
A Praça Sete tornou-se o principal palco de protesto ontem à noite em Belo Horizonte, depois que o grupo que marchava em direção ao Mineirão foi dispersado pela polícia. O trânsito na área central ficou congestionado e, no fim da noite, a praça permanecia fechada e as linhas de ônibus que passam pelo local tiveram que ser desviadas, causando transtorno para quem ia para casa. Entre os manifestantes uma variedade de discursos, com reivindicações que iam do combate à corrupção política ao fim do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
David, de 28 anos, que trabalha como design, preferiu não ter seu nome completo divulgado, mas se fantasiou de índio para manifestar sua indignação. “Os R$ 0,20 são o ponto de partida, mas a nossa insatisfação abrange muito mais coisa. A luta é contra a postura dos governantes no trato das várias questões que envolvem a sociedade, incluindo a demarcação das terras indígenas.”
Em cerca de seis horas de protestos na área central à noite, as situações de tensão foram poucas, ao contrário do que se viu durante o dia na Avenida Antônio Carlos. Por volta das 21h, um grupo deixou a praça e seguiu até o prédio da prefeitura, na Afonso Pena. Com a chegada de homens do Batalhão de Choque, usando equipamentos para o confronto, os ânimos se exaltaram com os manifestantes. Porém, com a constatação de que a tropa não reagiria, mas apenas estava no local para evitar a invasão do prédio, a tranquilidade foi retomada e as pessoas retornaram para a Praça Sete. Antes, um grupo manteve o trânsito na Rua da Bahia parado por cerca de 20 minutos em meio às provocações aos militares que acompanhavam a ação.
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Os primeiros manifestantes chegaram à Praça Sete por volta das 17h30, depois que um grupo decidiu não seguir até o Mineirão. No começo da noite somavam-se cerca de 3 mil pessoas, que tomaram todo o espaço da praça. Horas depois, com o retorno de mais um grupo que havia seguido para a Pampulha, o número de manifestantes chegou a 10 mil.
CARTAZES O tenente-coronel Welton Baião, comandante do 1º Batalhão da PM, comandava a ação policial e manteve seu pessoal à distância de pelo menos 50 metros da praça. O trânsito foi desviado por militares do Batalhão de Trânsito e policiais do Regimento de Cavalaria deixaram o local assim que perceberam que a concentração das pessoas transcorria de forma tranquila, apenas com palavras de ordem e exibição de cartazes e faixas. “Apesar da ordem judicial que proíbe as manifestações, fechando as ruas, vamos apenas acompanhar, sem reprimir os protestos, já que o objetivo maior é preservar a integridade física das pessoas e os bens patrimoniais”, explicou Baião.
A estudante de contabilidade Ângela Cândida Oliveira, de 20, atestou o clima pacífico da manifestação. “Aqui temos uma mistura de várias causas. Nós sabemos que por algum tempo a sociedade se calou diante de tantos problemas. Mas agora chega de inércia! E é isso que está unindo pessoas com causas tão diversas num só protesto”.
T., de 23, trabalha numa unidade da Polícia Civil e, mesmo sem se identificar, levou seu protesto para a praça. “Quem está em casa não tem a dimensão da importância de estarmos aqui juntos declarando nossa insatisfação com nossos governantes, mesmo querendo nos calar. Quem está em casa sofre com a manipulação daqueles que afirmam ser o movimento uma baderna. Mas deveriam estar aqui, pois o Brasil passa por um momento crítico.”