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Estado de Minas

Avenida Antônio Carlos pode ter debandada de comerciantes após protestos

Com lojas arrasadas durante sucessivos protestos, empresários que trabalham na via já falam em se mudar temendo efeito Copa


postado em 30/06/2013 00:12 / atualizado em 30/06/2013 07:23

Tiago de Holanda


(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Depois das depredações ocorridas durante o protesto do dia 17 em Belo Horizonte, quando houve o primeiro confronto entre manifestantes e policiais na Avenida Antônio Carlos, na Pampulha, comerciantes prejudicados decidiram proteger com tapumes de madeira as fachadas de seus estabelecimentos. No conflito seguinte, no dia 22, vândalos conseguiram romper os bloqueios em muitos locais, voltaram a quebrar vidraças e fazer saques. Em alguns casos, os tapumes foram trocados por telhas metálicas, em uma tentativa desesperada dos lojistas de proteger o patrimônio. Agora, depois da batalha de quarta-feira, há quem já pense em instalar portas de aço. Mas os prejuízos foram tantos que, diante do temor de novas passeatas, inclusive na Copa de 2014, empresários já cogitam até mudar de endereço.


As perdas de nove concessionárias depredadas nas três manifestações totalizam R$ 16 milhões, de acordo com balanço do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG). Para piorar, em algumas delas os seguros contratados não cobrem casos de vandalismo.


Na onda de violência que varreu a Antônio Carlos no último combate, o estabelecimento mais atacado foi a Automark Kia, no número 7.367, quase na esquina com a Avenida Abrahão Caram, onde o embate começou. Criminosos arrancaram os tapumes que protegiam o imóvel e os usaram para fazer uma fogueira. Também arrombaram portas, arrastaram um carro e um caminhão e incendiaram o veículo de carga. A loja foi depredada por mais de duas horas, sem que a ação criminosa fosse coibida. O prejuízo foi calculado em R$ 4 milhões.


Na tarde de sexta-feira, operários montavam na frente do estabelecimento um muro feito de telhas metálicas fixadas em vigas de madeira. Pode ser que a loja não volte a funcionar, segundo a gerente de marketing, comunicação e imprensa, Larissa Lopes. “Ainda não sabemos se vamos reabrir no mesmo local. Será que compensa investir? Não dá para confiar. Afinal, se agora está assim, como será durante a Copa do Mundo?”, questiona. Ela critica a atuação da polícia: “Foi ineficiente e inoperante”.


Diretor da Concessionária Nihon, da Nissan, Eduardo Barreto também cogita transferir a loja. “Ainda não temos perspectiva de fechar, mas isso passa pela cabeça”, afirma. No primeiro conflito entre manifestantes e polícia, vidraças da fachada foram quebradas a pedrada. “Estávamos aqui dentro, com 60 funcionários e alguns clientes. Ficamos ilhados. O medo foi grande”, lembra. Os empregados fizeram um cordão humano e impediram que o local fosse invadido. Os tapumes de madeira erguidos para evitar nova quebradeira foram removidos na segunda-feira por vândalos, que estilhaçaram os vidros restantes, destruíram móveis e equipamentos. O prejuízo foi estimado em R$ 1 milhão.


A Nihon voltou a ser acossada no sábado, mas os arruaceiros não conseguiram vencer as telhas metálicas que substituíram os tapumes. “Tivemos que procurar soluções de segurança melhores. Se precisar pôr uma estrutura mais forte, vamos fazer isso”, diz Barreto. Os comerciantes temem que no próximo ano, durante a Copa, haja ataques ainda mais violentos. “Não sabemos o que vai acontecer. A incerteza é muito grande”, constata. Ele também se queixa da PM. “Vimos que, durante os jogos, o objetivo maior da polícia foi proteger o perímetro da Fifa (no entorno do Mineirão). Se não houver uma definição do governo sobre como lidar com essa situação, se continuar como tem sido, não sei o que faremos”, ressalta.



O drama dos sem-seguro


Para lojistas da Avenida Antônio Carlos que não têm seguro, foi ainda mais doloroso abrir as portas na quinta-feira, depois da onda de vandalismo que arrasou o comércio na via que liga o Centro à Pampulha. Foi o caso da Esmig, loja especializada na venda de escadas, também invadida na quarta-feira, quando a porta de correr metálica foi derrubada. Criminosos roubaram produtos, cinco monitores de computador, duas CPUs e uma quantia em dinheiro. Vândalos também danificaram um carro que estava estacionado no local, pertencente ao gerente, Hélio Campos. “Quebraram as vidraças, amassaram a lataria, acabaram com ele, que era novinho”, descreve. O prejuízo ainda não foi calculado.

Na sexta-feira, operários montavam um painel de madeirite corrediço na entrada do estabelecimento. A ideia é instalar uma porta de aço metálica. “Estamos pensando em fazer seguro. Se continuar havendo protesto depois da Copa das Confederações, vamos avaliar se compensa ficar aqui”, acrescenta.

A Concessionária Forlan, da Ford, também teve grande parte das vidraças da fachada arrasada. Saqueadores roubaram computadores, impressoras, aparelhos de som, televisores e depredaram 10 carros. O prejuízo deve ultrapassar R$ 500 mil, pelas contas do gerente de vendas, Igor Figueiredo. “Além disso, ficamos quatro ou cinco dias fechados. Por dia, perdemos de R$ 50 mil a R$ 100 mil em faturamento”, diz Figueiredo. “Nosso seguro não cobre vandalismo”, acrescenta.

Para ele “a situação já chegou ao limite”, mas o negócio não deve se mudar. “Acreditamos que vai haver uma solução, que o Estado vai dar um jeito e a polícia vai agir como deve”, diz. E na Copa de 2014? “Não pensamos a tão longo prazo assim. Acho que muita coisa vai acontecer no país até lá.”

Desde quinta-feira o policiamento foi reforçado nas áreas onde houve depredações durante as manifestações, segundo a coronel Cláudia Romualdo, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC). As lojas prejudicadas foram visitadas por policiais. “Minha recomendação foi para que fosse levada a eles uma cópia do boletim de ocorrência que fizemos e para que fosse verificado se já levantaram as perdas sofridas. Pedimos que entrassem em contato conosco assim que houvesse esse levantamento, para complementar o documento”, explica. “Isso foi feito também no Centro e na Savassi, onde também houve patrimônio danificado.”


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