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Estado de Minas

Trote coloca 23 universitários na cadeia em Minas


postado em 25/05/2013 06:00 / atualizado em 25/05/2013 07:08

Em uma atitude inédita na história da universidade, estudantes veteranos que submeteram calouros a trote na federal de São João del-Rei (UFSJ) foram parar na cadeia, na cidade do Campo das Vertentes. Vinte e três universitários foram presos, acusados do crime de constrangimento ilegal. De acordo com a Polícia Militar, foram duas ocorrências. Na tarde de quarta-feira, sete alunos de zootecnia praticaram trote contra 16 colegas na Avenida Leite de Castro, no Bairro Fábricas. Eles amarraram barbantes nos pescoços dos novatos, que foram obrigados a pedir dinheiro em um semáforo. Além disso, as vítimas tiveram as cabeças raspadas, o corpo pintado de preto com uma mistura que continha óleo queimado, o rosto tingido de laranja e os dentes, de roxo. No fim da manhã do dia seguinte, a “brincadeira” foi repetida por veteranos do curso de engenharia elétrica, que só pouparam os jovens do uso do barbante. Nessa oportunidade, foram 16 os detidos pela Polícia Militar, acionada via telefone 190. A segunda investida foi praticada contra 28 recém-chegados, na Rua Frei Estevão, no Bairro Bonfim, nas imediações do câmpus da UFSJ. Entre as vítimas, três eram adolescentes emancipados pelos pais que se mudaram para estudar na cidade.


A “recepção” que marca o ingresso de calouros na instituição de ensino superior é considerada comum na cidade, mas passou a ser proibida não só dentro da UFSJ como em todo o município. A determinação partiu da Lei Municipal 4.779, vigente desde 3 de maio de 2012. “A sanção da lei ocorreu depois da entrada dos estudantes na universidade no ano passado e, por isso, não tivemos prisões. Mas neste ano, os veteranos foram para as ruas para praticar os trotes e precisamos aplicar a lei”, afirmou o comandante da 189ª Companhia da PM, capitão Sandro José Tavares. Segundo ele, a situação era humilhante e provocou indignação entre moradores. “A comunidade se revoltou. Nosso telefone não parava de tocar com denúncias”, disse. Além da tinta no corpo, os alunos mais velhos ainda passaram uma mistura com carne podre nos novatos.

Entre os veteranos havia homens e mulheres, com idade de 19 a 20 anos. Todos tiveram que assinar um termo circunstanciado de ocorrência e foram liberados depois de se comprometerem a comparecer frente ao juiz, em audiência ainda a ser marcada. Os suspeitos podem ser indiciados por constrangimento ilegal e, se condenados, perdem a condição de réus primários. “Isso é algo preocupante, porque eles podem ficar com a ficha suja, o que é ruim para qualquer pessoa”, diz o comandante. A punição para o crime, previsto no Código Penal, é de seis meses a dois anos de reclusão, condenação que se converte em prestação de serviços comunitários ou doação de cestas básicas.

PUNIÇÕES A reitoria da UFSJ acompanhou o segundo dia dos trotes e se reuniu com os alunos depois que eles foram liberados. No encontro, o pró-reitor de Ensino de Graduação, Marcelo Pereira de Andrade, frisou que a prática é proibida pela instituição. “A universidade é contrária a qualquer tipo de brincadeira leviana que coloque em risco a segurança física e moral dos alunos. Mas, infelizmente, na rua não temos autoridade”, afirma. Marcelo contou que os veteranos se mostraram arrependidos. No entanto, vão passar por avaliação do comitê de ética da instituição, que receberá a ocorrência policial na segunda-feira.

Durante a apuração do caso, o grupo vai pedir a instauração de sindicância, na qual os alunos terão direito de defesa. O relatório final do comitê vai indicar quais medidas podem ser aplicadas pela reitoria contra os envolvidos. O regulamento da universidade prevê advertência, suspensão ou exclusão do aluno. Os trabalhos devem ser concluídos no prazo de três meses. Enquanto isso, eles podem estudar normalmente.

Ao pró-reitor, os veteranos entregaram uma folha com assinaturas dos calouros, argumentando que nela os mais novos “consentiam” que o trote fosse feito. Mesmo assim, o pró-reitor repudiou os atos. “Lamentamos o ocorrido e nos preparamos para não ter esse tipo de conduta na universidade. Os garotos vão ter que responder, mas esse foi um ato infeliz e impensado”, disse. De acordo com Marcelo, a instituição trabalha com campanhas de acolhida para receber os alunos no primeiro período e ações de solidariedade já são praticadas com essa finalidade.

Uma das pessoas que presenciaram o trote foi a vendedora de seguros Juliane de Castro, de 20. Apesar de achar a cena normal, por ser recorrente na cidade, ela discorda da prática. “Se fosse comigo, eu não permitiria.” Ao descrever a situação dos alunos, Juliane disse que eles estavam completamente sujos e carregando papelões bem grandes com dizeres sobre o trote. Taís Viana, de 30, que é secretária de vendas, disse que chegou a ser abordada por um aluno que pedia dinheiro no semáforo. “Não sabia ao certo do que se tratava, mas imaginei que fosse trote da federal. A gente está bastante acostumado a ver isso aqui.” 


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