De acordo com o processo, os policiais rodoviários mostraram os distintivos e identificações funcionais e explicaram que estavam acompanhando auditores fiscais e analistas da Receita Federal numa operação sigilosa de fiscalizaçãoA Operação Conexão IV tinha como objetivo reprimir o contrabando de cigarros e outras mercadorias vindas do Paraguai
O PM não se deu por satisfeito e, julgando insuficientes as informações prestadas pelas autoridades federais, reteve os documentos e determinou que os agentes da PRF e servidores da Receita se encaminhassem ao quartel da PM em IturamaUm dos policiais rodoviários federais chegou a dizer que acompanharia o sargento ao quartel, mas a outra viatura daria continuidade ao trabalho dos auditores fiscaisO PM não aceitou e determinou a ida, sob escolta, das duas viaturas da PRF ao quartel da PMLá chegando, fechou os portões e não permitiu a entrada, nem a saída do local de qualquer dos agentes federais.
Conforme o processo, o militar solicitou a identificação de todos os integrantes da operação, bem como a de seus superioresUm dos auditores fiscais alegou que não poderia fornecer todas as informações, porque o trabalho era sigiloso e foi ameaçado pelo sargento de prisão por crime de desobediência.
No quartel, os agentes da PRF e os fiscais ficaram retidos das 19h30 até cerca de 22hA situação só teve fim com a chegada ao local de dois superiores do sargento PM, que deram um jeito de dizer “tudo não passou de um mal entendido”.
Entendimento do MPF
Para o MPF, a conduta do denunciado passou de fiscalização rotineira para o abuso de autoridade, na medida em que interferiu no exercício profissional federais
O abuso de autoridade acabou também impedindo a realização da própria operação sigilosaPara a promotoria, o objetivo de apreender mercadorias contrabandeadas foi frustrando, o que teria resultado em ato lesivo ao patrimônio da União
O MPF ainda denunciou o militar por prevaricação - ao reter os servidores federais e os veículos estatais com tratamento desrespeitoso, ele teria usado recursos humanos e logísticos do estado de Minas Gerais para satisfazer interesse pessoal.
Punição
O abuso de autoridade sujeita o autor a sanções administrativas, cíveis e penaisA sanção administrativa deve ser aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e pode resultar em advertência, repreensão e até demissão do cargo
A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano resultante dos atos praticados pelo denunciado, consistirá no pagamento de uma indenização, cujo valor será fixado pelo juizA pena para o crime, por sua vez, pode resultar na detenção por 10 dias até seis mesesOs crimes de constrangimento ilegal e de prevaricação prevêem detenção, cada um, de 3 meses a um ano; o de cárcere privado, 1 a 3 anos.
Além da ação criminal, o PM também irá responder por improbidade administrativaO MPF pediu que, caso condenado, a Justiça determine afastamento de suas funções pelo prazo de 90 dias, sem recebimento da correspondente remuneraçãoPediu ainda pagamento de multa e proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios