Os estudantes de direito que participaram em março de trote polêmico na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) negaram que o episódio tenha tido conotação machista, racista ou nazista, em depoimento à comissão de sindicância que apurou o incidente. A informação foi passada ao EM por um funcionário da instituição que teve acesso ao relatório da investigação, mantido em sigilo. A comissão, que concluiu seus trabalhos na sexta-feira, encaminhou ontem o documento à Advocacia Geral da União (AGU), que tem de 15 a 30 dias para analisá-lo.
A comissão realizou sua tarefa no prazo de 60 dias e foi formada por três professores da Faculdade de Direito. Três questões foram averiguadas: se o trote ocorreu; tendo ele havido, se seus participantes consumiram bebida alcoólica; e se houve manifestação racista, machista ou nazista.
Durante a sindicância, foram ouvidos os seis jovens mostrados nas fotos, testemunhas indicadas por eles e outras sugeridas pela comissão, inclusive algumas não pertencentes à comunidade acadêmica. Embora tenham admitido a ocorrência do trote, atividade proibida na UFMG, veteranos e calouros insistiram no discurso de que não houve qualquer ato de caráter machista, racista ou nazista. Os professores foram também às salas de aula para ouvir os demais alunos do primeiro e segundo períodos do curso. O relatório final pode inocentar os envolvidos ou sugerir três tipos de penalidade: advertência, suspensão e expulsão. A AGU vai analisar os aspectos formais e jurídicos do parecer, não tendo competência para opinar sobre o mérito das conclusões contidas nele.
Mutismo
O Centro Acadêmico Afonso Pena (Caap) evita avaliar se os envolvidos no trote devem ser punidos. “Por enquanto, a única coisa que podemos fazer é aguardar o relatório da comissão ser divulgado. Nós, como estudantes de direito, estamos esperando para conhecer os dados concretos, saber o que os estudantes alegam, para definirmos uma posição”, afirma o presidente, Felipe Galo. Em março, o Caap divulgou nota em que “repudia veementemente a atitude ocorrida, bem como o assédio virtual que tem recaído sobre os protagonistas das fotos”. Segundo a nota, o incidente foi uma “afronta a garantias constitucionais, como a dignidade da pessoa”. O centro ainda reconheceu “que sua omissão foi um erro”, ao permitir o trote.
Os envolvidos no trote ainda não se manifestaram publicamente sobre o ocorrido. Sem querer se identificar, um estudante de direito que convive com os jovens mostrados nas fotos afirma que eles evitam comentar o assunto. “Não sabemos o que eles pensam sobre isso, se acham que tiveram culpa ou não, se fizeram algo de errado ou não. Os colegas de turma também se negam a se manifestar. Estão unidos neste momento, até porque se trata da imagem de todo mundo”, diz.