Jornal Estado de Minas

Cães se tornam vítimas de criminosos em BH

Coragem e fidelidade da cadela Tica, baleada ao espantar bandidos para proteger os donos, mostram riscos a que os animais estão sujeitos com o crescimento de invasões a residências

Paula Sarapu
Depois de cirurgias, cachorra Tica se recupera em clínica veterinária da capital e deve ter alta hoje - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O caso da cadela Tica, baleada na cabeça ao botar para correr dois assaltantes que invadiram a casa de seus donos, no Bairro Salgado Filho, Região Oeste de Belo Horizonte, é uma mostra de que os animais também ficam vulneráveis em situações de violênciaComo a da mestiça de rottweiler, de 5 anos e 38 quilos, a valentia e a fidelidade dos cães já colocaram em risco outros dois animais este ano, atendidos na Clínica Veterinária São Francisco de Assis, onde a cachorra se recupera


Um dos animais foi vítima de chumbinho e outro, cão de guarda num sítio do distrito de Ravena, em Sabará, também foi baleado quando bandidos tentaram invadir a casa da famíliaHá dois anos, lembra o médico-veterinário Alexandre Nagem, que operou Tica, o cachorro de um bandido acabou atingido por um tiro durante uma operação policial em Ouro PretoO dono, arrasado, contratou um veterinário da cidade pagando em dinheiro para que ele socorresse o animal e o trouxesse à capital.
 
“O cão tem a tendência de proteger seu território, independentemente do tamanhoMas a Tica, pela personalidade, partiu para cima quando percebeu dois estranhos na casaEla teve sorte porque a bala não atingiu a jugular, a carótida e nenhum nervo, apesar de ter ficado alojada no pescoço, que tem muitas estruturas nobresO projétil entrou pelo focinho, passou pelo céu da boca e ficou preso na cartilagem da laringeUm tiro, quando não mata o animal, pode destruir uma estrutura e até deixar sequelas”, afirma.

"O cão tem a tendência de proteger seu território, independentemente do tamanho", Alexandre Nagem, médico-veterinário - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press Tica enfrentou quase uma hora e meia de cirurgiaFoi entubada, fez três raios X e teve o sistema cardiorrespiratório monitorado o tempo todoSegundo o especialista, ela ainda está com dores, mas ontem, logo depois que passou a sedação, comeu um potinho cheio de ração seca e caminhou no pátio da clínica acompanhada pelo olhar atento e carinhoso de sua dona, a securitária Letícia Bezerra, de 40 anos



Segundo o veterinário, a cadela chegou numa maca improvisada com lençol, sangrando muito, e agora está assustadaEla se recupera num canil e rosna quando alguém se aproxima, escondendo o focinho machucadoTica está em observação e deve ter alta hoje“O sistema neurológico parece estar bem, mas como ela aspirou um pouco de sangue, pode ser que desenvolva pneumonia aspiratóriaPrecisaremos acompanhá-la.”

 Em defesa das crianças

Há seis anos, a vira-latas Jure protegeu a família da aposentada Terezinha Braga Abreu, de 82 anosMoradora do Bairro São José, na Região da Pampulha, na capital, ela conta que um bandido armado pulou no quintal da casa, fugindo da polícia“As minhas netas pequenas estavam no portão, indo para a escolaO homem estava muito nervoso e apontava a arma para as criançasA Jure saiu do quartinho que a gente tinha construído para ela e avançou na perna deleEle deu dois tiros nas patas dela, mas saiu sangrando porque ela conseguiu mordê-lo
Se não fosse a coragem dela, o bandido poderia ter machucado alguém aqui em casa.”

Dona Terezinha diz que a cadela passou por cirurgia e sobreviveu“Ficou só com uma pequena deficiência, mancando um pouco, mas cuidamos dela com muito amor até que ela morreu, há dois anos.”

Protetora de animais há 40 anos, Maria Irene de Melo Neves lembra de uma outra história curiosa de animais que protegem os donos: a de uma maritaca, criada solta na casa de uma idosa no Bairro Serra, na Região Centro-Sul de BH“A dona chegou um dia à tarde e reparou que a maritaca estava inquieta, gritando muitoEla voava de um jeito que não era normal e apontava com a cabeça para cimaQuando olhou pela janela, a dona da casa percebeu dois homens armados no telhado e correu para a rua, para chamar a polícia”, conta Maria Irene, que pretende reunir histórias de sensibilidade e proteção em um livro

 

 

 

Memória

Mortos em
serviço

Em maio de 2011, dois cães pastores da PM, baleados em serviço, foram sepultados com honras militaresLyon e Dox, da 1ª Companhia de Missões Especiais, de Contagem, participavam de operação em Ribeirão das Neves, quando foram atingidos por bandidos em fugaOs cães entraram para a corporação ainda filhotes e eram treinados para proteger a vida dos policiais, sendo considerados oficiais

Repercussão

Leitores comentam no em.com.br


Bonita história de uma amiga fiel e valenteParabéns à Tica e à inteligência da empregadaEnquanto muitos maltratam, outros cuidam como membro da família

Joaquim Souza


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É isto mesmo: quanto mais conheço gente, mais gosto dos meus cachorrosTica, você vale muito, sare logo.

Iara de Vasconcelos Pires

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Força pra que ela se recupere logo e possa retomar a vigilância do lar dessa famíliaTenho certeza de que será recebida com todo carinho.

Adilson Antunes

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A cachorrinha foi protegida por  São Francisco de Assis e agora  está em boas mãosParabéns aos profissionais dessa clinica abençoada e que a Tica se recupere logo.

Miriam Chaves