadeia de Pouso Alegre, Sul de Minas. O skinhead deve cumprir 30 dias de prisão preventiva para o prosseguimento das investigações.
Pela foto com o morador de rua, Antônio Donato pode responder criminalmente por apologia ao racismo. Ele já responde a três processos na Justiça por crimes contra homossexuais e a situação dele pode piorar. O Ministério Público de Minas Gerais começou a analisar um pedido de providências contra ele encaminhado pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável (CNDDH).
Histórico de crimes
Em 15 de abril de 2011, o acusado e outros três rapazes foram presos por espancar com socos e chutes o adolescente A. A. M. C., na época com 16 anos. Na primeira audiência, Antônio Donato não foi localizado e os três demais envolvidos aceitaram uma transação penal, proposta pelo Juizado Especial Criminal. Eles cumpriram três meses de prestação de serviços gratuitos à comunidade, por injúria, ameaça e lesão corporal. Na segunda audiência, Antônio Donato chegou a ser intimado, mas não compareceu.
Em 7 de setembro de 2011, Antônio Donato e um adolescente de 17 anos espancaram com chutes e soco inglês um casal gay, que trocava carícias na Praça da Liberdade. Os dois foram presos. A vítima G. H. S. H., de 18 anos, foi chamada de "gay safado" e levou um golpe de canivete no ombro direito. Em 5 de janeiro de 2009, também na Savassi, a vítima foi um homossexual de 19 anos. Os dois casos não foram julgados pela Justiça.
Polêmica na rede
A polêmica se iniciou na sexta-feira, dia 5 de abril. O jovem, identificado na rede social como Donato di Mauro, colocou a imagem e escreveu na legenda: “Quer fumar kraquinho? (Sic.) Em meio a praça pública cheio de criança? Acho que não”, disse. Em seguida, o jovem colocou outro comentário onde critica o governo e a sociedade. “Já me acostumei...Falsos democratas, sociedade libertina, policiais corruptos, direitos humanos e por ai vai... O velho pão e circo para o povo humanista”, afirmou. A imagem ficou pouco tempo no ar e depois foi retirada pelo próprio autor. Porém, a foto foi colocada em outros perfis. Vários internautas mostraram indignação.
Em entrevista ao Estado de Minas, o pai do acusado, o artesão Donato Peret Mauro, de 58 anos, disse que a fotografia do filho enforcando o morador de rua não passa de uma montagem feita por inimigos dele. "Meu filho se envolveu com o movimento dos carecas e tem muitos inimigos. Ele está sozinho em algum lugar, correndo o risco de que alguém o corte todo com uma tesoura", disse o artesão, que vive separado da família há 14 anos. "Não vou negar que meu filho participou de alguns movimentos, mas estão avacalhando com ele. Meu filho está correndo risco. As pessoas que querem matá-lo são perigosas, são piradas, drogadas", disse o pai.
Outras ligações
Há informações de que Antônio Donato teria ligações com o estudante de direito Gabriel Spínola, envolvido em um trote racista no mês passado, na UFMG. Em março deste ano, um outro ato de preconceito e com citações nazistas causou polêmica em Belo Horizonte. Alunos de direito da UFMG pintaram uma estudante com tinta preta durante um trote. A garota aparece em imagens acorrentada e puxada por um veterano. Ela ostenta uma placa com os dizeres “caloura Chica (Sic) da Silva”, em referência à famosa escrava que viveu em Diamantina no século 18, liberta após se envolver com um contratador de diamantes. Em outra foto, um calouro está amarrado a uma pilastra enquanto outros três estudantes fazem uma saudação nazista. Um deles pintou um bigode semelhante ao do ditador alemão Adolf Hitler.
(Com informações de Pedro Ferreira)