(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Corrida de táxi em trajeto sem congestionamento também demora

A corrida também custa mais do que a estimativa da BHTrans, por esbarrar em semáforos e velocidade máxima permitida


postado em 17/06/2013 06:00 / atualizado em 17/06/2013 07:02

Clarisse Souza

Mesmo em situações em que o volume de carros é pequeno e não há congestionamentos, o sistema de simulação da BHTrans apresentou previsões erradas de tempo de viagem e valor da tarifa de táxi. Às 19h de quinta-feira, a reportagem do Estado de Minas chamou um táxi na Avenida Afonso Vaz de Melo, 1.200, no Barreiro. O objetivo era chegar à sede da PUC, no Coração Eucarístico, na Região Noroeste. O site Como vou de táxi indica tempo de 17 minutos para o percurso de 11 quilômetros. Mas, mesmo sem problemas no trânsito, o táxi só chegou à Rua Dom José Gaspar em 27 minutos. O valor previsto para a corrida é de R$ 35,95, mas na prática a corrida custou R$ 37,35. Para o motorista Deosmar Borges, que fez o trajeto, a explicação pode estar no fato de o site ignorar a velocidade permitida nas vias e o tempo parado em locais com semáforo.


Antes de levar a equipe ao Coração Eucarístico, Deosmar também acompanhou a reportagem na corrida entre a Praça da Savassi e a PUC Barreiro. Às 18h, a situação encontrada no trânsito era bem diferente. Vários pontos de lentidão atrasaram a viagem, que segundo o site da BHTrans, deveria durar 25 minutos. O primeiro trecho com problemas foi na Avenida do Contorno, ainda na Savassi. Embora não estivesse parado, o trânsito fluía lentamente. A única causa das retenções, conforme aponta o taxista, é o excesso de veículos que deixam o Hipercentro. “E olha que nem é sexta-feira”, lembrou.

Depois de enfrentar mais lentidão na Avenida Amazonas, a equipe gastou o dobro do tempo previsto pelo serviço virtual para chegar ao Barreiro. Foram 50 minutos de viagem até a portaria da PUC. Curiosamente, o preço da viagem ficou em R$ 44,60, menor que o do site, R$ 46,26. Além das falhas de cálculo, Deosmar aponta ainda problemas no roteiro da BHTrans. “Há rotas melhores que podem ser feitas em menos tempo”, diz. Ele lembra, por exemplo, que o novo viaduto que liga as avenidas Olinto Meireles e Teresa Cristina poderia estar na rota da empresa, o que reduziria um pouco o tempo de percurso.

Taxista em Belo Horizonte há 26 anos, Deosmar diz que quem quiser trabalhar nessa profissão tem de ter paciência para circular diariamente. Ciente dos problemas de mobilidade, ele evita prever o tempo de corrida, mesmo a pedido dos passageiros. “O trânsito é muito dinâmico. Não dá para saber o tempo de viagem, porque você pode dirigir um pouco e encontrar um acidente ou uma retenção”, observa. Ele critica ainda a falta de planejamento e obras viárias para desafogar a região central. “O que fizeram até agora não ajudou muito. No viaduto sobre a Avenida Teresa Cristina e o Bulevar Arrudas, inaugurado há pouco tempo, a única coisa que criaram foi um congestionamento panorâmico”, brinca.

SEM MUDANÇAS

Apesar das falhas no cálculo do tempo das corridas, a BHTrans não prevê mudanças no site para levar em conta o horário da viagem. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, o serviço, que até sexta-feira já havia registrado 13.355 acessos, usa uma aplicação do Google para fazer as previsões. O cálculo da tarifa é feito multiplicando a distância percorrida estimada pelo quilômetro rodado, considerando o valor da bandeirada. No entanto, a BHTrans admite que o sistema não leva em conta o trânsito da cidade e que são usados apenas os dados de velocidade média. Ainda segundo a assessoria, a empresa acompanha comentários e reclamações para fazer ajustes contínuos do serviço.



