Jornal Estado de Minas

Alternativa para a dengue

Médicos querem levantar debate sobre tratar a dengue com medicamentos homeopáticos

Segundo eles, remédios amenizam dor e período de manifestação dos sintomas

Elian Guimarães*
Enquanto a dengue continua registrando números alarmantes em todo o país, os esforços de governos, população e profissionais de saúde assumem várias frentes de combate, profilaxia e tratamento
Na tentativa de encontrar soluções, alternativas são oferecidas ao tratamento tradicionalUma delas, usada em municípios como São José do Rio Preto (SP), Macaé (RJ) e Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, busca na homeopatia um tratamento que dê mais conforto ao paciente.

Desenvolvido em Betim pelo médico Italo Márcio Astoni, dentro do projeto Farmácia Viva – programa fitoterápico incorporado ao sistema de saúde pública, visando a promoção do uso racional das plantas medicinais na atenção primária à saúde, resgatando o conhecimento popular, embasado nos conhecimentos científicos –, o medicamento homeopático Eupatolio perfoliata foi adotado na unidade do Centro de Especialidades Médicas Divino Braga, onde foi montada, em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, uma unidade específica para pacientes com sintomas de dengue

Foram dois meses de experiência e mesmo sem resultados estatísticos finalizados, pois estão sendo levantados, os efeitos foram considerados muito bons na redução do prazo de duração do sintomas da dengue bem como em sua evolução“O remédio proporcionou maior conforto aos pacientes amenizando os sintomas, com a dor intensa pelo corpo”, comenta o secretário de Saúde de Betim, Mauro Reis, que acrescenta: “No próximo verão, quando há maior incidência da doença, queremos que o medicamento esteja disponível em todas as unidades de saúde do município.”

Na opinião da pediatra e homeopata Simonete Souza Aguiar, o tratamento convencional para amenizar os sintomas da dengue – como dor de cabeça, nos olhos e nas articulações – é limitado e em alguns casos há restrições no uso de analgésicos e outros medicamentos alopáticos que podem provocar intoxicação hepática ou aumentar o sangramento, no caso de dengue hemorrágica, a forma mais grave da enfermidade: “A recomendação é soroterapia venosa para diminuir a gravidade da doença, mas há várias possibilidades no tratamento”, garante Simonete, acrescentando que “é preciso vencer o preconceito de usar outros tratamentos.”

A médica explica que a homeopatia sempre trabalhou com epidemias e é uma ciência que tem maneira própria de estudar o gênio epidêmico, encontrando o remédio correspondente para cada sintoma, sendo que os resultados, segundo ela, suavizam a doença, diminuem seu tempo duração e de gravidade, além do custo ser muito baixo.

Pesquisadora convidada do Ambulatório de Toxicologia Clínica Ambiental e Ocupacional do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a médica Miria Amorim explica que há tratamentos da medicina complementar alternativa (MAC) que contribuem significativamente para melhora de quadros epidêmicos e endêmicosMestre em saúde coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da URFJ e especialista em homeopatia, ela diz que no caso da dengue ocorre uma rápida resposta no estado geral do paciente, com recuperação das plaquetas, diminuição da febre e dos riscos de complicação.

“Entretanto, quando medicamos, trabalhamos sempre na lógica do sujeito e não da doença especificamente”, frisaÉ que, segundo Miria, no entendimento da homeopatia, se o indivíduo adoece é porque ele está em desequilíbrio e isso precisa ser corrigido (a filosofia serve para dengue, mas também para artritismo – espécie de reumatismo caracterizado pela inflamação de várias articulações do corpo –, malária, amigdalite e, inclusive, para os quadros de desequilíbrio emocional e mental).
 
Limpar criadouros é fundamental

Para o diretor da Associação Médica Homeopática Brasileira e homeopata no sistema de saúde de Belo Horizonte, João Márcio Berto, o tratamento de dengue via homeopatia não exclui outras medidas como limpeza de quintais e todos os criadouros para o mosquito Aedes aegypti (pneus velhos, pratos com água, lixo acumulado etc.), consumo de líquidos e alimentação adequada“Apesar de não termos vacina contra a dengue, em Belo Horizonte a prefeitura ainda não admitiu o tratamento com homeopatia para a dengue”, lamentaBerto contesta a Nota Técnica do Ministério da Saúde sobre o assunto“Nossa intenção é formar equipes médicas da Associação Homeopática Brasileira para que, por meio de projetos-piloto, a gente consiga mostrar a efetividade do tratamento e, dessa forma, sensibilizemos os gestores a adotarem os medicamentos homeopáticos, ciência que existe há 200 anos e já mostrou respostas efetivas durante epidemias que atingiram a Europa no século 18, como o tifo, a gastroenterite, a coqueluche e o sarampo”, acrescentaO médico frisa ainda que, no caso da dengue, é necessário estudar os primeiros casos a cada ano, identificar os sintomas e extrair o medicamento, chamado gênio epidêmico.

A Prefeitura de Belo Horizonte, de acordo com o secretário-adjunto de Saúde, Fabiano Pimenta, oferece por meio do SUS diversidade de possibilidades terapêuticas incluindo os profissionais homeopatas que atuam em 10 centros de saúde da capital mineira
Entretanto, no tratamento e prevenção à dengue, o município segue os protocolos do Ministério da Saúde, que não recomendam oficialmente essa alternativa ficando a critério dos usuários do sistema escolher a medicação homeopática“O que ocorre é uma abordagem individual, uma decisão tomada entre o paciente e o profissional especializado em homeopatia que está fazendo seu atendimento”, esclarece Pimenta.

O Ministério da Saúde considera que ainda não há comprovação científica da eficácia no tratamento e prevenção da dengue com a homeopatia e que é a doença pode ter alta taxa de letalidade se não for tratada de forma adequada: “Os cuidados com os sintomas como a febre e a dor são feitos com medicamentos antitérmicos e analgésicosNo entanto, a reposição volêmica (unidades criadas para atender a população que não precisa de internação) pela hidratação oral e/ou venosa, e, nos casos mais graves, a administração venosa de outras soluções, é o principal tratamento para o extravasamento de plasma provocado pela doença, sendo a principal medida para evitar complicações e óbitos.”

O impacto ambiental no organismo
 
A alteração de ecossistemas, a redução da biodiversidade e grande acúmulo no ambiente de substâncias tóxicas, além das condições socioeconômicas, de vulnerabilidade, efetivamente produzem impactos sobre a saúde humana, considerando a dinâmica das doenças vetoriais que geram alterações conforme a sazonalidade de cada região, temos, por exemplo, o aumento da dengue no verão e de malária na estiagem, ou ainda, com as grandes chuvas e enchentes, a leptospirose, hepatites e diarreias.

De acordo com a médica Miria Amorim, na área de vigilância em saúde podem ser encontrados nos municípios em todo o Brasil os programas de atenção básica e promoção de saúde: “É fundamental que o controle dessas doenças seja mantido pelo poder público, que gera análise das situações de saúde e seus determinantes e que, por sua vez, deve buscar a redução das vulnerabilidades socioambientais”
Segundo a pesquisadora, os instrumentos de difusão de informações sobre as doenças, formas de tratamento e proteção, bem como a diminuição de riscos são mecanismos insubstituíveis, capazes de contribuir para uma nova cultura de saúde ambiental e para que esse nível de controle e proteção ocorra é necessário que a população procure os centros de saúde de sua localidade, que têm capacidade técnica de identificar qual o nível da complexidade e promover ações e encaminhamento necessários.