A Corregedoria Geral da Polícia Civil deu nessa sexta-feira mais um passo na tentativa de solucionar o caso envolvendo o delegado Geraldo Toledo Neto, de 40 anos, e a adolescente A.L.S., de 17, baleada na cabeça quando estava na companhia do policial. Pela manhã, uma grande equipe de agentes levou Toledo a Ouro Preto, na Região Central do estado, para a reconstituição do crime com base na versão contada por ele – considerado o principal suspeito de atirar na cabeça da ex-namorada em 14 de abril, na estrada que liga a cidade histórica ao distrito de Lavras Novas. Mesmo com o resultado do exame residuográfico, que não encontrou vestígios de pólvora nas mãos da jovem, o delegado sustentou o argumento de que ela tentou suicídio.
Acompanhado da advogada Maria Amélia Tupynambá Cordeiro, Toledo refez o trajeto entre o posto de combustíveis, na entrada de Ouro Preto, e a unidade pronto atendimento (UPA) onde a jovem foi atendida. A corregedoria bloqueou a passagem de veículos e pedestres nos locais onde ocorria a reconstituição. O carro do delegado – um Peugeot conversível placa KQN 6696 – foi usado no percurso e uma modelo ocupou o lugar da adolescente na simulação.
A primeira parada foi feita no último local em que a adolescente foi vista consciente. Câmeras de segurança do posto registraram o momento em que os dois chegaram no carro de Toledo. Na reconstituição, o delegado para o veículo em frente a uma bomba de gasolina e desce, enquanto a frentista abastece. Ele vai ao banheiro, volta e pede um refrigerante na loja de conveniência. Depois de pagar, ele volta ao carro e vai embora. Depois Toledo levou os policiais ao trevo de Ouro Preto, onde o casal teria iniciado uma discussão, mas a imprensa foi impedida de se aproximar. Depois da rápida parada, eles entraram na BR-356, em direção a Lavras Novas. Pararam novamente em frente ao Posto Saramenha antes de seguir viagem.
No km 96, a rodovia foi bloqueada nos dois sentidos para simular a manobra em que Toledo trocou de pista, como se quisesse voltar para Belo Horizonte. Na versão do delegado, esse seria o momento em que a discussão se intensificou e no qual ele sustenta que a jovem tentou suicídio. Na reconstituição, a jovem que representava a adolescente saiu do carro, retirou da bolsa uma arma e apontou para a própria cabeça.
Em seguida, Toledo relata que entrou no Peugeot e dirigiu até a UPA. Em sua versão, ele estacionou o carro na entrada principal da unidade de saúde e retirou do veículo a jovem. Sem camisa, ele entrou no local e conversou com a equipe do pronto atendimento. Depois de cerca de 10 minutos, o delegado saiu, voltou para o carro e dirigiu para fora da unidade. Toledo foi levado em uma viatura da corregedoria e só desceu nos momentos de simulação. A equipe da Polícia Civil impediu que a imprensa se aproximasse e não respondeu a perguntas, o que dificultou a compreensão da reconstituição.
Nessa sexta-feira à tarde, o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deputado Durval Ângelo, afirmou que enviará documento ao governador Antonio Anastasia, em protesto contra a falta de transparência na divulgação de informações sobre o caso. "A corregedoria está agindo de forma errada. Se fosse um cidadão comum, a imprensa teria acesso irrestrito às cenas da reconstituição e o vídeo que registra o momento em que Toledo tira do bolso uma arma semelhante à do crime já teria vazado". Ele disse ainda que dois corregedores já refizeram os passos do casal dois dias depois do crime e não encontraram vestígios de sangue no trecho da estrada apontado como local do disparo. "Essa reconstituição só vai mostrar que ele está se contradizendo", acredita.