Jornal Estado de Minas

Vítimas complicam skinheads presos em BH

No dia em que três presos sob acusação de racismo negaram agir com violência, comerciante reafirma ter sido espancado em 2009. Morador de rua disse em depoimento que foi agredido

- Foto: Paulo Filgueiras/EM DA Press

A lista de pessoas que acusa de agressão Antônio Donato Baudson Peret, de 25 anos, preso no domingo em Americana (SP) sob acusação de racismo e formação de quadrilha, não para de crescerNo dia em que Donato e os amigos Marcus Vinícius Garcia Cunha, de 26, João Matheus Vetter de Moura, de 20, foram apresentados pela polícia e negaram fazer parte de grupo neonazista e agir com violência, um comerciante homossexual reafirmou ter sido vítima de espancamento por parte de Donato em 2009 na saída de uma boate GLS na Avenida do Contorno, na Região da Savassi

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O caso teria ocorrido na noite de 5 de janeiro de 2009O comerciante R.S.S., de 23, conta que estava acompanhado de duas amigas, também homossexuais“Fui atingido com uma voadora nas costas Levei chutes nas nádegas e socos nas costas”, disse o rapaz“Acredito que minhas amigas também seriam agredidas, mas elas perceberam a aproximação de um carro da polícia e começaram a gritarO rapaz estava acompanhado e os dois correramMas foram presos”, completa

Na segunda-feira, o estudante A.A.M.C., de 18 anos, também afirmou ao EM ter sido agredido por Antônio Donato e amigos na SavassiO comerciante R.S.S

diz ter certeza de que foi agredido por ser homossexual e conta que até hoje está abalado“A prisão dele (Donato) me deixa aliviado, mas não tenho coragem de passar pela SavassiÉ como se eu estivesse vivendo o pesadelo de novo”, afirmou.

Antônio Donato foi preso domingo em Americana, para onde fugiu depois de postar na internet uma foto dele tentando enforcar um morador de rua com uma corrente, na SavassiOs outros dois suspeitos, Marcus e João, foram presos no mesmo dia nos bairros Carlos Prates e São Bento, respectivamente, em Belo HorizonteA delegada de Crimes Cibernéticos, Paloma Boson Kairala, instaurou inquérito por racismo e formação de quadrilhaDemais crimes, como lesões corporais, serão apurados pelas delegacias das áreas onde foram cometidosÀ polícia, o morador de rua Luiz Célio Damásio, que aparece em foto com Donato na Savassi, confirmou ter sido agredido e contou que tentou se defender com uma corrente, mas que Donato a tomou Um rapaz que acompanhava Donato fez a fotoHá a suspeita de que seja Marcus Cunha.

Presos se defendem

Os três acusados estão recolhidos em celas coletivas do Ceresp São Cristóvão, em razão das fotos publicadas na internetPodem pegar de dois a cinco anos por racismo e de um a três anos por formação de quadrilha
Ontem, Antônio Donato alegou que os três processos por agressão a que responde na Justiça foram “jogados” nas suas costas para prejudicá-loEle se referiu à foto com o morador de rua na Savassi como “brincadeira infeliz” e afirmou que o homem que aparece acorrentado “estava ciente que tudo era uma brincadeira”

Sobre as fotografias e mensagens que publicou na internet, ele disse que nunca incentivou ninguém a nada “Não tenho preconceito por ninguémNão faço parte de movimento nenhum Só acredito numa coisa: a liberdade de um acaba quando começa a do outro”, afirmou“E eu nunca tirei a liberdade de ninguém que não tenha tirado a minha primeiro”, acrescentou o preso, que disse conhecer de vista um estudante de direito acusado de trote de cunho racista na UFMG

Por sua vez, Marcus Vinícius disse que faz parte de um movimento nacionalista, que nunca agrediu ninguém e que não tem ficha na polícia “Não tenho nada contra as minoriasNo restaurante onde coordenei uma equipe tinha negros e homossexuais e a gente se relacionava muito bem Inclusive, muitos homossexuais assumidos pegavam carona comigo”, afirmou“Conheço várias pessoas, mas isso não me coloca como skinhead, neonazista ou qualquer outra doutrina”, disse

João Matheus Vetter, que se identificou como empreendedor individual, disse que foi preso por um comentário que postou no FacebookNa casa dele, no Bairro Carlos Prates, vários uniformes camuflados do Exército foram apreendidos, com o nome dele bordado na divisa, além de coturnos, soco-inglês, duas facas de guerrauma touca ninja, uma camiseta com o emblema do Movimento Pátria Nossa Brasil e um exemplar da biografia de Adolf Hitler“Já servi ao Exército por um ano e usava esse materialFiz uma brincadeira comentando a foto do Donato com o morador de rua na internet”, disse João MatheusSobre a foto com o morador de rua sendo enforcado, ele disse: “Se ele (Donato) tem os problemas na cabeça dele, não posso fazer nada”.


Acusado é atacado por colegas de cela
 
Ao ser apresentado nessa terça-feira, Antônio Donato apresentava ferimentos no rosto, com curativo do lado esquerdo, e disse ter sido agredido por cerca de 30 colegas de cela no Ceresp São CristóvãoA Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) informou que por volta das 7h da manhã de ontem o preso levou um soco e foi imediatamente socorrido por agentes penitenciários“Ele será conduzido para exame de corpo de delitoA direção da unidade prisional instaurou um procedimento para apurar as responsabilidades pelo ocorrido”, afirmou a Suapi por meio de nota“Fui espancado por causa desse mal-entendido que falam de mim”, disse Donato.