Durante a reunião do conselho, o processo de registro da festa foi apresentado pelo gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha, Luís Gustavo Molinari Mundim, lembrando que a política da instituição é inscrever as manifestações em livros específicos. “Estamos desenvolvendo um trabalho na Comunidade do Arturos, em Contagem, na Grande BH, que será registrado no Livro de lugares e, em breve vamos começar um trabalho para o Livro de formas de expressão”, diz Mundim. Durante o processo de instrução do registro foram levantadas e analisadas informações e dados que destacam a importância da festa como bem cultural imaterial.
Durante a reunião do Conep, 10 membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos viajaram 528 quilômetros até Belo Horizonte para acompanhar a decisão dos conselheiros. Eles ouviram atentamente os pareceres positivos e se emocionaram com o resultado. Em outubro, durante 15 dias, há várias etapas da celebração: meio-dia (primeiro dia da novena), novenas (preparação espiritual para a festa), leilões (durante cinco noites após a celebração da novena), lavagem da igreja pelas mulheres, quinta do angu (distribuição de refeição), buscada da santa (encenação da aparição da Virgem do Rosário), mastro a cavalo (após a última celebração da novena, considerado o apogeu da festa), reinado (caminhadas e cortejos que conduzem os reis festeiros), missa da festa, distribuição do doce, coroação, buscada do cofre, divertimentos noturnos, feira dos mascates, tamborzeiros e congada.
Orgulho
“Estou muito orgulhoso e emocionado, pois meu pai, Manoel Bento Machado, falecido em 1999, foi secretário da irmandade por 10 anos. Eu fui rei festeiro, em 2006, quando a festa foi inventariada, com todo o levantamento histórico. Além do reconhecimento de uma manifestação singular, o registro vai permitir que o evento mantenha a originalidade, já que, em algumas épocas, sofreu tentativas de ser desvirtuada. Agora, pelo visto, vai continuar do jeito que sempre foi”, disse. Na reunião do conselho, que ocorreu na sede do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), o vice-presidente da irmandade, José Olímpio Soares, contou que começou a frequentar a Festa do Rosário “bem pequeno, ainda no colo de mãe”. O próximo passo, adiantou, será reunir com os membros da irmandade e conduzir trabalhos de educação patrimonial nas escolas da região.
Tradição de dois séculos ganha reconhecimento como bem imaterial de Minas. O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) aprovou nessa quarta-feira, por unanimidade, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, como a expressão de religiosidade e de fé. De acordo com informação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), trata-se do segundo bem registrado, sendo o primeiro, inscrito no Livro dos saberes, o modo de fazer o queijo da região do Serro. “É um privilégio ter esse reconhecimento para uma festa secular”, disse, ontem, o integrante da irmandade Manoel Aparecido Júnior, de 41 anos, nascido em Chapada do Norte e residente na capital. A festividade secular, agora no Livro das celebrações, movimenta irmãos, fiéis, comunidade e a população do Médio Jequitinhonha.