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Estado de Minas OS HERDEIROS DE TIRADENTES

Conheça a história dos irmãos que reivindicam o título de parentes do mártir Tiradentes

Eles tentam provar que linhagem descende do único filho do herói, que fugiu com a mãe da ira da Coroa


postado em 21/04/2013 06:00 / atualizado em 21/04/2013 07:29

 

Os Tiradentes de Bom despacho: assentados, da esquerda para a direita, maria do carmo, José Maria, Maria José e JOsé fausto, com filhos e netos, buscam reconhecimento como descendentes do mártir(foto: Paulo Filgueiras/Em/D.a Press)
Os Tiradentes de Bom despacho: assentados, da esquerda para a direita, maria do carmo, José Maria, Maria José e JOsé fausto, com filhos e netos, buscam reconhecimento como descendentes do mártir (foto: Paulo Filgueiras/Em/D.a Press)


Bom Despacho, Quartel Geral e Martinho Campos – O sobrenome dos irmãos José Maria, José Fausto, Maria do Carmo e Maria José aguça a curiosidade de muitos moradores de Bom Despacho, no Centro-Oeste mineiro, a 160 quilômetros de Belo Horizonte. Quem estiver disposto a escutar a história da família Tiradentes, em uma prosa regada a café e pão de queijo, ouvirá dos orgulhosos irmãos: “Somos filhos de Orozimbo Pedro Luís, netos de Belchiorina Augusta Cesarina, bisnetos de Belchior Beltrão de Almeida, trinetos de João de Almeida Beltrão e tetranetos de Joaquim José da Silva Xavier, o maior herói do país”. Linhagem que pode garantir a eles uma pensão vitalícia de cerca de dois salários mínimos mensais (R$ 1.356).

“O valor é simbólico. O que meus clientes querem é o reconhecimento do governo”, sustenta o advogado da família, Leonardo Gontijo Azevedo. Para isso, ele tentará convencer a bancada mineira no Congresso a propor um projeto de lei beneficiando a família. A segunda estratégia será estudar a viabilidade de uma ação na Justiça. Oito descendentes do mártir da Inconfidência Mineira, cuja memória é celebrada hoje, já conseguiram esse reconhecimento. Para eles, o benefício começou a ser pago no governo militar. Em 1969, para reforçar a imagem da pátria, a União localizou três trinetos do mártir, todos primos de segundo grau dos Tiradentes de Bom Despacho, e os premiou com a pensão. De lá para cá, alegando equidade e isonomia, mais cinco integrantes da árvore genealógica do alferes conseguiram o mesmo.

Dos oito pensionistas que já conseguiram o feito, apenas uma descendente, que hoje mora em Brasília, está viva. Os demais residiam no Oeste de Minas, onde o mártir talvez jamais tenha colocado os pés, pois a principal missão do alferes (cargo abaixo do de tenente na hierarquia militar) era policiar parte da Estrada Real, de Ouro Preto ao Rio de Janeiro. O mártir teve muitas amantes nesse trecho. Ele não se casou, mas deixou uma filha e um filho. O garoto, João, foi fruto do romance com dona Eugênia Joaquina da Silva, que deixou Vila Rica e se mudou com a criança para Quartel Geral, hoje com 3,5 mil moradores, a 100 quilômetros de Bom Despacho.

Muita gente se pergunta o porquê de Eugênia trocar Vila Rica, então capital da província das Gerais, por um lugarejo menos promissor. A resposta está na sentença que condenou o alferes. O texto, assinado pela rainha dona Maria I, considerou “infames” filhos e netos de Joaquim José da Silva Xavier. Sentença de natureza impensável nos dias atuais, pois a individualização da pena é um princípio do direito criminal, mas foi considerada pela Coroa portuguesa exemplar para a época.

 “Seja conduzido (Tiradentes) pelas ruas públicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre (…). Declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique (…).” Na prática, o infame perdia o direito de herança e sofria outras restrições.
Pesquisadores sustentam a tese de que aliados do mártir orquestraram um plano audacioso para preservar o menino. Mãe e filho foram levados para Quartel Geral, a 300 quilômetros de Vila Rica, e um amigo do alferes, Luiz de Almeida Beltrão, assumiu a paternidade do garoto, registrando-o como João Almeida Beltrão, para evitar vestígios de sua ascendência. “Esse amigo também era de espada (guarda) e servia em Quartel Geral (onde o regimento era preciso) em razão da exploração de diamantes”, explica Adalberto Guimarães Menezes, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), onde ocupa a cadeira cujo patrono é Tiradentes.

Árvore genealógica

Embora haja pesquisadores que considerem a história fantasiosa, os que a defendem se baseiam em um documento encontrado em Martinho Campos, a 40 quilômetros de Bom Despacho e a 50 quilômetros de Quartel Geral. Trata-se da certidão de óbito de um curandeiro batizado de Belchior, que viveu em Ibitira, povoado de Martinho Campos, e que é tido como filho de João, o herdeiro do mártir. “Belchior morreu, aos 100 anos, em 1925. No rodapé da certidão de óbito dele consta que era neto de Tiradentes”, informa o pesquisador e escritor Orlando Ferreira de Freitas, que estuda a árvore genealógica das famílias da região há mais de 20 anos.

A certidão de óbito de Belchior foi uma das provas usadas pelo governo federal para conceder a pensão a descendentes do alferes. O nome completo dele era Belchior Beltrão de Almeida Tiradentes. Depois de instaurada a República, em 1889, pesquisadores dizem que familiares do mártir no Oeste mineiro adotaram o apelido do herói como sobrenome, pois o fim do Império afastou qualquer possibilidade de perseguição à linhagem. A certidão de óbito de Belchior é o documento mais antigo encontrado com o sobrenome Tiradentes. O curandeiro era avô do pai dos irmãos de Bom Despacho: José Maria, José Fausto, Maria do Carmo e Maria José.


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