Bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, tiros de balas de borracha, vandalismo e pelo menos seis pessoas feridas no confronto entre manifestantes e policiais militares, e mais de 115 quilômetros de congestionamentos pela cidadeBelo Horizonte ficou sob protesto e pancadaria ontem durante manifestação de cerca de 20 mil pessoas, segundo a PM, que se estendeu da Praça Sete à PampulhaÀ noite, eles retornaram para o Centro e fecharam a praçaEntre os manifestantes estavam estudantes, professores, policiais civis e pessoas convocadas por outras entidadesOs motivos foram variados: custo do transporte coletivo, baixos salários, precariedade dos serviços públicos, corrupção e o grande volume de recursos destinados às obras da Copa do MundoA PM informou que apenas reagiu a agressões físicas dos manifestantes, que tentaram furar o bloqueio.
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A concentração começou às 13h, na Praça SeteEm pouco mais de meia hora, a multidão se reuniu, vigiada por um grande efetivo formado por policiais dos batalhões de Choque e de Trânsito e de outras unidades da PMA saída foi às 13h45, quando um grupo inicial de aproximadamente 5 mil pessoas seguiu pela Avenida Afonso Pena e pelo Viaduto A, ao lado da rodoviáriaPor onde passaram, eles pararam o trânsitoÔnibus e carros precisaram dar meia-volta e passar sobre o canteiro central para fugir do congestionamentoVárias ruas do Centro tiveram o trânsito desviado
As 12 faixas de trânsito da Avenida Antônio Carlos foram ocupadas pela multidão formada por cerca de 100 entidades, segundo os organizadoresDesmentindo os cálculos da PM, o movimento informou ter reunido cerca de 50 mil pessoasApesar da impaciência com os transtornos do trânsito, grande parte das pessoas que observavam a passagem da multidão aplaudia o grupo.
O motorista Sandro Montresor, de 37 anos, não se incomodou nem mesmo com o trânsito congestionado“Acho que os manifestantes estão certosEles têm que ir para a rua e protestar mesmo”, disse, dentro do ônibus parado no sentido Centro da Avenida Antônio Carlos.
A orientação das lideranças do movimento era para um protesto pacífico, como informou o vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Gladson Reis“Queremos somente exercer nosso direito de nos manifestar e estamos garantidos pela Constituição brasileira, que nos autoriza a livre manifestaçãoNosso protesto é legítimo e pacífico”, afirmou.
PRIMEIRO BLOQUEIO Gladson negociou com a PM a passagem dos manifestantes quando eles foram parados pela primeira vezO bloqueio ocorreu na altura do número 3.265, no Bairro Cachoeirinha, metros depois da trincheira da Avenida Bernardo VasconcelosA barreira de policiais e viaturas foi montada porque, de acordo com o chefe da comunicação da PM, coronel Alberto Luiz Alves, havia uma área limite nas imediações do Mineirão por onde os manifestantes não poderiam avançarApesar do clima tenso, a PM acabou por liberar a pista e o protesto teve continuidade
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Mas o que até então sem conflitos se transformou em cenário de guerraNa altura do número 3.265, o movimento seguiu pacífico até a altura da Rua Flor de Índio, a poucos metros da entrada da UFMGPor volta das 17h, a PM informou que o protesto deveria ser encerradoLíderes do movimento ainda tentavam negociar a passagem da marcha, quando um grupo avançouA polícia reagiuManifestantes correram e tentaram se distanciar das explosões das bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e dos tiros de balas de borrachaEles tentavam fugir do gás, que causa tosse e enorme ardência nos olhos.
Houve gritaria e confusãoUma nuvem de fumaça pairou sobre a avenida e o movimento recuouOutras pessoas resistiam e tentavam avançar jogando pedras e tentando se proteger com tábuas de madeiraUma mulher passou mal e precisou sair carregadaEm alguns pontos da via, manifestantes fizeram fogueiras com palha de palmeiras.
Fileiras de policiais avançavam aos poucos, batendo os cassetetes nos escudos, até que, em um dos momentos em que a marcha se interrompeu, um dos manifestantes caminhou ao encontro dos militares“Vocês estão jogando bombas nos meus filhos”, gritou o músico Lenis Rino, de 34 anosAlguns policiais foram em direção a eleOutros manifestantes se encorajaram e também se aproximaram, a maioria com os braços erguidos ou se agachando no chão, enquanto gritavam: “Sem violência! Sem violência!”.
“Meus três filhos estão aqui hoje”, explicou LenisOutro manifestante questionou os militares: “Por que não podemos passar?”Por volta das 17h45, depois de breve negociação, a polícia deixou que a multidão voltasse a avançar“O povo unido jamais será vencido”, gritaram os manifestantesA multidão se juntou a outra, menor, que aguardava bem perto do Viaduto José Alencar.
Entre o grupo, a maioria de estudantes, o sentimento foi de repúdio à posição da políciaUm dos líderes do movimento, o vice-presidente da Ubes afirmou que houve muita truculência“Estamos seguindo em um movimento pacíficoA polícia é que veio para cima.” A coordenadora geral da Federação Nacional dos Estudantes de Escolas Técnicas (Fenatec), Bia Martins, explicou que a confusão ocorreu porque o horário coincidiu com a saída de funcionários que ainda estavam no trabalho assistindo ao jogo e queriam passar o bloqueio“Estávamos parados quando a tropa de choque veio para cima dos manifestantes”, disse Bia.