Valquiria Lopes, Mateus Parreiras, Felipe Canêdo, Tiago de Holanda, Sandra Kiefer, Carolina Mansur, Marinela Castro e Landercy Hemerson
Diante da insistência da multidão em chegar ao Mineirão que gerou o confronto com seis feridos, a comandante de Policiamento da Capital, coronel Cláudia Romualdo, tentou negociar a parada dos manifestantes antes do encontro com os policiais perto do estádio. “Vou permanecer aqui. Se quiserem se manifestar, o espaço está livre. Até aqui a manifestação está absolutamente ordeira, pacífica e tranquila. Daquele ponto não é possível passar”.
Questionada sobre o motivo da interdição, ela respondeu: “O entorno do Mineirão é território da Fifa.” Não quero que vocês se machuquem”, alertou a coronel. Segundo ela, todos os grupos integrantes do movimento serão identificados em um boletim de ocorrência que será encaminhado à Polícia Civil, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, já que os protestos com fechamento do trânsito estão proibidos por liminar da Justiça.
Depois de dispersar parte da multidão, o cordão de isolamento foi aberto e parte dos manifestantes seguiu em caminhada. Metros à frente, mais confusão. Com o término do jogo entre Taiti e Nigéria, a PM liberou o acesso até as proximidades do estádio, mas manifestantes encontraram o entorno do Mineirão, na altura da Abrahão Caram, ocupado por mais uma barreira policial. “Nossa intenção não é barrar ninguém. Daqui a 10 minutos, vocês podem passar”, disse o coronel Divino Brito, chefe do Estado Maior da PM.
No confronto, pelo menos seis pessoas ficaram feridas, incluindo dois jovens que se sentiram encurralados a ponto de pular de um viaduto de uma altura de cinco metros. Os dois foram socorridos em estado grave no Hospital de Pronto-Socorro Risoleta Neves, em Venda Nova, e não corriam risco de vida, segundo a instituição. Horas antes, o hospital já havia recebido dois estudantes atingidos na costela e no antebraço por balas de borracha.
Gustavo Justino, de 18 anos, caiu do viaduto José Alencar por volta das 19h, no momento em que a polícia tomava esse trecho da Avenida Antônio Carlos, em um dos acessos ao Mineirão, Nas redes sociais, quem participava da manifestação afirmou que o rapaz fugia do avanço da polícia. Há outra versão, porém não confirmada, de que ele teria tentado saltar para a outra pista do viaduto e não percebeu que o fosso era falso.
Com ferimentos na cabeça, bastante ensanguentado, o rapaz foi socorrido pela Polícia Militar e levado para o Hospital Risoleta Neves, onde passou por exames de raio X. Segundo informações de plantonistas, Gustavo chegou consciente, conversando com os policiais. Foi ele mesmo quem passou os dados pessoais para preencher a ficha de entrada no Pronto-Socorro. O estado de saúde dele era estável.
Na altura da Trincheira Santa Rosa, também na avenida Antônio Carlos, em frente a uma concessionária de veículos apedrejada pelos manifestantes, Natália Nascimento Dantas, de 21 anos, também caiu. Ela já chegou imobilizada no Risoleta Neves e, apesar de não ter sido divulgado boletim médico, estaria com fratura exposta no fêmur. Ela recebeu os primeiros socorros dos bombeiros e foi socorrida na Unidade de Suporte Avançado (USA) do Samu. No início da madrugada de hoje, o quadro de saúde dela era bom.
Entre os feridos no confronto, o conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Bruno Cardoso, atingido por um cassetete na cabeça. Ele acompanhou a manifestação de sábado e reclamou da truculência da PM no protesto de ontem. “A polícia estava se abrindo para o diálogo, desta vez nos recebeu com violência. Tomei uma cassetada na cabeça por trás. Foi lamentável, pessoas machucadas, bombas de gás”, relata. “Isso é retrato de muita gente indignada, direitos violados e as pessoas viram que a Copa é para poucos”, garante. “Nunca senti orgulho do país. Hoje, estou sentindo. Entendi que ou eles param com a roubalheira ou nós paramos o Brasil”, resumiu a técnica de enfermagem Angélica de Lima.
