É com certeza de mudança que muitos belo-horizontinos não querem abrir mão dos protestos – como o que tomou as dependências da Câmara Municipal desde sábado –, e dizem que das ruas não pretendem sair
Mesmo presenciando e condenando atos de violência e vandalismo, quem protesta acredita que a causa é bem maior e que as respostas que virão serão importantes para todosA empresária Eleusa Silva, de 47 anos, por exemplo, foi aos dois últimos manifestos em Belo Horizonte, acompanhada de 50 vizinhos do prédio onde mora, no Bairro de Lourdes“Fomos todos unidos e caminhamos até o MineirãoNesses dois dias, vi que 99% dos que estão nas ruas são pessoas reivindicando seus direitosSão cobranças justas, como mais saúde e educação para a população”, contaEla avalia que, por enquanto, as respostas que o movimento tem conseguido são apenas palavras“E palavras não compram remédios, nem educadoresPrecisamos da ação nas ruas para cobrar algo concreto”, defende
É o que pensa também o consultor de tecnologia da informação Cristiano Pereira, de 45Ao lado da filha, Maria Vitória, de 10, ele ensina a ela que protestos pacíficos valem a penaDurante todos os atos a que foi em BH, acredita ter visto uma cidade acordar“Temos que continuarNão podemos cair na lábia dos governantesOs políticos, enfim, descobriram que o povo brasileiro existe e não está de brincadeira”, afirmaCristiano acrescenta que pretende ir com a filha a outros atos“É do futuro deles que estamos cuidandoSe houver algum manifesto na cidade na próxima semana, estaremos lá.” Maria Vitória se empolga, mas pondera: “Quebrar as coisas é feioTemos que protestar sem estragar”, ensina
Na visão do historiador Matheus Machado, de 27, que participou de cinco protestos em BH, inclusive o da quarta-feira, quando cerca de 50 mil foram às ruas, a questão é também socialMatheus quis ver de perto aqueles que estavam mais revoltados e enfrentavam a polícia, na Região da Pampulha“É um grupo pequenoVi muito ódioConversei com eles e havia muitas pessoas de baixa renda que estavam com raiva, principalmente, por não conseguirem ir ao campo ver o jogo de futebol, devido ao alto preço dos ingressos.” Ele diz que o povo quer mudanças e que a determinação de ir às ruas em atos como o de quarta-feira comprova isso
Quem já participou de outros manifestos históricos para o país diz estar feliz com o que tem visto nas ruas“Há muito esperávamos por issoÉ o grito do povo”, comemora Jairo Hudson, de 64Ele e o amigo Emílio Mila, de 74, participaram dos atos pela cidade, caminharam da Praça Sete até a Pampulha, e até foram às assembleias embaixo do viaduto de Santa Tereza, no Centro de BH“Participei ativamente na renúncia de Jânio Quadros, em 1961Hoje, os jovens estão mais bem informados e sabem o que queremNão é hora de pararTalvez, seja o momento de esperar pelas ações dos governos, mas sem se acomodarO preços das passagens baixou, a PEC 37 caiu e haverá uma reforma política”, enumera Emílio
Jairo concorda e diz ter encontrado nos manifestos pessoas que foram torturadas na época da ditadura“Pensei que jamais elas teriam coragem de voltar às ruas, mas voltaramNão podemos deixar isso para depois, porque ainda há muito o que conquistar.” É a mesma sensação encontrada em representantes de gerações mais jovensOs namorados Breno Pimenta, de 16, e Jade Trapp, de 15, participaram dos protestos da cidade e dizem ter escutado o Hino Nacional em coro, visto muitos jovens pelas ruas e muita gente reivindicando um Brasil melhorPara Jade, se as pessoas se acomodarem, “nada disso terá valido a pena”.