Uma multidão com quase 100 mil pessoas ocupou neste sábado a região do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, onde grupos enfrentaram a Força Nacional e a Polícia Militar à margem da partida entre México e Japão (2-1) pelo Grupo A da Copa das Confederações". Os confrontos deixaram ao menos 15 feridos, incluindo quatro policiais, informou a PM mineira.
Gritando frases contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, milhares de pessoas tentaram romper o cordão de isolamento montado em torno do estádio e foram reprimidos pela Força Nacional e a PM com bombas de gás lacrimogêneo.
A passeata na capital mineira começou na Praça Sete, no centro da cidade, e seguiu por cerca de 15 quilômetros em direção ao Mineirão. Na avenida Antônio Carlos, a multidão avançou em direção ao cordão de isolamento, localizado a dois quilômetros do estádio. Diante da ameaça, os agentes da Força Nacional e a PM dispararam ao menos 20 bombas de gás lacrimogêneo, tiros de bala de borracha e jatos de gás de pimenta em direção aos manifestantes, que correram no sentido contrário.
A ação policial deflagrou um cenário de guerra na região, onde prédios foram depredados e lojas, saqueadas. Até uma concessionária da Hyundai, patrocinadora oficial da Fifa, acabou destruída. Segundo o coronel Carvalho, comandante da PM, havia um acordo com as lideranças para que o protesto passasse pela Antônio Carlos e seguisse em direção à Pampulha, mas grupos de manifestantes atacaram o cordão de isolamento jogando pedras e outros objetos.
Em São Paulo, um protesto contra a PEC 37 - que retira o poder de investigação do ministério público - reunia mais de 35 mil pessoas, que seguiam pela avenida Consolação em direção ao centro da cidade, com a intenção de protestar diante da sede do Ministério Público Estadual.
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País
Em Salvador, onde o Brasil venceu a Itália por 4 a 2 pelo Grupo A da Copa das Confederações, um protesto reuniu cerca de duzentas pessoas na região do shopping Iguatemi, constatou a AFP. "Não queremos tirar Dilma Rousseff do poder, mas exigimos que a mesma quantidade de dinheiro que se gastou na construção de estádios para a Copa seja destinada a projetos de saúde e educação", disse à AFP Alexandre, estudante de direito de 23 anos.
Dezenas de torcedores no estádio da Fonte Nova exibiram cartazes nas arquibancadas para apoiar os protestos nas ruas: "Não é contra a seleção, é contra a corrupção". No Rio de Rio de Janeiro, cerca de 40 manifestantes mantinham uma vigília diante da casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon.
Os protestos, que ocorrem em mais de 90 cidades do país, foram convocados nas redes sociais, apesar do discurso da presidente Dilma Rousseff, que prometeu na véspera um grande pacto nacional para melhorar os serviços públicos.
Dilma admitiu que o país precisa de "formas mais eficazes de combate à corrupção" e prometeu "escutar as vozes da rua", em um comunicado à nação em rede nacional após protestos que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas.
Ainda assim o movimento Passe Livre de São Paulo (MPL), que desencadeou o movimento de protestos contra o aumento do custo do transporte, indicou neste sábado que as manifestações irão continuar, após vários de seus porta-vozes afirmarem na sexta-feira que suspenderiam as ações.
"Não estamos suspendendo os protestos. Sempre afirmamos que a luta contra o aumento - das tarifas de ônibus - iriam continuar até a revogação. Agora que a tarifa baixou, vamos continuar a luta pela tarifa zero" anunciou em sua página no Facebook.
Nas redes sociais começaram as reações ao discurso à nação da presidente Dilma, que prometeu trabalhar por melhores serviços e ouvir a voz das ruas. Uma das imagens postadas e replicadas era a de um homem quase dormindo: "Minha cara enquanto a Dilma fala", dizia a legenda. Outros, no entanto, elogiaram a declaração da presidente, denunciando a corrupção e reconhecendo como legítima as reivindicações dos manifestantes.
Inicialmente contra o aumento dos transportes públicos, uma medida que foi revertida em várias cidades do país após a onda de protestos, as manifestações em todo o Brasil se referem a uma reivindicação geral contra a má qualidade dos serviços públicos, a corrupção e os gastos milionários com a Copa do Mundo de 2014.
Segundo pesquisa publicada neste sábado pela revista Época, 75% dos brasileiros apoiam os protestos que tomaram conta das cidades brasileiras para exigir a redução dos preços nos transportes e rejeitar a corrupção e os gastos com a Copa do Mundo em detrimento de investimentos em saúde e educação.
Os principais motivos que levaram os brasileiros às ruas foram: melhoria no transporte público (77%), contra o desempenho dos políticos (47%), contra a corrupção (32%) e por melhor saúde e educação (31%), revela a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes..