O presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Fernando Júnior, calcula que a força-tarefa montada na noite de sexta-feira para flagrar motoristas alcoolizados reduziu entre 30% e 40% o movimento da clientela no Bairro de Lourdes, principal reduto da gastronomia de BHPara ele, houve uma dose de exagero do poder público ao direcionar todos os veículos às blitzes“Não sou a favor da mistura direção e álcool, mas o que ocorreu foi uma peça teatralMuitos frequeses não conseguiram estacionar seus carros e decidiram ir para casaA efetividade da operação foi pequena: apenas 10 motoristas com suspeita de embriaguez”, criticou o empresário, que é dono da churrascaria Porcão.
Fernando Areco, proprietário de A Favorita, na Rua Santa Catarina, não poupa críticas também à nova estratégiaO empresário diz que as mudanças no trânsito impediram parte de clientela de chegar ao seu empreendimento“Reclamei aos militares, mas eles me disseram que o consumidor poderia chegar ao restaurante dando voltasCriaram um afunilamento no trânsito, semelhante a um curralPerdi 30% da clientelaUma coisa é a blitze convencional; outra é a que foi feita naquela noite, parecida com terrorismo”, desabafou.
As críticas dos comerciantes são endossadas pelo consultor em assuntos urbanos e presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da Associação Comercial de Minas (ACMinas), José Aparecido Ribeiro, para quem as blitzes de sexta-feira podem ser classificadas como “aparato de guerra”“Aterrorizaram quem chegava nos mais de 40 restaurantes da região
Outras regiões
Por outro lado, o médico e psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, que ajudou a coordenar várias pesquisas sobre a Lei Seca, é favorável à nova estratégia adotada pelo poder público, desde que os motoristas sejam abordados de forma aleatória e esse tipo de operação ocorra em todas as regiões da cidade“As blitzes precisam ser visíveis para a populaçãoNão podem ser sempre no mesmo localA fiscalização inibe a pessoa de beber e assumir a direção do veículo”, diz Campos, que, em 2009, divulgou estudo com dados curiosos.
Batizada de “Beber e dirigir em BH” e patrocinada pela Associação Brasileira Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas (Abraço), a pesquisa foi feita, às sextas-feiras e sábados, com 1.727 condutores nas nove regionais de BHEles foram abordados das 23h às 3hO maior percentual de infratores à Lei Seca ocorreu no Barreiro, onde 28,1% dos motoristas abordados haviam ingerido álcoolA segunda regional foi a Norte (18,5%)A Centro-Sul, onde está Lourdes, ficou em terceiro (17,2%)Depois, vieram Oeste (17%), Noroeste (15,8%), Nordeste (14,1%), Leste (12,9%), Pampulha (9,8%) e Venda Nova (6,2%)
Como ficou?
`Transbebum`
Proposta engavetada
Em julho de 2008, poucas semanas depois de a Lei Seca entrar em vigor, donos de bares e restaurantes se desesperaram diante de uma queda média de 40% na freguesiaO índice preocupou também o poder público, pois o setor é um dos motores da economia do municípioNão é à toa que BH é chamada de a capital dos botecos – há cerca de 10 mil na cidadePara reverter a queda, uma proposta discutida pela prefeitura, sindicato dos taxistas e Abrasel foi a criação do “Transbebum”O serviço funcionaria da seguinte forma: a BHTrans criaria itinerários para que microônibus percorressem regiões com grande concentração de bares a diversos pontos de táxis da cidadeHavia a possibilidade de as tarifas serem mais baratas do que as convencionaisA ideia, porém, não saiu do papel.