Paula Sarapu e Landercy Hemerson
Uma das maiores operações militares da história de Belo Horizonte está montada para tentar garantir a segurança durante os protesto de hoje, dia de jogo da Seleção Brasileira no Mineirão. Apenas entre agentes da Polícia Militar e da Força Nacional estão mobilizados 5.567 policiais, um reforço de mais de 55% em relação ao efetivo de 3.580 de sábado, durante o jogo entre Japão e México. O contingente, que terá também 1.500 militares do Exército e reforço da Polícia Rodoviária Federal nos acessos à capital, pode contar ainda com pelotões da PM que estão em alerta em cidades da Região Metropolitana de BH. O tamanho da mobilização demonstra o clima de tensão e a preocupação do estado, que trabalha com a hipótese de que os manifestantes tentem atrapalhar a chegada dos torcedores ao estádio e até impedir a saída da Seleção Brasileira do hotel. Fala-se, inclusive, da possibilidade de o time deixar a concentração de helicóptero.
No fim da noite de ontem, o governador Antonio Anastasia anunciou que uma barreira física será instalada na Avenida Abrahão Caram, na Pampulha, local em que ocorreu o principal confronto entre policiais e manifestantes no sábado. A decisão foi tomada depois de reunião de três horas com 10 representantes do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa, que assinaram documento com propostas para que as manifestações ocorram em clima pacífico. De acordo com o governador, a barreira será o ponto de bloqueio dos protestos e os militares vão acompanhar a mobilização à distância. “É nosso dever garantir a segurança dos manifestantes, de todas as pessoas, e reiterar que a manifestação deve ocorrer de maneira pacífica, tranquila, serena. As recomendações dadas às forças de segurança são exatamente nesse sentido”, disse.
Mais cedo, o comandante-geral da PM, coronel Márcio Sant’Ana, anunciou que a corporação não vai acompanhar a manifestação abrindo caminho pelas ruas. Viaturas estarão posicionadas na maioria dos cruzamentos da Avenida Antônio Carlos, vias transversais que servirão como rota de fuga em caso de confronto. O oficial avisou que estão mantidos todos os pontos de bloqueio no entorno do Mineirão. Mas afirmou que, dependendo da situação, pode não haver como liberar as ruas e garantir a chegada dos torcedores. “Se houver a ocupação maciça das ruas, isso vai inviabilizar tudo. É uma mobilização sem precedentes. A possibilidade de intervenção tem que ser proporcional. Se houver 20 mil pessoas na via, a PM não vai fazer nenhuma loucura”, afirmou o oficial. “Apelamos para o bom senso e para que haja respeito com aqueles que compraram os ingressos.”
Segundo Sant’Ana, a PM tem informações de que haverá protestos na porta do hotel da Seleção e que os grupos podem se dispersar em torno do Mineirão para atrapalhar o trânsito. “As ruas e o direito de ir e vir pertencem ao cidadão. A população pode entender que se manifestar é cercear o direito do outro de ir ao jogo. Havendo esse impedimento, o evento fica comprometido”, admitiu o comandante, lembrando que a escolta dos times é feita pela Polícia Federal.
A orientação do secretário de estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, é de que os torcedores se dirijam ao estádio o mais cedo possível. Ele mantém um discurso otimista e afirma que a polícia evitará o confronto ao máximo, mas pede que manifestantes não levem suas reivindicações até o estádio. “É evidente que não desejamos esse quadro (que torcedores sejam impedidos de chegar ao local da partida) e que vamos fazer de tudo para que isso não ocorra. Estaremos atentos, como estivemos no último jogo, quando houve esse tipo de especulação, e faremos todo o esforço para que os torcedores cheguem”, disse o secretário. Como medida preventiva, a Prefeitura de BH fez ontem a limpeza e a instalação de grades no Viaduto José Alencar, ligação das avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram, onde já foi registrada queda de manifestantes.
RECOMENDAÇÃO
Na segunda-feira, Rômulo Ferraz participou de reunião com promotores do Ministério Público estadual que integram a Comissão de Prevenção à Violência em Manifestações Populares “para alinhar os discursos”, garantir que não haveria truculência e que os excessos seriam apurados. “A manifestação só não poderá ter violência, atos de depredação ao patrimônio e quebra-quebra, porque haverá resposta imediata e proporcional da PM”, avisou.
O Ministério Público do estado assinou, com o MP federal, recomendação para uso de armas de baixa letalidade apenas em casos estritamentes necessários. O documento também fala sobre a importância de os agentes de segurança estarem identificados e solicita que os presos sejam levados para um único local: a Central de Recepção de Flagrantes. “Pede-se ainda a observância irrestrita do uso progressivo da força, adotando-se as cautelas necessárias para preservação da integridade física dos manifestantes”, diz a recomendação.
Já o coronel Márcio Sant’Ana disse que a PM atuará nos cinco pontos de bloqueio, em que só é permitido acesso daqueles que têm ingressos. Haverá reforço também na Praça Sete, no Centro, onde a polícia acredita que muitos permanecerão durante a partida. “Temos quase como certa a possibilidade de confronto, uma vez que existe por parte de um grupo de manifestantes um comportamento radical que tumultua a manifestação pacífica, cívica e responsável. A orientação que dou é a mesma que dei às minhas filhas, que também querem ir às ruas: se manifestem onde não vão correr risco. Quem caminhar para os pontos de bloqueio está correndo risco.”
...Justiça mantém
área de exclusão
A Justiça Federal em Minas negou pedido da Defensoria Pública da União para que fossem liberadas manifestações nas imediações do Mineirão, incluindo o perímetro de segurança previsto no acordo firmado pelo governo federal e a Fifa. O desembargador Carlos Olavo Pacheco Medeiros argumentou, ao negar a liminar, que não há “indicação objetiva de impedimento (em Minas) do direito constitucional dos cidadãos à livre manifestação pacífica”. “Ao Estado cabe garantir a segurança dos cidadãos, tanto aqueles que desejam exercer seu direito constitucional à livre manifestação quanto aos cidadãos que adquiriram os ingressos e pretendem comparecer aos jogos da Copa das Confederações em segurança”, escreveu.