Ao longo da Avenida Dom Pedro I, entre a Região Norte e Venda Nova, as máquinas avançam para alargar a via que será um dos três corredores do transporte rápido por ônibus (BRT, da sigla em inglês) em Belo Horizonte. Segundo moradores e comerciantes da região, as desapropriações caminham bem nos imóveis na própria avenida, mas ninguém sabe o que vai acontecer com cerca de 50 famílias que têm casas na Rua das Pedrinhas, em Venda Nova, via paralela à Pedro I que terá imóveis desapropriados.
Há 20 dias, a presidente da Associação dos Moradores da Pedro I, Vilarinho e adjacências, advogada Ana Cristina Drumond, participou de audiência pública na Câmara Municipal e ouviu da prefeitura que em até um mês a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) reajustaria os valores das propostas já feitas e dar retorno aos moradores. “Isso ainda não aconteceu. Há imóveis em que os processos de desapropriação já estão correndo na Justiça e os donos nem foram notificados. A prefeitura está se esquecendo que aqui moram pessoas”, diz Ana Cristina.
O aposentado Isaú Archanjo, de 82 anos, há 52 morando na Rua das Pedrinhas, uma das mais tradicionais de Venda Nova, recebeu proposta de R$ 110 mil pela casa construída com paredes duplas, três quartos, sala, cozinha, varanda e ampla área verde. “Com esse valor não consigo nem jogar no chão e transportar as coisas que tenho”, reclama. Segurando o desenho que fez da casa, ao lado da filha Magda Rosana, de 48, ele se emociona. A filha não consegue entender o motivo de tanto descaso. “Ninguém até hoje conseguiu nos explicar qual é o projeto, o que vai ser feito ou qual parte do lote que vai precisar ser demolida. Até agora só nos avisaram que a avenida deve ocupar uma faixa de cerca de um metro para dentro do lote e onde está a casa eles vão precisar posicionar as máquinas”, afirma Magda.
Os vizinhos José Francisco Pereira, de 60, e Vitório Pereira Filho, de 62, têm uma longa história em suas casas, na Rua das Pedrinhas também, mas até hoje não receberam comunicado oficial da PBH sobre a desapropriação. “É uma tensão maluca, temos conhecimento que o BRT vai passar aqui, mas não sabemos o que vai acontecer num futuro próximo. As máquinas estão se aproximando e fica essa dúvida”, diz Vitório. “Se nos for oferecido um valor compatível, não vamos atrapalhar a modernização da cidade. Mas precisamos ser respeitados”, acrescenta Francisco.
VIAS COMPLICADAS
O problema das desapropriações pode ser ainda maior em outras duas regiões da cidade, comprometendo a viabilidade de duas novas avenidas antes da Copa do Mundo. Em outubro do ano passado, a PBH já tinha levantado 342 imóveis a serem retirados para abertura da Via 710, que fará a ligação das avenidas Cristiano Machado e dos Andradas, sem passar pelo Centro de BH. O Estado de Minas fez contato com a Sudecap, responsável pelas desapropriações, mas até o fechamento desta edição os números não foram enviados pela empresa.
O problema se repete na Via 210, avenida que fará a conexão da Tereza Cristina com a Via do Minério, na Região do Barreiro. Em outubro, a previsão era de 155 famílias a serem retiradas, sendo que 56 já tinham deixado os imóveis. Segundo o portal da transparência para a Copa do Mundo, as desapropriações da Via 210 estão previstas para serem concluídas em julho deste ano, enquanto as obras vão até setembro. Na Via 710, tanto a construção quanto a retirada dos moradores estão previstas para terminarem em dezembro deste ano.