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Estado de Minas

Maioria dos manifestantes se mobiliza para barrar ataques de vândalos


postado em 20/06/2013 07:08 / atualizado em 20/06/2013 07:35

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

“Cara limpa, cara limpa”, gritaram os manifestantes, ontem, depois que um grupo de vândalos, com os rostos cobertos por camisas, quebrou a vidraça de uma loja de produtos naturais na Avenida Cristóvão Colombo, na Savassi, e furtou potes de suplementos alimentares. O pedido para um protesto sem violência fechou mais um dia de manifestações em Belo Horizonte, marcado pela concentração e passeatas de pelo menos 10 mil pessoas que começaram no início da tarde e terminaram à noite na Praça Sete, se estendendo para o Viaduto Santa Tereza, a Praça da Assembleia e outras regiões.

A Polícia Militar informou que também está atenta à atuação de vândalos durante as manifestações. Na noite de anteontem, por exemplo, 12 pessoas foram presas em flagrante por depredação, sendo nove com ficha criminal. E ontem houve novas prisões de suspeitos de crimes.

Os atos de violência durante os protestos, principalmente de criminosos infiltrados, são uma preocupação crescente de quem está indo às ruas da capital pacificamente por causas diversas. Mesmo sem uma estratégia conjunta para lidar com o problema, a ideia geral é abordar na hora quem pretende ou começa a agredir ou depredar.

Foi o que aconteceu na noite de ontem. Às 20h40, os manifestantes chegaram à Praça da Savassi. Após uma bandeira do Brasil ser pendurada em um poste, a multidão cantava o Hino Nacional, quando vândalos subiram a Cristóvão Colombo, em direção à Avenida do Contorno. Eles colocaram fogo em sacos de lixo na calçada e quebraram a vidraça da loja. Rapidamente, a multidão reagiu gritando: “sem vandalismo”.

Além dos apelos, um grupo correu para frente da loja e fez uma corrente humana de braços dados para impedir os saques. Nesse momento, manifestantes e vândalos entraram em confronto, mas, com a chegada de mais gente contrária às depredações, os criminosos fugiram. Quando a polícia chegou foi informada de que ali só havia manifestantes e que os baderneiros haviam corrido. Começou então o apelo da maioria para que outros manifestantes tirassem as camisas e máscaras dos rostos. Por volta de 21h, eles retornaram para a Praça Sete. Exausta pela caminhada, a maioria se sentou no chão e depois se dispersou aos poucos.

Na noite de terça-feira, manifestantes já haviam tentado sem sucesso impedir a ação dos encapuzados, que atacaram a sede da prefeitura, lojas, agências bancárias e ônibus e outros veículos,. prova de que a resistência ao vandalismo e á violência é crescente entre a maioria.

O que se viu ontem nas ruas e praças foi muita gente com os rostos pintados de verde e amarelo, bandeiras do Brasil, diversas reivindicações – do passe livre estudantil à destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para as áreas de educação e saúde e muitos cartazes condenando a violência.

“Vandalismo não me representa”, lia-se no cartaz erguido pelo estudante Pedro Cordeiro, de 17. “O pessoal tem um raiva contida da corrupção mais, mas os vândalos não nos ajudam a conseguir as mudanças que queremos. Falta liderança para motivar as pessoas a evitarem esse tipo de coisa”, analisa.

Repúdio crescente

A empresária Alice de Faria, de 24, foi para a manifestação acompanhada do marido, o também empresário Hernane Afonso, 26, e dos filhos Rodrigo e Erick, de 6 e 3. Os quatro foram a todas manifestações, desde segunda-feira. “Esses casos de violência são isolados e envolvem pouca gente. Costumam ocorrer mais tarde, quando a maioria já foi embora. O pessoal tenta conter, mas acaba recuando, com medo de se machucar”, observa. “Isso acaba ofuscando a beleza do movimento, mas a gente que está na paz vai conseguir passar nossa mensagem”, disse a moça.

Emocionados, ela e Hernane choraram quando Erick, sentado nos ombros do rapaz, ergueu um cartaz com a inscrição “Eu mereço um país melhor” e foi ovacionado pela multidão em volta. “Ficamos emocionados. As crianças também têm o direito de lutar”, disse Hernane.

Dias de luta, dias desleais

Carlos Marcelo

Praça da Liberdade, noite de terça-feira. Alguns minutos depois das 22h, a equipe do Estado de Minas termina de registrar a chegada de manifestantes ao local. A menos de 50 metros dali, um grupo com os rostos encobertos intimida motoristas de carros particulares e passageiros de ônibus com paus, pedras e gritos. Camiseta e calça jeans, um jovem de cabelo encaracolado se aproxima dos jornalistas e, enquanto arruma os óculos de aro redondo, nos pede: "Olha, o que eles estão fazendo não tem nada a ver com os nossos protestos. Por favor, nos ajudem a mostrar que eles só querem violência. E divulguem o que a gente está fazendo, que é tão bonito".

Não precisava pedir. Mesmo em manifestações de menor porte, como o protesto de anteontem em frente ao Palácio da Liberdade, é facilmente perceptível que há dois grupos nas ruas: o maior, heterogêneo, é formado por pessoas de idades e motivações diferentes; outro, bem menor, é integrado pelos baderneiros. São aproveitadores que, quando a noite cai, cobrem os rostos com as próprias camisas e partem para atos de depredação, saques e intimidação. Nos olhos, em vez de esperança e desafogo, ostentam ódio e brutalidade. Ao contrário do grupo majoritário, dá para imaginar direitinho o que eles querem. E está bem longe de ser o que tem levado milhões de cidadãos brasileiros a sair de casa para explicitar o pertencimento da pátria sem mediação de partidos nem ufanismos estéreis.

Desde o início da semana, há uma nova batalha nas noites de BH. O confronto se configurou entre os que desejam continuar a se expressar e os que cometem a deslealdade de se aproveitar de um movimento espontâneo para obscurecer o que foi, de súbito, iluminado. Estamos atravessando dias históricos; dias de descoberta, por uma nova geração, que é permitido protestar. Mas o grito há tempos engasgado não pode ser sufocado por quem oculta a face para esconder suas reais intenções. Em última instância, a ameaça não é ao patrimônio, mas à liberdade de ir às ruas e voltar para casa com a alma lavada.


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