Ao contrário de algumas mulheres que escondem sua data de nascimento, dona Josefina orgulha-se de tamanha longevidade“Tenho 111 anos e estou felizQuanto mais a gente viver, melhor!”, diz, com um sorriso largo no rosto de poucas rugasTímida diante de desconhecidos, mas atenta a tudo que se passa ao redor, aos poucos ela se solta e recorda episódios de um passado rico em histórias“Eu estava com oito anos quando falaram que um cometa ia passar no céuEu fui pra janela para ver e lembro-me como se fosse hojeA gente enxergou aquela cauda grande deleFoi uma beleza”, conta, referindo-se ao cometa Halley, que rasgou o céu brasileiro na madrugada de 19 de maio de 1910.
Dona Josefina não esquece também o dia em que o primeiro carro chegou a Rio Espera, cidade de 6.078 habitantes de acordo com o Censo 2010
MEMÓRIA Josefina nasceu em uma família tradicional de Minas GeraisEla é neta por parte de mãe do doutor José Francisco Netto (1827-1886), nomeado Barão de Coromandel por dom Pedro II em reconhecimento aos serviços médicos prestados durante um surto de varíola que atingiu o estadoNascido em Congonhas e radicado em Itaverava, o Barão de Coromandel chegou a governar a província entre 1880 e 1881
Em 22 de fevereiro de 1930, ainda em Rio Espera, ela se casou com Jacob Nogueira da Silveira, dentista por instrução e comerciante e vereador por vocaçãoCom seu esposo teve três filhos – Aloísio, José e Geraldo –, e adotou mais um, a Nazinha, que vive com ela até hoje, aos 86 anosFoi no fim da década de 1950, quando Jacob recebeu o convite de um amigo para trabalhar em São Paulo, que Josefina teve que deixar sua amada terraO marido veio antesEla resistiu às cartas que chegavam com frequência, mas depois pegou a estrada também, em 1959Os quatro filhos acompanharam a família e se estabeleceram na capital paulistaQuando Jacob faleceu, em 1982, Josefina já não tinha mais razões para voltar.
Hoje, ela tem cinco netos e dois bisnetos, e se o tempo deixar ainda verá outros nascerem“Ela diz que não é fruta raraMas ela desce e sobe escada, toma banho sozinhaEla tem muita vontade de viver”, conta Geraldo de Assis Silveira, de 71, administrador, o filho caçulaAos 111 anos de idade, Dona Josefina carrega em si mais vida que muitas pessoas.