O fato de um dos presos ser médico-legista trouxe ainda mais suspeitas aos familiares do fotógrafo Walgney Carvalho, de 43 anos, executado no último domingo, em Coronel Fabriciano“Ele trabalhava para os legistas e para os policiais da perícia, além de entregar fotos e informações para os jornaisNão sei até onde isso pode ter relação com essas prisões”, disse uma parente do repórter fotográfico que pede para não ser identificada“Não sei o que pode ter ocorrido com eleEstamos no escuro, sem saber de nada das investigaçõesMesmo com as prisões, ainda não dá para sentir segurança”, disseOntem, as duas delegacias permaneceram fechadas.
De acordo com a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), há pelo menos 20 policiais envolvidos em mais de 20 homicídios denunciados pelo repórter do Jornal Vale do Aço Rodrigo Neto, morto na madrugada de 8 de março, e por seu colega, o fotógrafo Walgney“Ainda vai levar tempo para termos segurança para trabalharAs prisões são um início, mas muito mais terá de ser feito
Antes das prisões, o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado Cylton Brandão da Matta, afastou dois delegados das chefias de departamento e nomeou o subcorregedor, delegado Elder D’ângelo, para a chefia do 12º Departamento, que coordena o trabalho de seis delegacias regionais: Ipatinga, João Monlevade, Itabira, Caratinga, Manhuaçu e Ponte NovaJuntas, essas regionais comandam a Polícia Civil em 97 municípiosEle acumulará o cargo de chefe e de subcorregedorO delegado regional, Walter Felisberto, que estava afastado por problemas de saúde, foi trocado pela delegada Irene Angélica Franco e Silva Guimarães, que estava no Departamento de Crimes contra a VidaCinco testemunhas da região foram levadas para locais seguros em outros estados.
Exilados
Uma parente próxima do repórter assassinado, que não quer aparecer por medo de represálias, também declara que as prisões estão longe de lhe devolver a paz“Ainda mais depois do que aconteceu no último domingo (a morte do fotógrafo)Estou apavoradaEm pânicoNão sei de nada que possa comprometer a nossa segurança, mas ainda assim a gente perde toda a confiança”, desabafouDe acordo com a mulher, a série de assassinatos e a impossibilidade de contar com a polícia local a obrigaram a ficar exilada e com medo, juntamente com o filho
Repórteres locais também não consideram que o ambiente tenha melhorado“Estamos cumprindo nossa obrigação, mas com medoNão queremos nos expor além da obrigação, porque nossas vidas estão em jogo e não há ninguém que possa assegurá-las, nem mesmo o poder público”, diz um profissional de um dos três jornais diários de Ipatinga.
Inquietação entre parentes das vítimas
“Recebi mensagens no celular de telefones sem identificação que diziam: pare de tentar descobrir o que aconteceu, ou você será o próximo”, lembraDiante disso, o irmão de Juninho simplesmente parou de se envolver no caso“Tenho filhoGostava demais do meu irmão, mas o que pude fazer, já fizMeu depoimento está lá (com a polícia)Agora, que eles façam seu trabalho e prendam os assassinos”, cobra.
Juninho foi morto em 2007 numa padaria da Avenida Macapá, no Bairro Veneza I, no meio de clientes e funcionáriosUm motociclista de capacete entrou no estabelecimento e acertou seis dos 11 tiros disparados no seu alvoSegundo testemunhas, a vítima estava namorando uma mulher que também tinha caso com um capitão da Polícia MilitarUm dia antes de ser assassinada na padaria, a mulher o ameaçou“Ela disse: ‘De hoje você (Juninho) não passa’”, lembra o irmão da vítima.