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Estado de Minas

Familiares de adolescente baleada temem represálias de delegado

Exame negativo complica delegado - Policial suspeito alega que a jovem tentou se matar, mas análise não encontrou vestígios de pólvora nas mãos dela


postado em 23/04/2013 07:34 / atualizado em 23/04/2013 11:47

O exame residuográfico nas mãos da adolescente A.L.S., de 17 anos, deu negativo, segundo a Corregedoria da Polícia Civil. Ela está internada em estado grave no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, depois de ser baleada na cabeça para retirada de uma bala. Ela levou o tiro quando estava na estrada que liga Ouro Preto a Lavras Novas, com o delegado Geraldo do Amaral Toledo Neto, de 40, com quem mantinha relacionamento amoroso. A suspeita é de que o projétil tenha saído de uma arma do policial. Ele alega que a jovem tentou suicídio, mas a falta de vestígios de pólvora nas mãos da jovem, a princípio, não prova essa versão.

Por meio de nota, a delegada Águeda Bueno, que investiga o caso, informou que o laudo do Instituto de Criminalística indicando que ela pode não ter tido contato com arma de fogo será anexado ao inquérito. Segundo Agueda, no fim de semana foi cumprido mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça na casa de Paula Rafaela Maciel, de 24, ex-namorada de Toledo. A advogada de Geraldo Toledo, Maria Amélia Tupynambá, informou que o resultado não é conclusivo e não compromete a defesa. Segundo ela, outros exames vão complementá-lo.

Ontem, o Estado de Minas conversou com a mãe de A. Poucas palavras e a repetição da frase “não posso falar” revelam a apreensão dela. Antes, a família se reuniu com o deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa Gerais, Durval Ângelo, e com representantes da Corregedoria Geral da Polícia Civil. Os pais queriam passar informações que podem contribuir para a investigação.

Cabisbaixa e com o rosto marcado por olheiras, a mãe evitou dar detalhes da reunião e apenas balançou a cabeça para confirmar que se sente ameaçada. O temor de sofrer represálias é tanto que ela evita comentar a versão do delegado de que A. tentou suicídio. Mesmo com medo, ela se emociona e pede uma solução para o caso. “Não quero me pronunciar ou tirar conclusões antes da investigação. A única coisa que quero é justiça”, cobra.

A família da jovem vive em Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado, mas está em Belo Horizonte desde que ela foi transferida para o HPS. A apreensão em relação a ameaças fez, inclusive, com que a família proibisse a unidade de saúde de divulgar novidades sobre o estado de saúde da jovem. “Ela está do mesmo jeito”, contou a mãe. Orientada pelo representante da corregedoria, ela evitou falar até mesmo sobre como está se mantendo na capital.

Para se deslocar até a Assembleia, a mãe e o padastro de A. esconderam o rosto com bonés e óculos escuros. A reunião foi realizada a portas fechadas e nem mesmo funcionários da Casa tiveram acesso ao local. O encontro começou às 10h e durou cerca de uma hora. Para despistar quem estava do lado de fora, o casal só deixou a sala de reuniões meia hora depois da saída de Durval Ângelo.

O deputado disse que atendeu a solicitação da família ao perceber que a mãe e o padrasto da jovem se sentiam amedrontados. “Acionamos a corregedoria e fizemos essa reunião para dar proteção a essas pessoas, que estão com medo de um homem que é perigoso e é investigado por vários crimes”, explica. Durval se refere à prisão de Toledo por suspeita de envolvimento em uma quadrilha nacional de roubo de caminhões e falsificação de documentos. Ele chegou a ser preso por uma semana em 2011, mas foi liberado para responder em liberdade.

INDICIADO Toledo foi indiciado por uma agressão a A. em março, pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, na qual trabalhou cobrindo licença de outro delegado. Onze dias antes de a jovem ser baleada, foi decretado o afastamento entre a vítima e Toledo. Como era uma medida urgente, ele deveria ter sido intimado imediatamente, mas o Tribunal de Justiça informou à corregedoria que o oficial de Justiça não conseguiu encontrá-lo. Ele estava lotado na Delegacia Especializada de Atendimento à Pessoa Deficiente e ao Idoso. Ele se entregou na tarde do dia 15 e continua preso na Casa de Custódia da Polícia Civil, no Bairro Horto, na Região Leste de BH. (Colaborou Patricia Giudice)


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