A população de Belo Horizonte ainda não viu sair do papel projetos de melhorias urbanasUm que alivia a escassez de vagas para estacionamento em vias públicas e outro que revitaliza o Barro Preto, na Região Centro-SulNo fim do ano passado, o primeiro edital para construção de 3.895 vagas subterrâneas em nove áreas da capital fracassou por falta de empresas interessadas e nova publicação foi marcada para o fim do mês passado, mas também não saiuAgora, uma nova versão está nas mãos de técnicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, que espera publicá-la em agostoO prazo leva em conta os 30 dias para consulta pública e mais 30 para que o documento seja modificadoA implantação de vagas no subsolo da cidade é discutida desde o início de 2012.
Na semana que vem, a prefeitura começa a receber a opinião da população sobre o empreendimento e admite que essa fase pode se estender e adiar ainda mais o início da licitaçãoDepois da consulta, será necessário mais um mês para refazer o edital antes de ser lançado na praçaA demora em abrir o pregão é vista por especialistas como um problema para a cidade
Serão construídas cinco garagens com cronograma obrigatório definido no edital e quatro cuja construção dependerá de decisão sem dataOs primeiros espaços terão 2.354 vagasNa etapa, serão mais 1.541 vagas
O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre Andrade Puty Filho diz que os estacionamentos não são fundamentais para a cidadeSegundo ele, cada vez mais as vias públicas são destinadas à circulação, o que reduz as vagas para estacionamento“Apesar das discussões sobre a restrição do uso do carro, ele sempre vai cumprir um papel importante na mobilidadeÉ lógico que é preciso investir em transporte público, mas é preciso também dar condições para as pessoas usarem os veículos”, afirma
BH tem hoje 20,8 mil vagas rotativas em 794 quarteirõesO rodízio garante o uso por 92,6 mil veículos por diaPara Silvestre, os números mostram que a cidade já sofre com a falta de estacionamento
Por outro lado, estacionamentos privados estão diminuindo“Esses empreendimentos estão instalados em pontos comerciais visados pelo setor imobiliário e cedem espaço para grandes edifícios”, explica SilvestreConstruir os subterrâneos seria, para ele, uma forma de manter o número de vagas, já que as áreas no subsolo não têm opções para usos alternativos e por isso não serão extintas.
POLO DE MODA APOIA ATRASO
O quebra-quebra já instalado em Belo Horizonte para implantação do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) fez com que a prefeitura adiasse para o ano que vem as obras de revitalização do Barro Preto, referência de moda na Região Centro-SulAs intervenções estavam previstas para março, mas a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) fez a mudança no cronograma, alegando que novo canteiro de obras tumultuaria mais o trânsito da capital
Com as intervenções do BRT em pleno andamento nas avenidas Santos Dumont e Paraná, esses corredores e a Região Central e entorno da rodoviária ficaram sobrecarregadosHá gargalos também nas avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado, que contarão também com a nova modalidade de transporte.
Entre os comerciantes, a notícia veio em boa horaIsso porque quem vai ao Barro Preto hoje já reclama das dificuldades com o trânsito na região e no entorno“A situação, que já é ruim, ficaria piorSabemos da importância da obra, mas ela já está atrasada e cada vez mais próxima do fim do ano, quando o comércio é mais aquecido”, avalia o presidente da Associação Comercial do Barro Preto, José Paulino Pires
Para ele, não é recomendável agora realizar obras em mais uma área como o Barro Preto, onde passam cerca de 30 mil pessoas diariamentePires informou que os comerciantes afirmaram na reunião com o secretário de Obras e Infraestrutura, José Lauro Nogueira Terror, afirmou que seria irresponsabilidade da prefeitura abrir uma nova frente de trabalho na cidade
A obra tem previsão de um ano e dois mesesApesar de precisar ser feita em dezembro também, os empresários querem que apenas os acabamentos fiquem para este mês“Se a obra começasse agora, por exemplo, teria um reflexo muito negativo para as vendasTemos de aproveitar o lançamento da coleção primavera-verão, já no próximo mês, para dar uma guinada no comércio”, afirma
Pires defende a obra, mas destaca que o fim do ano é a época de maior concentração de clientes, que não podem ser recebidos em meio a entulhos e poeira“Trabalhamos com moda, que não combina com tumulto.”
O projeto de revitalização do polo de moda prevê intervenções como tratamento das calçadas, arborização, instalação de mobiliário e iluminação em trechos das ruas dos Tupis, dos Goitacazes, Araguari, Guajajaras, Mato Grosso e Timbiras, além da Avenida Augusto de LimaOs recursos são do governo federal e da prefeitura e somam R$ 10,047 milhõesAs mudanças foram discutidas e aprovadas pela comunidade
PALAVRA DE ESPECIALISTA: OSIAS BATISTA, CONSULTOR DE TRANSPORTE E TRÂNSITO
Transporte público é a prioridade
“Sou totalmente contrário à implantação de estacionamentos subterrâneos na área central de Belo Horizonte porque o sistema viário não comporta mais o grande número de veículos na cidadeÉ preciso investir em transporte público e para isso é preciso seguir no caminho da redução de carros em circulaçãoCidades do mundo inteiro seguem essa tendência e transformam ruas em grandes espaços de convivência, sem acesso para carrosÉ assim em Seul (Coreia do Sul), em Medellín (Colômbia), além de Boston, Miami e Nova York (EUA)Quando se cria um número de vagas maior, acaba-se por atrair ainda mais carros para um sistema viário que hoje já está saturado.”
SÓ NO PAPEL
Projetos que se arrastam
ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO
Endereços das novas vagas
Tupinambás (Centro) – 397
Espírito Santo (Centro) – 389
Ouro Preto (Barro Preto) – 421
Afonso Arinos (Centro) – 358
Pasteur (Santa Efigênia) – 748
Tomé de Souza (Savassi) – 430
Paraíba (Savassi) – 400
Fernandes Tourinho (Savassi) – 326
Assembleia (Santo Agostinho) – 426
BARRO PRETO
Revitalização prevista
Custo: R$ 10 milhões
Extensão: 2,7 quilômetros lineares (20 trechos de rua)
Intervenções: Alargamento de calçadas e redução de vagas de estacionamento
Tratamento de quatro esquinas com cruzamento elevado
Mudança de tráfego apenas na Rua Mato Grosso, que passa a ser rua de acesso local (semelhante a trecho da Rua Carijós, no Centro)