Experiência derruba previsão

Novo trajeto e mais diferença. O serviço virtual da BHTrans estima em 25 minutos o tempo gasto para percorrer o trecho de 17 quilômetros entre a Pwraça da Savassi e o Shopping Norte, em Venda Nova, com tarifa de R$ 53,27. Mas antes mesmo de arrancar o veículo, às 17h45, Marcelo Cândido Junior, taxista há dois anos, já alertou: “Nesse horário a gente vai demorar pelo menos uma hora até Venda Nova”.

A experiência de Marcelo, acostumado a circular pelas ruas de BH, se mostrou bem mais eficaz que os cálculos da BHTrans. O tempo previsto pela empresa não foi suficiente nem mesmo para sair da Região Centro-Sul. Às 18h10, o taxista ainda não havia se livrado do congestionamento que se estendia por toda a Avenida Bias Fortes. A fila de carros descia lentamente em direção à Praça Raul Soares, com velocidade máxima de 30 quilômetros por hora.

“Nesse horário você não consegue chegar a lugar nenhum em 25 minutos”, afirma Marcelo, acostumado a enfrentar os congestionamentos. Ele se preocupa com as informações prestadas pelo site por não levar em conta as variações no trânsito no decorrer do dia: “Imagine se o passageiro começar a cobrar que a gente faça as corridas no tempo sugerido pelo site? A gente não vai ter o que fazer”.

faixa Depois de passar mais de meia hora na região central, um alternativa viária ajudou a acelerar a viagem: na Avenida Antônio Carlos, o veículo percorreu vários quilômetros em faixa exclusiva para táxis e ônibus. Mas assim que o carro se aproximou de Venda Nova, os problemas no trânsito voltaram, gerando mais atraso. Em vários trechos da Avenida Dom Pedro I, na altura do Bairro Santa Branca, a velocidade máxima alcançada não passava de 10 quilômetros por hora. A reportagem só conseguiu chegar ao destino, na Avenida Vilarinho, depois de uma hora e quatro minutos. Como consequência, a tarifa também foi superior à prevista: em vez de R$ 53,27, o taxímetro marcou R$ 63,60.

Taxistas temem prejuízo

Na avaliação de quem circula diariamente por Belo Horizonte e conhece bem os problemas da cidade, uma opção para corrigir as falhas do site da BHTrans é ouvir os profissionais do setor. O presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir-MG), Dirceu Efigênio Reis, acredita que os problemas encontrados pela reportagem podem prejudicar os motoristas. “Os passageiros podem querer exigir o preço sugerido pela BHTrans e cobrar que a corrida dure o tempo previsto, mas o taxista não terá o que fazer.”

Dirceu entende que a principal falha do site é ignorar os problemas de mobilidade em várias regiões da cidade. Segundo ele, a demora para chegar aos destinos faz passageiros desistirem da corrida e descer, tamanha a lentidão. Com a disparidade entre as informações do serviço virtual e a realidade, ele teme que a insatisfação dos passageiros aumente. “Os taxistas conhecem as melhores rotas e sabem onde o trânsito fica ruim em horários de pico. Poderiam ter ouvido quem está no trânsito, porque eles contribuiriam para melhorar o sistema”, sugere o presidente do sindicato dos taxistas.

Palavra de especialista - Parceria para melhorar
Paulo Rogério Monteiro
Mestre em engenharia de transportes
É difícil simular o tempo de percurso no trânsito. Todo sistema novo, como o da BHTrans, tem um tempo de maturação e, por mais que tenham sido feitos estudos, podem surgir falhas nos cálculos e atrapalhar a previsão. Mas há formas de melhorar. A empresa que desenvolve o programa poderia trabalhar em parceria com as cooperativas de táxi. A BHTrans conhece os locais e horários com maior incidência de congestionamento e poderia conseguir informações com os taxistas para mapear os pontos de lentidão. Com o tempo esse site pode ser aprimorado e se aproximar da realidade da cidade.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)