Jornal Estado de Minas

Ruas viram motéis em Belo Horizonte

Motoristas pegam mulheres e travestis na Avenida Afonso Pena para fazer programas no Mangabeiras, onde moradores reclamam de sujeira e brigas dentro de carros e nas calçadas

Tiago de Holanda Patrícia Giudice
Presença de prostitutas em BH, como na orla da lagoa, está aumentando. Copa deve atrair mais ainda, segundo associação - Foto: TULIO SANTOS/EM/D.A PRESS


 

Sexta-feiraFaltam poucos minutos para a meia-noiteUma Doblò estaciona na Rua Aldo Casillo, no Bairro Mangabeiras, Centro-Sul de BHO carro para sob a copa de uma árvore, em ponto pouco iluminado pelos postesNão é possível discernir a cor do veículo, mas dá para ver o motorista sair sem camisa e ficar em pé de frente para a porta aberta do passageiro e fazer sexo com uma mulher.

No bairro predominam residências luxuosas e as ruas são pouco movimentadas na maior parte da noite, muita gente não teme “praticar ato obsceno em lugar público”, crime que pode ser punido com multa ou detenção de três meses a um ano, segundo o artigo 233 do Código PenalO problema é antigo, mas moradores relatam que a situação piorou“As queixas se tornaram mais frequentes há dois anos”, informou o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras, Marcelo Marinho Franco.

A maioria dos motoristas indiscretos, segundo ele, é cliente de garotas de programa e travestis que trabalham nas calçadas da Avenida Afonso Pena, tradicional ponto de prostituição“Esses indivíduos passam de carro, pegam aquelas pessoas em exposição ali e levam para o MangabeirasFazem ruas de motel”, constataUma das ruas mais problemáticas é a Aldo Casillo“É a que tem mais reclamações

De tempos em tempos, solicitamos à Polícia Militar que dê prioridade a esse localPedimos que uma viatura passe toda noite, com giroflex ligado e tocando a sireneE a PM tem nos atendido, na medida das suas limitações”, disse Franco.

Em uma residência da Aldo Casillo, uma administradora de empresas de 38 anos mora com o pai, de 73, e a mãe, de 72“Sempre houve movimentação grande aqui, mas piorou muito de dois, três anos pra cáQualquer dia tem, mas sexta e sábado é piorEles costumam chegar depois das 22h e ficam na madrugadaSai um carro, chega outroNo domingo, a gente encontra essa sujeira”, dizSão preservativos e papel higiênico  na calçadaA mãe critica a PM
“Tinha um casal fazendo sexo aqui em frenteChamei a polícia, que só conversou com o pessoal, que se mandou e ficou por isso mesmo”, disse.

Na Comendador Viana, por volta das 23h30 de um sábado, um Siena estava estacionado atrás de uma caçambaO “esconderijo” não era suficiente para omitir o casal que namorava no banco de trásAs ruas Engenheiro Bady Salum e Paschoal Riccio, no limite com o Parque das Mangabeiras, estão entre as mais procuradas, segundo o presidente da associação de moradores“Sexta, sábado e domingo são os piores diasVárias ruas sofrem com esse problema”, diz uma psicóloga de 50 anosPouco depois das 23h de uma sexta, havia um Palio estacionado na Paschoal Riccio, ao lado da Praça Luiz Otávio FragaApesar de o veículo estar em um ponto escuro, sob uma árvore, a janela entreaberta deixava perceber o banco reclinado para trás, onde um casal fazia sexo.

Afonso Pena

Ao longo da Avenida Afonso Pena, principalmente entre as avenidas Brasil e Bandeirantes, prostitutas se exibem nas calçadas durante a noiteElas ficam em pé, encostadas em postes e placas, sentadas em pontos de ônibusUsam roupas diminutas, mas poucas chegam à ousadia de travestis que mostram os seios, ficam apenas de calcinhaPor volta das 21h30, uma garota trabalhava no quarteirão entre a Rua Maranhão e a Avenida do ContornoSegurava uma bolsa, vestia uma blusa rosa decotada, saia preta justa e curtaComo a maioria das colegas, encarava com insistência, e às vezes com sorriso insinuante, os homens que passavam de carroSem revelar nome nem idade, contou que trabalha no local há cinco anos e que é comum fazer sexo no carro do freguês“A gente vai mais a motel, mas às vezes é na rua mesmo, depende da vontade do cliente”, explicouEla confirma que o Mangabeiras é um dos endereços preferidos e que já foi abordada duas vezes pela polícia dentro de carros de clientes“O policial só disse que rua não é lugar de fazer isso e a gente foi embora”, relatou.

A presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais, Cida Vieira, admite que algumas se relacionam com cliente dentro dos veículos: “O carro é propriedade do condutor, cabe a ele dizer o que pode fazer no carroSe é uma coisa rápida, pode ser feita no carroQuando é mais demorada, elas pedem para ser em motel”, acrescenta.