Traços que remetem ao ambiente escolar: o prédio das salas de aula é uma régua, o giz virou caixa-d’água, a cantina tem forma de borracha e o auditório, um mata-borrão (instrumento que servia para secar o excesso de tinta no papel)O conjunto da Escola Estadual Professor Milton Campos – o Colégio Estadual Central –, criação do arquiteto Oscar Niemeyer, vai passar por reformasLocalizados na Rua Fernandes Tourinho, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, os prédios da instituição de ensino são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)Para resgatar as características do projeto original, de 1956, serão investidos R$ 12 milhõesA previsão é que tudo fique pronto em um ano e meio.
O vice-diretor, João Martins Braga, trabalha na Milton Campos desde 1990 e não se lembra de quando foi a última reforma“Tivemos alguns arranjos há oito anos no auditório em parceria com um banco e fizemos adequações para o atendimento do ensino fundamental, em 1990”, disseSegundo Braga, o telhado está cheio de vazamentos e a água da chuva passa pela lajeA rede elétrica é ultrapassada e não suporta a carga dos novos equipamentosA cantina, onde são preparadas refeições para mais de 3,2 mil alunos, também sofre com a ação do tempoVidros quebrados em portas e janelas põem em risco a segurança dos estudantes“Essa reforma veio numa boa hora
Tão importante quanto a arquitetura é a história da escolaEla foi aberta em 5 de fevereiro de 1854, com a instalação do Liceu Mineiro em Ouro Preto, na Rua do Rosário, primeiro estabelecimento de ensino público de Minas GeraisSão 148 anosCom a mudança da capital para Belo Horizonte, a escola também foi transferida para atender os filhos dos funcionários públicos“Primeiro, ficou provisoriamente na Praça Afonso Arinos, depois na Rua da Bahia e na Avenida Augusto de Lima”, contou BragaA instituição também mudou de nomePrimeiro foi o Liceu Mineiro, depois Colégio Mineiro até Milton Campos.
Nos bancos das salas de aula já sentaram grandes personalidadesA presidente da República, Dilma Rousseff, é uma delas, aluna na década de 1960
INTERIOR Historicamente, muitos alunos saem do interior em busca de um ensino de qualidade no Milton CamposNa década de 1990, segundo o vice-diretor, era comum famílias mandarem seus filhos para estudar no Estadual Central“Chegamos a ter mais de 5 mil alunos vindos do interior”, disse BragaE até hoje é assimSara Carvalho, de 16 anos, é de Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha“Eu me sinto orgulhosa de estar na escola onde estudou a nossa presidente DilmaO colégio sempre teve uma boa reputação e meu irmão já tinha estudado aquiMinha mãe insistiu muito para que eu viesse também”, conta a aluna.
Para a colega Karen Cristina Rodrigues, de 16, a escola dá oportunidade para a pessoa crescer“Os professores são atenciosos, a arquitetura bonita, o ambiente é tranquilo e sem violência”, destacaQuando foi para a escola, Francielle Alves, de 16, foi advertida por amigos de que o ensino era muito puxado“Mas aprendi que todos têm capacidade e o incentivo dos professores ajuda muitoEles já preparam a gente para o vestibular e muitos já saem daqui direto para a faculdade”, disseFrancielle acha importante a restauração da escola para conservar o patrimônio e garantir que outras pessoas possam desfrutar dela no futuroOs prédios são cercados por uma imensa área verdeGrupos de aluno aproveitam a harmonia do lugar para tocar violão e cantar na hora do intervalo“Acho o Estadual Central referência para todas as escolas públicas de Minas, pela sua beleza arquitetônica e qualidade do ensinoOs professores passam por várias provas de qualificação e fiquei surpreso com a quantidade de laboratórios, o que não tem nas outras escolas”, disse Henrique Gonçalves, de 19, dando pausa no violão.
Quarteirões em área nobre de BH
A Escola Estadual Professor Milton Campos hoje ocupa dois quarteirões, cerca de 11 mil metros quadrados, em uma das regiões mais nobres de Belo HorizonteO anexo I, com as obras de Oscar Niemeyer, abriga 30 salas de aula com 35 alunos cada uma, a administração, auditório para 400 lugares, laboratórios, jardins e a cantinaO anexo II, que também será reformado, é separado pela Rua Antônio de Albuquerque e tem instalações mais recentes, da década de 1970Nele há oito quadras esportivas, algumas da época da construção da escola, piscina olímpica e mais 20 salas de aula com 25 alunos cada“O anexo I, por ser tombado pelo patrimônio, precisa passar por outros trâmites legais para ser reformadoNão depende só do nosso desejo de querer”, disse o vice-diretor, João Martins Braga.
Os prédios de Niemeyer não têm tijolos e as paredes são em concreto armadoO teto da unidade das salas de aula é cheio de pequenos furos que servem de ventilaçãoAs salas de aula têm mais de 5 metros de alturaO acesso ao andar superior, que é sustentado por colunas, é feito por uma rampa de mais de 3 metros de larguraDo outro lado, próximo ao setor administrativo, os degraus da escada saem da parede e ficam suspensosO teto do auditório recebeu uma lã de vidro há alguns anos, mas o problema da infiltração voltou e parte do revestimento caiu.
Com a reforma, o bloco das salas de aula vai ganhar uma plataforma de deslocamento vertical para melhorar as condições de acessibilidade, além de telhas termoacústicas que diminuem os ruídos externos, e quebra-sóis, que vão impedir a incidência direta da luz externa nas salas de aulaO auditório vai ganhar um novo sistema de ar-condicionado e som, além de novas esquadriasOutra intervenção será a impermeabilização da laje de coberturaOs jardins também serão reformadosJá na unidade II será construído um anexo, que receberá, entre outros espaços, os vestiários e os laboratórios de química e de ciências