Manobristas de bares e restaurantes que dirigem os carros de motoristas alcoolizados para livrá-los de blitz são o novo alvo da Lei Seca em Belo Horizonte. Operações surpresa vão usar o serviço de inteligência das polícias Civil e Militar, com apoio de agentes à paisana, para prender em flagrante quem entregar os veículos a condutores embriagados. A nova estratégia já foi discutida com a Associação de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG). A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) se baseia no artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece pena de seis meses a um ano de prisão e multa para esse tipo de infração.
“É como se ele entrasse no raio de atuação do condutor que está embriagado, aderindo à vontade dele. Se estiver agindo de má-fé, em conjunto com o motorista, isso pode gerar problema. Ele estará entregando o carro de maneira dolosa a alguém alcoolizado, colocando as pessoas em risco, e nós não vamos admitir esse tipo de postura”, adverte o subsecretário de Integração do Sistema de Defesa Social, Daniel de Oliveira Marlad.
No Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, manobristas de bares já estão atentos. Há 15 dias, na primeira operação que fechou ruas e aborda maior número de motoristas perto de bares, muitos manobristas foram orientados por policiais. Depois da campanha educativa, o serviço de inteligência da Polícia Civil vai identificar os motoristas que tentam fugir da fiscalização com apoio de manobristas. O cerco será feito pela PM, que usará radiocomunicadores e motocicletas.
Funcionário de um restaurante japonês na Rua Bárbara Heliodora, Cláudio admite que a prática era comum na área. “Há quem ainda se arrisque. Mas depois que foram vistos policiais do serviço de inteligência, na última blitz, circulando de olho nos manobristas, a maioria não faz mais esse serviço”. Mas Paulo, manobrista de uma pizzaria na Rua Curitiba, diz que sempre tem como dar um jeito. Segundo ele, se o carro estiver parado perto do estabelecimento, ele tenta colocá-lo em uma vaga depois da blitz ou em outro ponto que não tenha fiscalização. “Se for preciso, a gente passa”, afirma.
O chefe do Departamento de Operações Especiais do Detran, delegado Ramon Sandoli, admite que a fiscalização é difícil e lembra a importância da conscientização para mudança de postura, mas garante que não haverá trégua aos infratores.
“O Estado não tem como colocar um policial em cada esquina, nem ir atrás de cada motorista fujão ou manobrista. Há inúmeras formas de burlar a fiscalização e elas continuam expondo a sociedade a riscos.”
Num dining club na Rua Bárbara Heliodora, a recepcionista se apressa em dizer que o veículo da BHTrans parada à frente não é da Lei Seca. “Pode ficar tranquilo. Nosso manobrista para o carro numa vaga bem à frente. Mas os policiais não estão rebocando um carro que parou no ponto de ônibus”, explica ela. Para o comandante do Batalhão de Trânsito, tenente-coronel Roberto Lemos, essa atitude configura crime. “Não pode entregar o carro mais à frente para passar da blitz. Ficamos sabendo dessa prática e estamos dando atenção especial a isso também.”
Já o manobrista Wagner, de um restaurante da Rua Curitiba, se nega prontamente a passar um carro pela blitz. “Não fazemos isso. Se o cliente tiver bebido e morar na região, podemos remanejar para levá-lo em casa. Fica em R$ 60 o serviço, já que o manobrista volta de táxi. Precisamos de nossa carteira de habilitação para trabalhar e não dá para fazer esse tipo de coisa. Na semana passada pegaram um manobrista fazendo isso e a coisa ficou complicada para ele”.