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Estado de Minas

Indústria farmacêutica resiste à pressão para restringir venda de medicamentos

Fracionar venda e dificultar acesso direto do consumidor aos remédios sem tarja são soluções apontadas pelo Conselho de Farmácia para reduzir intoxicação, mas os fabricantes resistem


postado em 11/05/2013 06:00 / atualizado em 11/05/2013 07:15

Enquanto os casos de intoxicação por remédios crescem no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, o Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF/MG) aponta duas medidas para reduzir a automedicação e incentivar um consumo mais seguro. A primeira é a adoção de uma norma que deixe os medicamentos vendidos sem prescrição atrás dos balcões das farmácias, sem acesso direto do consumidor. A segunda é a venda fracionada em maior escala, segundo o vice-presidente do conselho, Claudiney Ferreira.


Existem os medicamentos sem tarja e vendidos sem prescrição médica, os de tarja vermelha, que exigem receita, e os de tarja preta comercializados com a retenção do pedido do médico. “No caso dos sem tarja, o simples fato de colocá-los atrás do balcão poderia servir para obrigar o contato da população com o farmacêutico para o entendimento do histórico do paciente”, diz Ferreira.


Já o fracionamento evitaria o uso de remédios comprados para outros problemas, mas que acabam não sendo usados por conta da quantidade comprada em outra ocasião. “Nesse caso esbarramos nos lucros da indústria farmacêutica. Já está regularizada a possibilidade desse tipo de venda, mas não há uma obrigação”, afirma o vice-presidente do CRF. Na última quarta-feira, farmacêuticos do conselho estiveram em quatro estações de metrô de BH para alertar a população sobre riscos do uso de remédios sem orientação médica.


A administradora de empresa Carla Ferreira de Almeida, de 33 anos, tomou um susto no ano passado quando o filho Tiago, de 9, ingeriu aspirina para curar uma dor na perna e teve reação adversa que provocou inchaço no corpo. “Ele estava na casa de um amigo e tinha jogado bola o dia inteiro. No fim do dia se queixou de dor e a mãe do colega achou melhor dar o medicamento para ajudar”, conta Carla.


Pouco tempo depois o menino começou a sentir coceira nos olhos e rapidamente ficou com as mãos e o rosto inchados, gritando de dor. “Quando cheguei ao hospital a médica me perguntou se eu tinha dado algum remédio. Falei da aspirina e ela disse que ele não poderia ter tomado, porque não se sabia de alguma provável alergia”, conta Carla.
Tiago precisou tomar injeções e descobriu ser alérgico ao medicamento, informação que hoje está em todos os locais que ele frequenta, para evitar novos transtornos. “A automedicação é prejudicial, pois pode mascarar uma doença mais grave”, afirma a mãe.


Pressão

Segundo a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2009 a entidade colocou os medicamentos sem prescrição atrás do balcão das farmácias, mas a medida foi revogada no ano passado por causa de uma pressão sofrida pelo setor de produção. Foram cerca de 70 ações judiciais, além de leis estaduais em 11 estados tentando anular a norma.


Além disso, a agência informa que um estudo mostrou que a mudança não conseguiu reduzir as intoxicações do país, o que motivou a revogação da resolução. Sobre o fracionamento, a Anvisa informa que já está regulada a venda fracionada no Brasil, mas não pode obrigar o comércio a cumpri-la. Para isso, diz que o Congresso Nacional está estudando a criação de uma lei para regular o comércio.


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