Franca - O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) suspendeu na terça-feira as audiências do processo sobre tráfico de órgãos em Poços de Caldas que ocorreriam nesta semana. Os advogados de dois médicos acusados de participar do esquema entraram com um recurso contra o juiz do caso - Narciso Alvarenga Monteiro de Castro -, alegando “exceção de suspeição” (falta de imparcialidade no processo). Os dois médicos que entraram com recurso contra o juiz, Celso Roberto Frasson Scafi e Cláudio Rogério Fernandes, já foram condenados em outro processo envolvendo tráfico de órgãos, em fevereiro passado.
Por meio de nota, o advogado José Kalil, que defende os médicos, disse que o argumento usado é que “o referido magistrado perdeu a necessária isenção e imparcialidade para apreciar o chamado Caso Pavesi”. E que houve manifestações “que indicaram a ausência de imparcialidade, notadamente contidas em sentença condenatória por ele proferida noutro processo a que respondem nossos clientes, versando sobre acusação semelhante”. Procurado, o juiz Monteiro de Castro disse que não se manifestaria sobre a suspensão das audiências porque o argumento de suspeição ainda será julgado pelo TJ-MG. Ele afirmou, no entanto, que falará sobre o assunto assim que sair uma decisão definitiva, pois a suspensão é provisória.
Ameaça
“Temo que o juiz não fique muito tempo no cargo, já que está afrontando os poderes da cidade”, disse Paulo Pavesi, de 45 anos, em entrevista a uma emissora de TV de Minas Gerais. Ele é o pai do menino Paulo Veronesi Pavesi, o Paulinho, que morreu aos 10 anos na Santa Casa de Poços de Caldas depois que seus órgãos foram retirados ilegalmente para transplante. Foi esse caso - que ficou conhecido como Caso Zero - que deu origem às investigações da chamada máfia do tráfico de órgãos no Estado. A morte de Paulinho resultou na CPI do Tráfico de Órgãos na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Ao saber da decisão da Justiça sobre o cancelamento das audiências, Pavesi se manifestou por meio do seu blog: “A única conclusão que chego é que ele (o juiz) é suspeito de ser honesto”.
Segurança
Desde que o juiz Castro condenou quatro médicos em Poços de Caldas por tráfico de órgãos, a segurança foi reforçada no Fórum. Motivos para a preocupação não faltam, já que no passado um ex-administrador da Santa Casa local foi encontrado morto justamente no dia em que ia depor, denunciando o esquema de retirada de órgãos. No fórum, ninguém desmente nem confirma a informação, mas o juiz também estaria andando armado para se prevenir.