Jornal Estado de Minas

Alunos de direito da UFMG negam racismo em trote

Comissão de sindicância que apurou responsabilidades no ato de estudantes de direito conclui trabalho e relatório é enviado à AGU

Tiago de Holanda
Seis dias depois do ocorrido, grupo de acadêmicos fizeram manifestação condenando atitude dos colegas da universidade - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 21/3/13


Os estudantes de direito que participaram em março de trote polêmico na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) negaram que o episódio tenha tido conotação machista, racista ou nazista, em depoimento à comissão de sindicância que apurou o incidenteA informação foi passada ao EM por um funcionário da instituição que teve acesso ao relatório da investigação, mantido em sigiloA comissão, que concluiu seus trabalhos na sexta-feira, encaminhou ontem o documento à Advocacia Geral da União (AGU), que tem de 15 a 30 dias para analisá-lo.

A comissão realizou sua tarefa no prazo de 60 dias e foi formada por três professores da Faculdade de DireitoTrês questões foram averiguadas: se o trote ocorreu; tendo ele havido, se seus participantes consumiram bebida alcoólica; e se houve manifestação racista, machista ou nazista.

A recepção aos calouros do curso foi realizada em uma sexta-feira, 15 de marçoDivulgadas no Facebook, duas fotos do evento provocaram revolta entre internautas e alguns alunosEm uma das imagens, um calouro está amarrado com fita numa pilastra e, ao lado dele, três colegas erguem o braço direito, à maneira da saudação nazista – um deles tem um bigode pintado semelhante ao do ditador Adolf Hitler (1889-1945)Na outra, uma novata com o corpo tingido de preto tem as mãos atadas por uma corrente puxada por um veteranoA moça ainda carrega uma placa com a inscrição “caloura Chica da Silva”, em referência a uma famosa ex-escrava que viveu em Diamantina no período colonial.

Durante a sindicância, foram ouvidos os seis jovens mostrados nas fotos, testemunhas indicadas por eles e outras sugeridas pela comissão, inclusive algumas não pertencentes à comunidade acadêmicaEmbora tenham admitido a ocorrência do trote, atividade proibida na UFMG, veteranos e calouros insistiram no discurso de que não houve qualquer ato de caráter machista, racista ou nazistaOs professores foram também às salas de aula para ouvir os demais alunos do primeiro e segundo períodos do cursoO relatório final pode inocentar os envolvidos ou sugerir três tipos de penalidade: advertência, suspensão e expulsão

A AGU vai analisar os aspectos formais e jurídicos do parecer, não tendo competência para opinar sobre o mérito das conclusões contidas nele.

Uma caloura acorrentada provocou revolta nas redes sociais (esq). Jovens fazem sinais que lembram o cumprimento nazista (dir) - Foto: Facebook/Reprodução - 13/3/13

Mutismo

O Centro Acadêmico Afonso Pena (Caap) evita avaliar se os envolvidos no trote devem ser punidos“Por enquanto, a única coisa que podemos fazer é aguardar o relatório da comissão ser divulgadoNós, como estudantes de direito, estamos esperando para conhecer os dados concretos, saber o que os estudantes alegam, para definirmos uma posição”, afirma o presidente, Felipe GaloEm março, o Caap divulgou nota em que “repudia veementemente a atitude ocorrida, bem como o assédio virtual que tem recaído sobre os protagonistas das fotos”Segundo a nota, o incidente foi uma “afronta a garantias constitucionais, como a dignidade da pessoa”O centro ainda reconheceu “que sua omissão foi um erro”, ao permitir o trote.

Os envolvidos no trote ainda não se manifestaram publicamente sobre o ocorridoSem querer se identificar, um estudante de direito que convive com os jovens mostrados nas fotos afirma que eles evitam comentar o assunto“Não sabemos o que eles pensam sobre isso, se acham que tiveram culpa ou não, se fizeram algo de errado ou nãoOs colegas de turma também se negam a se manifestarEstão unidos neste momento, até porque se trata da imagem de todo mundo”, diz.