Jornal Estado de Minas

Uma dor que mostra o rosto: artigo fala sobre a morte de jovem que caiu de viaduto

João Paulo
- Foto: Reprodução/Facebook
Muita gente se apressou em celebrar um movimento sem líder e sem bandeirasOutros tantos falaram em horizontalidade como atributo de uma manifestação que parecia romper criativamente com tudo o que se sabia de políticaNão foram poucos os que sentiram que a revolta brotava de cada um, reunindo o saudável impulso de tentar mudar o mundo e diminuir as injustiças.

Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos, era um jovem brasileiro que veio do interior para estudar e trabalharNão prosseguiu nos estudos, mas labutava todos os dias para ajudar a sustentar a famíliaEle foi às ruas na quarta-feira com dois amigos para melhorar o BrasilNão voltou para casaMorreu ao cair de um viaduto, em meio à troca de violências dos dois lados da trincheiraEstava sozinho.

As duas situações – o individualismo e a solidão – talvez se somem para deixar ardendo nos olhos, como atingidos por gás que fere, a mais triste das perguntas: quem vai chorar a morte de Douglas, além de sua família? Uma vida jovem que se perde daquela maneira deveria parar o mundo, o inútil jogo de futebol a poucos metros, a estupidez que se alastrava à sua voltaSem Douglas, a vida da cidade deveria ter ficado sem sentido.

A política precisa da solidariedadeNão foi por acaso que a fraternidade foi incorporada aos princípios da maior revolução modernaMais que liberdade e igualdade, que são ideias, é a fraternidade que dá o sentido humano da política
A solidariedade que brota de irmãos de causa faz com que a morte de um índio gere justificadas revoltas, que o assassinato no campo fortaleça o laço entre os sem-terraFez com que a perda de um estudante, como ocorreu em 1968, no restaurante carioca Calabouço, tenha mobilizado todo o país.

Em todos esses casos, o sentimento era o mesmo: poderia ser um de nós, um irmão, um filhoÉ este sentimento coletivo que cria identidades políticas capazes de mover o mundo de verdade e de dar sentido às fileiras que marcham de mãos dadas em torno de ideias generosas.

O individualismo anárquico das redes sociais parece gerar um compromisso de outra ordem, mais funcional e operativo, mas menos humano e verdadeiroUma passeata de resultadosTalvez por isso se fale tanto em anônimos e se usem tantas máscaras idiotasA morte não permite disfarcesEla mostra o rostoE o choro da mãe que perdeu um filhoNão existe dor maior.

Em nome de Douglas Henrique, a tarefa agora é reunir forças, aclarar os propósitos e organizar a lutaSem política, a tristeza é senhora.