Jornal Estado de Minas

Delegado suspeito de tiro em namorada se diz inocente e alvo de perseguição de desafetos

Em carta enviada ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Geraldo do Amaral Toledo Neto manteve versão de que a jovem tentou suicídio. No entanto, a polícia está levantando as contradições do caso. O crime foi discutido nesta quinta-feira em audiência pública

Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri Guilherme Paranaiba
- Foto: Reprodução Facebook
O delegado Geraldo do Amaral Toledo Neto mantém a versão de que namorada de 17 anos, A.L., tentou se matar com um tiro na cabeçaEle é suspeito do crime, ocorrido a estrada que liga Lavras Novas a Ouro Preto, e os depoimentos estão revelando contradições na cronologia dos fatosEm carta enviada ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT), o policial se disse inocente e alvo de uma perseguição de desafetos dentro da Polícia Civil

Uma audiência pública foi solicitada pelos deputados para discutir e colher informações sobre o casoInicialmente, a Comissão contava com a presença de Toledo, mas a Justiça, por meio da decisão da juíza Lúcia de Fátima Magalhães, negou a saída dele da Casa de Custódia da Polícia Civil - onde está preso

De acordo com a polícia, a adolescente foi baleada na tarde de 14 de abrilEla estava na companhia do delegado, dentro do carro dele, onde os dois chegaram a discutirToledo desde sempre sustentou a tentativa de suicídio, mas o exame residuográfico feito nas mãos da adolescente não encontrou pólvoraDepois do tiro, ele deixou a adolescente na Unidade de Pronto Atendimento de Ouro Preto

Compareceram na audiência de hoje a delegada que investiga o caso Águeda Bueno do Nascimento e o corregedor-geral da Polícia Civil de Minas, Renato Patrício TeixeiraEla deu detalhes do inquérito e Teixeira apontou histórico da conduta complicada de Toledo
Segundo o corregedor, o policial é investigado em 10 inquéritos, nove sindicâncias e dois processos administrativos.

Consciência policial

De acordo com a delegada, a cronologia dos fatos levantada pela investigação mostra que Toledo, com a consciência de policial, tentou atrapalhar ao máximo o trabalho da corporaçãoEla apontou três fatos que comprovam a tentativa de desviar atenções dos investigadores para provas do crimeNo dia do tiro, Toledo ligou para o 190 da PM pedindo o telefone da delegacia de Ouro PretoEm contato com os colegas da unidade policial, ele pediu apoio e logo depois desistiu da ajuda dizendo que já havia resolvido a situaçãoComo segundo fator, a Águeda Bueno apontou o fato de Toledo ter abandonado a jovem no hospital sem documentos ou identificaçãoPor último, a delegada disse que a arma do crime nunca apareceu e que para dificultar a cronologia, Toledo abandonou o carro na casa de um amigo

Tiro na cabeça

Na carta escrita de próprio punho, Toledo disse que A.Lentrou em contato pedindo para ir a Ouro Preto e que, muito nervosa, no trajeto ela tentou puxar a chave do carroEle teria descido do veículo e a jovem atirado na própria cabeçaNo entanto, a polícia trabalha com um novo laudo pericial


Um médico-legista afirma que o ferimento na cabeça da adolescente não condiz com tiro de curta distância, característica de suicídioO médico que atendeu a jovem no Hospital João XXIII, onde ela permanece internada, fez fotos da cabeça dela assim que A.Lentrou na unidade de saúdeO profissional tinha noção de que a cirurgia mudaria o “cenário” do ferimento e por isso, guardou essas fotos que agora estão com a políciaEssa prova pode derrubar, mais uma vez, a versão de Toledo

Além de contar detalhes do dia do crime, o delegado também disse na carta que é alvo de uma armaçãoEle citou episódios da vida pessoal e da família dele que o colocariam como alvo de desafetosO delegado também tentou se mostrar como protestos e “padrinho” da jovem baleada para desviar qualquer hipótese de crime contra ela