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Estado de Minas

Manifestação em BH reuniu muita gente e mostrou diferentes tipos de insatisfação

Muita gente, muitos pedidos: no quarto dia de passeatas na capital mineira, 20 mil pessoas se reúnem no Centro e na Câmara Municipal


postado em 21/06/2013 06:00 / atualizado em 21/06/2013 08:43

Tiago de Holanda, Mateus Parreiras, Alice Maciel, Landercy Hemerson e Luciane Evans

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Cuidado. Querem tirar nosso foco. O protesto é contra a roubalheira”, dizia um dos cartazes expostos ontem na Praça Sete, no Centro de BH, onde se reuniram cerca de 20 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Porém, no quarto dia seguido de manifestações na capital, mais uma vez ficou claro que as queixas são diversas, muitas, incontáveis. Parte delas parece ser unânime, como o combate à corrupção, mas outras são bem controversas. Algumas, um tanto imprecisas, exigem mudanças vagas. A variedade de reivindicações pode incomodar, mas muita gente prefere que seja assim. O Brasil, dizem, tem problemas em abundância. Na manifestação de ontem, que passou pela Praça da Liberdade e pela Câmara Municipal, no Santa Efigênia, houve menos incidentes do que nas anteriores. Uma pessoa foi presa por tentar roubar um manifestante.



“Tem tanta coisa errada, que nem cabe em um cartaz”, lia-se na cartolina erguida por Stephanie Messias, de 18 anos. No ato de ontem, ela estava acompanhada de outros sete estudantes de direito. “A grande quantidade de objetivos não é ruim. Não dá pra resolver tudo de uma vez, mas aos poucos as coisas mudam. A partir de agora, vamos ficar no pé dos políticos”, diz a moça. Os colegas concordam. “Acho que a principal meta é reduzir o preço da passagem de ônibus, mas há muita coisa errada. A gente está indignada, por exemplo, com o excesso de dinheiro gasto com a Copa do Mundo”, disse Blenda Lopes, de 19. “Na verdade, é a união de tudo: corrupção, a falta de saúde, de educação. A gente não aguenta mais”, opina Luiz Fernando, 19. Ele carregava um cartaz criticando a imensa carga tributária brasileira. “Pagamos um monte de impostos e não temos retorno nenhum”, apontou.

 
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Como tantos outros, o cartaz segurado pelo vestibulando Wallaggy Ribeiro, de 22 anos, atacava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que retira do Ministério Público o poder de investigar crimes. Já o primo dele, o estudante de ciências contábeis Michel Warley, de 26, levantava outra bandeira: “Não à Copa, sim à saúde”. “Há uma mês, fiquei um dia inteiro esperando em um centro público de saúde e, quando fui atendido, o médico errou o diagnóstico. Disse que eu tinha virose, mas depois descobri que era um princípio de pneumonia”, contou o jovem. A amiga que os acompanhava, a estudante de biomedicina Jéssica Carvalho, de 21, tinha outro alvo: “Não ao Ato Médico”. A moça se refere ao projeto de lei que, à espera de sanção da presidente Dilma Rousseff, amplia o escopo de atividades exclusivas dos médicos. Os três aprovam o fato de os protestos terem tantas reclamações. “Os vários objetivos mostram que há muitos problemas para resolver”, constata Michel.

O cartaz da estudante de publicidade e propaganda Luísa Teles, de 20 anos, tinha dizeres irônicos: “Por uma saúde e uma educação nos padrões Fifa”. Apesar disso, a mudança mais urgente que deve ocorrer no país é outra, na opinião dela. “O principal é tirar o Marco Feliciano (deputado federal que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara). Você não constrói uma democracia recriminando as pessoas por causa da opção sexual delas”, alegou. A cartolina exposta por uma amiga, a estudante de direito Luiza Barros, de 20, celebrava a realização dos protestos: “País mudo não muda. O gigante acordou”. Para a moça, a meta mais importante é outra: “É diminuir o salários dos políticos, os gastos que eles têm à nossa custa. Esse dinheiro precisa ser investido em saúde e educação”, opina Luiza. “A galera percebeu que tem muita coisa para ser corrigida. Não tem como concentrar em um único objetivo”, acredita.

Perto dali, um jovem passou com um cartaz ambicioso: “Precisamos mudar: política, educação, saúde, transporte, caráter”. Um rapaz pedia o “fim do financiamento privado de campanha”. Outro queria a “cabeça” do presidente do Senado: “Fora, Renan Calheiros”. Com uma rima de gosto duvidoso, uma moça exigia mudança: “Não quero tchu, nem quero tcha, quero revolução e quero já”. Outro dizia que “não está certo o que o governo faz com nosso dinheiro”. Havia quem antevisse um promissor futuro, ainda que incerto: “Amanhã vai ser outro dia”. E outro ameaçava: “Só sairemos da rua quando o último corrupto cair”. Como que em resposta a essa promessa, uma garota anunciava: “Milagres acontecem quando a gente vai à luta”. Inscrita em um cartaz, talvez apenas uma mensagem fosse apoiada por todos os manifestantes: “O Brasil tem conserto”.

Sem incidentes

Apesar dos poucos incidentes, a manifestação de ontem deu mais trabalho à Polícia Militar para organizar o trânsito. A falta de uma coordenação do ato se refletiu em diversos impasses e desvios de trajeto que dificultaram o esquema de segurança da PM para acompanhar o protesto e provocaram engarrafamentos. A primeira indecisão de percurso ocorreu na Praça da Liberdade, na esquina da Avenida Brasil com Avenida Cristóvão Colombo. Alguns manifestantes queriam descer para a Praça da Savassi e outros queriam ir para a Câmara. Foi preciso retornar para a esquina, onde, depois de alguns minutos, o impasse foi resolvido com uma votação que decidiu por uma caminhada até o prédio do Legislativo Municipal.

Ao longo do caminho os manifestantes conclamaram a população a piscar as luzes de suas casas, buzinar e seguir com a multidão. Chamou a atenção a consciência dos manifestantes, que fizeram silêncio ao passar na área hospitalar, próximo aos hospitais Santa Casa e São Lucas. Ao chegar à Câmara, não havia policiais esperando, uma vez que tropas de choque e outras unidades ficaram presas no trânsito. Mas não houve vandalismo. Os manifestantes cantaram o hino nacional, escalaram a laje da entrada do prédio e hastearam uma bandeira do Brasil nos mastros do edifício. Também entoaram lemas de apoio à redução das tarifas de transporte.


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