A temporada é de recapeamentos de ruas e avenidas de Belo Horizonte, mas o asfalto novo, normalmente motivo de comemoração, desta vez chegou junto com a polêmica e insatisfação. Polêmica quanto aos critérios adotados pela prefeitura para decidir quais trechos devem ser revitalizados. Insatisfação dos que acham que muitas vias estão ganhando novo piso sem necessidade, enquanto outras continuam esburacadas. A revolta de quem convive diariamente com os transtornos gerados pela falta de manutenção das vias pode ser medido em números: desde o ano passado, a população protocolou mais de 200 pedidos de recapeamento de vias apenas na Regional Centro-Sul. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) aproveita o período de estiagem para fazer os serviços, normalmente à noite, mas moradores reclamam que algumas pistas com pavimento de qualidade estão recebendo cuidados, em detrimento daquelas que realmente precisam.
O comerciante Fernando José da Cruz, de 49 anos, é exemplo dessa revolta. Ele tem uma loja na Rua Platina, principal corredor de trânsito do Bairro Prado, na Região Oeste da capital, e conta que já reclamou diversas vezes na prefeitura sobre as condições do asfalto, que está trincado, cheio de ondulações e buracos. “Há anos eles não trocam esse asfalto. Para complicar, quando chove se formam poças e a gente tem de colocar cavaletes na rua, para que o trânsito de carros não jogue água dentro das lojas. Não adianta reclamar. Todo mundo sabe dessa situação, mas a prefeitura prefere recapear ruas e avenidas de bairros mais nobres”, criticou Fernando.
Para o consultor Marcelo Henrique Ribeiro, especialista em pavimentos, a escolha realmente é difícil. “Sei que muitas vezes o critério é político, mas há aqueles que são essencialmente técnicos, ou técnicos e econômicos. Nesse caso, às vezes é melhor recapear algumas vias que nem estão tão ruins assim, para evitar gastos maiores no futuro, por causa de um estrago maior”, afirma.
O ideal, segundo ele, é manter um trabalho constante e de qualidade na manutenção do asfalto. “Quem vai regularmente ao dentista corre menos risco de, três anos depois, precisar fazer um canal”, compara o consultor. “Como os recursos são sempre escassos, é importante avaliar a importância da via e se o desconforto causado pelos buracos é suportável por mais algum tempo, para atender aquela rua que realmente está mais deteriorada.”
A Sudecap diz, por nota, que a definição ocorre a partir das prioridades definidas em comum acordo com a BHTrans e as nove regionais, que apontam os trechos em pior estado ou ruas de grande circulação de veículos. Até o fim de maio, segundo o órgão, 54 quilômetros de asfalto serão trocados, principalmente nas regiões Centro-Sul e Norte, o que representa um terço da extensão que a prefeitura pretende renovar.
A empresa municipal sustenta que faz vistoria técnica nos locais indicados pela BHTrans e pelas regionais para verificar as condições do pavimento, os tipos de calçamentos e o sistema de drenagem, além da classificação da via (arterial, coletora primária ou secundária e local). Em nota, a Sudecap explica que avalia se há possibilidades de apenas uma intervenção na via ou se é necessário algum outro tipo de manutenção “para manter a integridade do local”.
Até o fim do mês, serão recapeadas a Avenida dos Bandeirantes, entre as praças da Bandeira e JK; a Raja Gabaglia, entre a Rua Treze de Setembro e o Trevo do BH Shopping; a Rua Domingos Vieira, no Bairro Santa Efigênia, entre a Rua Bernardo Monteiro e a Contorno; a Avenida Afonso Pena, entre as praças Tiradentes e da Bandeira, na Serra; a Avenida do Contorno, entre a Praça Milton Campos e a Rua Carangola; e a Avenida Amazonas, entre Contorno e a Praça da Estação.
A Sudecap não informou o planejamento de obras para o segundo semestre, mas a previsão de gastos com recapeamento é a mesma do ano passado – R$ 55 milhões –, assim como a estimativa de quilômetros recapeados: cerca de 145.