Mesmo em situações em que o volume de carros é pequeno e não há congestionamentos, o sistema de simulação da BHTrans apresentou previsões erradas de tempo de viagem e valor da tarifa de táxi
Antes de levar a equipe ao Coração Eucarístico, Deosmar também acompanhou a reportagem na corrida entre a Praça da Savassi e a PUC BarreiroÀs 18h, a situação encontrada no trânsito era bem diferenteVários pontos de lentidão atrasaram a viagem, que segundo o site da BHTrans, deveria durar 25 minutosO primeiro trecho com problemas foi na Avenida do Contorno, ainda na SavassiEmbora não estivesse parado, o trânsito fluía lentamente
Depois de enfrentar mais lentidão na Avenida Amazonas, a equipe gastou o dobro do tempo previsto pelo serviço virtual para chegar ao BarreiroForam 50 minutos de viagem até a portaria da PUCCuriosamente, o preço da viagem ficou em R$ 44,60, menor que o do site, R$ 46,26Além das falhas de cálculo, Deosmar aponta ainda problemas no roteiro da BHTrans“Há rotas melhores que podem ser feitas em menos tempo”, dizEle lembra, por exemplo, que o novo viaduto que liga as avenidas Olinto Meireles e Teresa Cristina poderia estar na rota da empresa, o que reduziria um pouco o tempo de percurso
Taxista em Belo Horizonte há 26 anos, Deosmar diz que quem quiser trabalhar nessa profissão tem de ter paciência para circular diariamenteCiente dos problemas de mobilidade, ele evita prever o tempo de corrida, mesmo a pedido dos passageiros“O trânsito é muito dinâmico
SEM MUDANÇAS
Apesar das falhas no cálculo do tempo das corridas, a BHTrans não prevê mudanças no site para levar em conta o horário da viagemSegundo a assessoria de imprensa da empresa, o serviço, que até sexta-feira já havia registrado 13.355 acessos, usa uma aplicação do Google para fazer as previsõesO cálculo da tarifa é feito multiplicando a distância percorrida estimada pelo quilômetro rodado, considerando o valor da bandeiradaNo entanto, a BHTrans admite que o sistema não leva em conta o trânsito da cidade e que são usados apenas os dados de velocidade médiaAinda segundo a assessoria, a empresa acompanha comentários e reclamações para fazer ajustes contínuos do serviço.
Experiência derruba previsão
Novo trajeto e mais diferençaO serviço virtual da BHTrans estima em 25 minutos o tempo gasto para percorrer o trecho de 17 quilômetros entre a Pwraça da Savassi e o Shopping Norte, em Venda Nova, com tarifa de R$ 53,27Mas antes mesmo de arrancar o veículo, às 17h45, Marcelo Cândido Junior, taxista há dois anos, já alertou: “Nesse horário a gente vai demorar pelo menos uma hora até Venda Nova”.
A experiência de Marcelo, acostumado a circular pelas ruas de BH, se mostrou bem mais eficaz que os cálculos da BHTransO tempo previsto pela empresa não foi suficiente nem mesmo para sair da Região Centro-SulÀs 18h10, o taxista ainda não havia se livrado do congestionamento que se estendia por toda a Avenida Bias FortesA fila de carros descia lentamente em direção à Praça Raul Soares, com velocidade máxima de 30 quilômetros por hora.
“Nesse horário você não consegue chegar a lugar nenhum em 25 minutos”, afirma Marcelo, acostumado a enfrentar os congestionamentosEle se preocupa com as informações prestadas pelo site por não levar em conta as variações no trânsito no decorrer do dia: “Imagine se o passageiro começar a cobrar que a gente faça as corridas no tempo sugerido pelo site? A gente não vai ter o que fazer”.
faixa Depois de passar mais de meia hora na região central, um alternativa viária ajudou a acelerar a viagem: na Avenida Antônio Carlos, o veículo percorreu vários quilômetros em faixa exclusiva para táxis e ônibusMas assim que o carro se aproximou de Venda Nova, os problemas no trânsito voltaram, gerando mais atrasoEm vários trechos da Avenida Dom Pedro I, na altura do Bairro Santa Branca, a velocidade máxima alcançada não passava de 10 quilômetros por horaA reportagem só conseguiu chegar ao destino, na Avenida Vilarinho, depois de uma hora e quatro minutosComo consequência, a tarifa também foi superior à prevista: em vez de R$ 53,27, o taxímetro marcou R$ 63,60.
Taxistas temem prejuízo
Na avaliação de quem circula diariamente por Belo Horizonte e conhece bem os problemas da cidade, uma opção para corrigir as falhas do site da BHTrans é ouvir os profissionais do setorO presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir-MG), Dirceu Efigênio Reis, acredita que os problemas encontrados pela reportagem podem prejudicar os motoristas“Os passageiros podem querer exigir o preço sugerido pela BHTrans e cobrar que a corrida dure o tempo previsto, mas o taxista não terá o que fazer.”
Dirceu entende que a principal falha do site é ignorar os problemas de mobilidade em várias regiões da cidadeSegundo ele, a demora para chegar aos destinos faz passageiros desistirem da corrida e descer, tamanha a lentidãoCom a disparidade entre as informações do serviço virtual e a realidade, ele teme que a insatisfação dos passageiros aumente“Os taxistas conhecem as melhores rotas e sabem onde o trânsito fica ruim em horários de picoPoderiam ter ouvido quem está no trânsito, porque eles contribuiriam para melhorar o sistema”, sugere o presidente do sindicato dos taxistas.
Palavra de especialista - Parceria para melhorar
Paulo Rogério Monteiro
Mestre em engenharia de transportes
É difícil simular o tempo de percurso no trânsitoTodo sistema novo, como o da BHTrans, tem um tempo de maturação e, por mais que tenham sido feitos estudos, podem surgir falhas nos cálculos e atrapalhar a previsãoMas há formas de melhorarA empresa que desenvolve o programa poderia trabalhar em parceria com as cooperativas de táxiA BHTrans conhece os locais e horários com maior incidência de congestionamento e poderia conseguir informações com os taxistas para mapear os pontos de lentidãoCom o tempo esse site pode ser aprimorado e se aproximar da realidade da cidade