Jornal Estado de Minas

Vagas em marcha lenta

Construção de estacionamentos subterrâneos em nove áreas é adiada outra vez

Enquanto isso, as obras em andamento em BH prorrogam a revitalização do Barro Preto

Jorge Macedo - especial para o EM
Com a frota crescente na capital (que já tem mais de 1,5 milhão de veículos), a abertura de 3.895 vagas pode apenas aliviar o problema de estacionamento - Foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS %u2013 13/12/12


A população de Belo Horizonte ainda não viu sair do papel projetos de melhorias urbanasUm que alivia a escassez de vagas para estacionamento em vias públicas e outro que revitaliza o Barro Preto, na Região Centro-SulNo fim do ano passado, o primeiro edital para construção de 3.895 vagas subterrâneas em nove áreas da capital fracassou por falta de empresas interessadas e nova publicação foi marcada para o fim do mês passado, mas também não saiuAgora, uma nova versão está nas mãos de técnicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, que espera publicá-la em agostoO prazo leva em conta os 30 dias para consulta pública e mais 30 para que o documento seja modificadoA implantação de vagas no subsolo da cidade é discutida desde o início de 2012.

Na semana que vem, a prefeitura começa a receber a opinião da população sobre o empreendimento e admite que essa fase pode se estender e adiar ainda mais o início da licitaçãoDepois da consulta, será necessário mais um mês para refazer o edital antes de ser lançado na praçaA demora em abrir o pregão é vista por especialistas como um problema para a cidade

Serão construídas cinco garagens com cronograma obrigatório definido no edital e quatro cuja construção dependerá de decisão sem dataOs primeiros espaços terão 2.354 vagasNa etapa, serão mais 1.541 vagas

O vencedor da licitação terá de pagar à prefeitura valor superior a R$ 8 milhões e deverá entregar cada uma das garagens em, no máximo, 18 mesesO período de interrupção de via deverá ser, no máximo, de 12 mesesAlém disso, a concessionária deverá seguir cronograma com mais de uma obra em execução simultâneaA liberação das primeiras vagas está prevista para o segundo semestre de 2015.

O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre Andrade Puty Filho diz que os estacionamentos não são fundamentais para a cidadeSegundo ele, cada vez mais as vias públicas são destinadas à circulação, o que reduz as vagas para estacionamento“Apesar das discussões sobre a restrição do uso do carro, ele sempre vai cumprir um papel importante na mobilidadeÉ lógico que é preciso investir em transporte público, mas é preciso também dar condições para as pessoas usarem os veículos”, afirma

BH tem hoje 20,8 mil vagas rotativas em 794 quarteirõesO rodízio garante o uso por 92,6 mil veículos por diaPara Silvestre, os números mostram que a cidade já sofre com a falta de estacionamento
Por outro lado, há regiões onde vagas rotativas estão sendo fechadas para ampliação de calçadas previstas em projetos de revitalização

Por outro lado, estacionamentos privados estão diminuindo“Esses empreendimentos estão instalados em pontos comerciais visados pelo setor imobiliário e cedem espaço para grandes edifícios”, explica SilvestreConstruir os subterrâneos seria, para ele, uma forma de manter o número de vagas, já que as áreas no subsolo não têm opções para usos alternativos e por isso não serão extintas.

POLO DE MODA APOIA ATRASO
    
O quebra-quebra já instalado em Belo Horizonte para implantação do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) fez com que a prefeitura adiasse para o ano que vem as obras de revitalização do Barro Preto, referência de moda na Região Centro-SulAs intervenções estavam previstas para março, mas a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) fez a mudança no cronograma, alegando que novo canteiro de obras tumultuaria mais o trânsito da capital

Com as intervenções do BRT em pleno andamento nas avenidas Santos Dumont e Paraná, esses corredores e a Região Central e entorno da rodoviária ficaram sobrecarregadosHá gargalos também nas avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado, que contarão também com a nova modalidade de transporte.

Entre os comerciantes, a notícia veio em boa horaIsso porque quem vai ao Barro Preto hoje já reclama das dificuldades com o trânsito na região e no entorno“A situação, que já é ruim, ficaria piorSabemos da importância da obra, mas ela já está atrasada e cada vez mais próxima do fim do ano, quando o comércio é mais aquecido”, avalia o presidente da Associação Comercial do Barro Preto, José Paulino Pires

Para ele, não é recomendável agora realizar obras em mais uma área como o Barro Preto, onde passam cerca de 30 mil pessoas diariamentePires informou que os comerciantes afirmaram na reunião com o secretário de Obras e Infraestrutura, José Lauro Nogueira Terror, afirmou que seria irresponsabilidade da prefeitura abrir uma nova frente de trabalho na cidade

A obra tem previsão de um ano e dois mesesApesar de precisar ser feita em dezembro também, os empresários querem que apenas os acabamentos fiquem para este mês“Se a obra começasse agora, por exemplo, teria um reflexo muito negativo para as vendasTemos de aproveitar o lançamento da coleção primavera-verão, já no próximo mês, para dar uma guinada no comércio”, afirma

Pires defende a obra, mas destaca que o fim do ano é a época de maior concentração de clientes, que não podem ser recebidos em meio a entulhos e poeira“Trabalhamos com moda, que não combina com tumulto.”

O projeto de revitalização do polo de moda prevê intervenções como tratamento das calçadas, arborização, instalação de mobiliário e iluminação em trechos das ruas dos Tupis, dos Goitacazes, Araguari, Guajajaras, Mato Grosso e Timbiras, além da Avenida Augusto de LimaOs recursos são do governo federal e da prefeitura e somam R$ 10,047 milhõesAs mudanças foram discutidas e aprovadas pela comunidade


PALAVRA DE ESPECIALISTA: OSIAS BATISTA, CONSULTOR DE TRANSPORTE E TRÂNSITO

Transporte público é a prioridade
“Sou totalmente contrário  à implantação de estacionamentos subterrâneos na área central de Belo Horizonte porque o sistema viário não comporta mais o grande número de veículos na cidadeÉ preciso investir em transporte público e para isso é preciso seguir no caminho da redução de carros em circulaçãoCidades do mundo inteiro seguem essa tendência e transformam ruas em grandes espaços de convivência, sem acesso para carrosÉ assim em Seul (Coreia do Sul), em Medellín (Colômbia), além de Boston, Miami e Nova York (EUA)Quando se cria um número de vagas maior, acaba-se por atrair ainda mais carros para um sistema viário que hoje já está saturado.”


SÓ NO PAPEL
Projetos que se arrastam
ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO
Endereços das novas vagas
Tupinambás (Centro) – 397
Espírito Santo (Centro) – 389
Ouro Preto (Barro Preto) – 421
Afonso Arinos (Centro) – 358
Pasteur (Santa Efigênia) – 748
Tomé de Souza (Savassi) – 430
Paraíba (Savassi) – 400
Fernandes Tourinho (Savassi) – 326
Assembleia (Santo Agostinho) – 426

BARRO PRETO
Revitalização prevista
Custo: R$ 10 milhões
Extensão: 2,7 quilômetros lineares (20 trechos de rua)
Intervenções: Alargamento de calçadas e redução de vagas de estacionamento
Tratamento de quatro esquinas com cruzamento elevado
Mudança de tráfego apenas na Rua Mato Grosso, que passa a ser rua de acesso local (semelhante a trecho da Rua Carijós, no Centro)