Depois que baderneiros invadiram, quebraram, saquearam e incendiaram lojas de veículos, postos de combustíveis e outros pontos comerciais, proprietários e funcionários dos locais depredados voltaram ontem à Avenida Antônio Carlos e vias do entorno para limpar a bagunça e calcular o prejuízo. O cenário era de guerra e de grandes prejuízos, que podem ultrapassar os R$ 6 milhões, segundo os empresários.
Alvo de vandalismo pela terceira vez em 10 dias, representantes do setor reclamam da demora da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros para atender as ocorrências. Eles pensam em recorrer à Justiça contra o estado por considerar que não houve segurança suficiente durante o protesto que reuniu cerca de 50 mil pessoas.
“Já estamos nos organizando para entrar com ação coletiva por meio do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG) e tentar o ressarcimento pelo estado”, informou a gerente regional da Osaka Toyota. O problema é que há seguros que não cobrem vandalismo e outros não incluem os veículos destruídos.
A fumaça preta ainda tomava conta do segundo andar da Kia Automark na manhã de ontem, dificultando o trabalho de funcionários para avaliar a situação dos veículos. No salão de exposição, sobraram apenas carcaças destruídas pelo fogo. O incêndio destruiu também escritórios e parte do salão da Toyota Osaka, na Avenida Professor Magalhães Pinheiro. Funcionários chegaram a chamar o Corpo de Bombeiros, mas alegam que o socorro demorou e os próprios seguranças combateram o fogo com extintores e hidrantes. Os criminosos invadiram a garagem no subsolo e danificaram carros já separados para clientes. “Retiramos os carros do salão, mas não adiantou. Eles quebraram computadores e destruíram carros vendidos. É difícil calcular o prejuízo, mas chega a pelo menos R$ 1 milhão”, informou a gerente regional Nanci Marchesi.
A equipe da Honda Minas Motos chegou cedo para limpar a loja e ver se era possível reabrir ainda ontem. Motos foram levadas e todos os documentos da empresa e veículos queimados. A gerente comercial Magna Morais Cunha informou que as perdas chegam R$ 700 mil.
DESTRUIÇÃO E FURTO
Houve ataques também à Mila Volkswagen, Forlan e Hyundai, de onde furtaram computadores e televisores, além de danos a bebedores, portas e paredes. As empresas ainda não conseguiram calcular prejuízos. Em um posto de gasolina, uma loja de conveniência foi saqueada e engradados de cerveja roubados. As garrafas foram usadas como armas durante o confronto nas vias e calçadas, colocando em risco a segurança de quem caminhava pelo local.
Depredação tem seguro adicional
Os prejuízos dos comerciantes com o vandalismo na grande maioria dos casos não são divididos com as seguradoras. Isso porque a cobertura que envolve ressarcimento em caso de tumultos, greves e depredações é adicional, e raramente é incluída aos seguros contratados pelo varejo. A cobertura contra tumultos é de alto custo, pode elevar o valor da apólice em mais de 30%, o que obriga a maioria dos estabelecimentos comerciais a deixar a proteção de fora de seus contratos.
O vandalismo durante os protestos encareceu a cobertura adicional. “Em momentos como esse, poucas seguradoras fazem cobertura. Outras cobram valor alto, que chega a 50% do custo da apólice. A adesão do consumidor é muito pequena”, informa Roberto Barbosa, vice-presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguro (Fenacor).
O vice-presidente do Sindicato das Seguradoras de Minas Gerais (Sindseg-MG), Ângelo Garcia, explica que a cobertura pode ser adicionada ao pacote básico contratado exclusivamente por empresas, não inclui residências. “É uma cobertura empresarial. Não é possível medir o volume de venda desses contratos, mas é pequeno.”
Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) os valores para cobrir os prejuízos não devem sair do bolso dos comerciantes mas do poder público, que posteriormente deverá identificar os vândalos para cobrar a fatura, inclusive com penhora de bens.
Segundo o presidente da entidade em Minas, Luis Cláudio Chaves, a OAB entrará com pedido para que a União edite medida provisória e o governo do estado, por decreto, ressarça vítimas por medida administrativa, já que o caminho judicial pode levar anos. Luis Cláudio explica que os comerciantes são protegidos pela Lei Geral da Copa e pelo estado de direito à segurança. A lei garante ressarcimento a qualquer prejuízo no perímetro do evento. Já o estado é o responsável pela segurança pública.
Os prejuízos devem ser comprovados com filmagens, ocorrências policiais, notas fiscais, processo que contará com a assessoria da entidade. “Os familiares das vítimas também podem entrar com ações por danos morais.”
Já a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) entrará com pedido de isenção para pagamento do ISS (Imposto sobre Serviços)_e do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias). O período da isenção ainda será definido em acordo com o poder público. Os empresários podem entrar em contato com a OAB pelo telefone (31) 2102-5800 ou pelo e-mail: ouvidoria@oabmg.org.br. Contato com a CDL-BH: (31) 3249-1642.