PM diz que apenas reagiu
Cinco manifestantes foram presos durante as manifestações, que reuniram cerca de 20 mil pessoas no Centro de Belo Horizonte e no entorno do Mineirão, na Região da Pampulha, segundo a Polícia Militar. Entre os três feridos, está o estudante Gustavo Magalhães Justino, de 18 anos, conduzido ao Hospital Risoleta Neves, depois de sofrer queda do viaduto José de Alencar, que dá acesso à Avenida Antônio Abrahão Caram.
Também tiveram ferimentos leves os manifestantes Frederico Augusto Oliveira, de 20, e Guilherme Eduardo Valério de Oliveira, de 22. Segundo a PM ,a queda do estudante do viaduto não foi motivada por ação da polícia. Os outros feridos também teriam sido atingidos por artefatos, como pedras e pedaços de paus.
Apesar da orientação para que a manifestação fosse conduzida de forma pacífica, com a facilitação do deslocamento dos estudantes e sem o uso de armas, a Polícia Militar usou bombas de gás e balas de borracha para conter os manifestantes. O confronto teve início em área próxima à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde foi montado um cordão de isolamento, para limitar a entrada dos manifestantes ao acesso ao Mineirão.
Segundo a PM, os manifestantes tentaram romper a segurança com agressão física, o que se repetiu nas proximidades do Mineirão. “A Polícia Militar não agrediu ninguém. Após a exaustão do diálogo, reagiu à ação de infiltrados. Alguns manifestantes agrediram os policiais, que agiram para garantir a segurança dos jovens. Eles usavam armas como pedras e pedaços de pau”, disse o porta-voz da corporação, tenente-coronel Alberto Luiz Alves.
Segundo ele, a PM está reunindo imagens no intuito de sustentar que não houve excessos por parte dos militares. “Se houver alguma imagem que aponte para abusos, vamos atribuir as responsabilidades.” Ele ressaltou ainda que a chefe do Comando de Policiamento da Capital, coronel Cláudia Romualdo, chegou a ser protegida por estudantes contra a ação de “infiltrados”, que tentavam agredi-la.
PRONTIDÃO A ação de ontem reuniu efetivo de 3,5 mil homens, mas 11 mil estavam de prontidão na Região Metropolitana de Belo Horizonte, prontos para entrar em ação, caso acionados. Apesar do confronto com os manifestantes na tarde de ontem, o tenente-coronel Alberto Luiz Alves garantiu que a PM está preparada para agir, casos os protestos continuem ao longo dos jogos da Copa das Confederações. “Estamos preparados não para a agressão, mas para o diálogo, para garantir a segurança e o direito à manifestação.”
A PM revelou ainda que durante a manifestação houve também pichações no Palácio da Liberdade, onde duas pessoas foram presas, e depredações em comércio e agências bancárias, ao longo da avenida Antônio Carlos.
Ato perto do Mineirão
Cerca de 200 pessoas do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (SindUTE) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) fizeram manifestação perto da igrejinha da Pampulha, a apenas 1 km do Mineirão, no início da tarde de ontem. Sessenta policiais militares faziam uma barreira com 13 viaturas e três ônibus do Batalhão de Choque, Cavalaria e Canil.
O grupo tentou seguir para o Mineirão e entregar rosas e panfletos para os torcedores que chegavam para assistir ao jogo da Copa das Confederações. Os policiais montaram um bloqueio munidos de escudos e cassetetes. Atrás ficaram a cavalaria, ladeada por atiradores de balas de borracha e granadeiros e, por último, os cães. Os manifestantes foram retidos na linha de escudos e, sem poder passar, cantaram hinos de reivindicação e atiraram rosas sobre os policiais. A PM permitiu que eles fossem até o Mineirinho. “Chegar ao Mineirinho foi uma vitória para nosso movimento, que é pacífico e luta por melhorias na educação”, disse a coordenadora do SindUTE e presidente da CUT em Minas, Beatriz Cerqueira.